Somos Todos

Raquel Penaforte escreve a coluna Somos Todos

Clubhouse: Exclusividade, sim, mas com inclusão

Publicado em: Sáb, 20/02/21 - 03h00
Procura por app que depende de convite e é exclusivo para iPhone dispara no Brasil | Foto: Reprodução/Clubhouse

Imagine esta cena comigo: você recebe o convite para um evento exclusivo, em que poucas pessoas têm a chance de participar. Entre os convidados, estão alguns famosos, e você já logo se prepara para todas as trocas, informações e conversas que vai ter a oportunidade de vivenciar na ocasião. 

Eis que chega o dia de fazer parte desse universo e você, de repente, ao se aproximar de grupos de conversa, começa a perceber que as pessoas, até as que reconhece, não falam sua língua. Você se esforça, mas se sente como um estrangeiro. Aos poucos, todo o entusiasmo e empolgação em estar ali parecem ter ido embora, e, repentinamente você sente na pele o significado da palavra “exclusão”.

Com alguns floreios, tentei descrever, mais ou menos, como é a experiência de uma pessoa com deficiência ao ser convidado a participar do novo aplicativo do momento: o Clubhouse. Se você é um internauta minimamente ativo, deve ter lido algo a respeito e, dependendo de seu nível de interação, até ter recebido o convite para se juntar ao seleto número de usuários. 

Trata-se de uma rede social exclusiva para convidados, e, até agora, válida apenas para o sistema iOS, da Apple. Para muitos essa é a primeira barreira de acesso, mas, é justamente essa exclusividade que tem despertado o interesse e a curiosidade das pessoas. 

Mas o ponto que quero destacar aqui é outro: a falta de acessibilidade comunicacional do Clubhouse. Diferente dos outros meios de entretenimento a que estamos acostumados, essa plataforma usa apenas áudio como forma de interação entre os participantes. Ou seja, se você é surdo, está fora, já que a rede social também não suporta a legendas ao vivo. 

Como se não bastasse a falta de acesso para quem não ouve, quem não enxerga ou tem baixa visão pode ter também sua navegabilidade no aplicativo comprometida. O Clubhouse não oferece nem suporta tecnologias de leitores de tela, e, para quem consegue enxergar um pouquinho, a falta de contrastes da interface deixa a leitura quase impossível.

Para quem ficou na dúvida, não, eu não recebi o convite para participar dessa rede. E confesso que só fiquei sabendo dela depois que as páginas e os grupos que tratam de acessibilidade começaram a questioná-la – ou melhor, reclamar e relatar – em relação à falta de inclusão da plataforma. 

Sim, seria muito mais fácil ignorar esse aplicativo e todas as pessoas com algum tipo de deficiência continuarem usando apenas os que oferecem acessibilidade. Mas onde ficaria a inclusão? E o poder de escolha? O direito de querer usar ou não usar essa plataforma? O recado para os desenvolvedores, que hoje, por mim, é só um: melhorem.

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