No portal da Prefeitura de Belo Horizonte tem uma matéria publicada no dia 4 de março de 2020, cujos trechos, entre outros, tratam do seguinte feito: “Belo Horizonte vive o melhor Carnaval da sua história. Chegou ao fim, no último domingo (1º de março), o período oficial do Carnaval de Belo Horizonte 2020. Foram recolhidas 848 toneladas de lixo durante todo o período oficial, de 8 de fevereiro a 1º de março”.

A nota municipal afirma ainda: “Foram 1.111 casos de atendimento de saúde registrados nos Postos Médicos Avançados, UPAs, Centros de Saúde e Samu. Os atendimentos por intoxicação exógena foram 64% dos registros em 2020. Foram mais de 15 mil diárias de banheiros químicos. Cerca de 30 mil diárias de gradis para a proteção de jardins, órgãos públicos e monumentos tombados foram contratadas”.

Também informa a nota oficial: “Foram 347 blocos de rua fazendo cerca de 390 cortejos pela capital. E a folia ainda se espalhou pelas regionais da cidade em oito palcos oficiais da prefeitura, com a apresentação de mais de 70 artistas em 102 horas de programação. O número de eventos privados licenciados, motivados pelo Carnaval, foi de 86. O público total de foliões que curtiram as atrações da festa, entre 8 de fevereiro e 1º de março, foi de 4,45 milhões”.

Está aí a grande comemoração da prefeitura, alardeando os 23 dias de Carnaval na cidade, sem, no entanto, dar qualquer notícia ou divulgar os riscos iminentes aos carnavalescos, em razão do avanço célere da pandemia do coronavírus (Covid-19), que já ameaçava, infectava e matava pessoas em China, Japão, Tailândia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha e depois Itália, afetando também diversos outros países mundo afora, numa velocidade assustadora. Ou seja, o mundo preocupado com a pandemia da grave doença, e a prefeitura comemorando as multidões de foliões nas ruas pulando e dançando Carnaval.

Os decretos que o prefeito assina agora, proibindo a abertura do comércio, obstando o direito de as pessoas circularem pelas ruas e praças e tornando obrigatório o uso de máscaras, deveriam ter vindo antes, por ocasião do Carnaval, pois nessa época já se registravam inúmeros casos de coronavírus pelo mundo, inclusive situações pontuais iniciais da doença no Brasil, conforme advertido pelo Ministério da Saúde.

A crítica que se faz aqui não é no sentido de que se deve ignorar o controle da pandemia. Ao contrário, a crítica é para que haja lógica no comportamento da autoridade pública municipal.

Ora, por ocasião da disseminação mundial do vírus, o Carnaval reunia 4,45 milhões de pessoas nas ruas, segundo dados da própria prefeitura. Nesse período, por exclusivos interesses municipais, não havia decreto nem imposição de condição de isolamento social, não existia determinação de fechamento dos negócios nem se cogitava a proibição da entrada de ônibus com pessoas de outras cidades. Isto é, a prefeitura adota dois pesos e duas medidas.