MODOS DE MACHO

E Deus convidou os cães para uma festa no céu. Cães de todas as partes do recém-criado universo. De todas as classes, cores e tamanhos. Do fiel pulguento que lambe a boca do bêbado do Largo do Glicério ao cãozinho liberal do sr. Adam Smith. Deus mata, mas não discrimina.

Na chegada ao paraíso, uma placa, além do possante alto-falante babélico, avisava em todas as línguas do mundo: nobre cachorrada, favor guardar o fiofó na chapelaria. Por ordem do asséptico todo-poderoso, nenhum cão, por mais asseado que fosse, poderia adentrar o recinto com o seu formiróide. O chapeleiro de Alice cuidava em catalogar os anéis caninos conforme o pedigree, pregas de classe.

Como não iriam precisar de fiofós na celebração com o Senhor, os cães, até mesmo aquele cachorrinho chato e mnemônico do velho Ulysses, acataram a ordem sem maiores choramingas. Partes pudendas guardadas, distribuídas as cortiças para vedar as catingas do eu-profundo-animal, começou, então, a grande farra.

Uma beleza, baile divino... até que um cão selvagem começou a cachorrada. Ao riscar da faca, um revestrel de fazer Deus pequeno, anão e invisível. Como quem tem fiofó tem medo, os cães saíram em desabalada carreira. Naquela agonia toda, a chapelaria veio abaixo. Cada um pegou o fiofó que encontrou ali no chão, o furico possível. O importante era não descer à Terra, o planeta azul como visto lá de cima, desprovido, pois como todo mundo sabe, um oiti aqui faz muita falta. Melhor um fiofó alheio, postiço, contra a vontade, do que viver sem a importantíssima retaguarda.

Moral da fábula, segundo a oralidade popular aqui humildemente resgatada: desde aquele dia, desde aquela bagunça divina no céu, quando um cachorro encontra outro (cachorro), a primeira coisa que faz é cheirar o rabo do semelhante. Uma eterna e paciente busca do próprio fiofó, uma procura que deve durar até o juízo final, século seculorum, amém.

& MODINHAS DE FÊMEA

Salve, salve fofolândia do meu Brasil varonil. Como viver de escrever, ou tentar, pelo menos, é uma desgraceira medonha, uma danação dos seiscentos diabos, coisa de quem atira pedras na lua, peço a devida licença para celebrar com vocês, que garantem o leite das crianças e a carraspana dos adultos, a chegada às livrarias da terceira edição do "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" (editora Record), livro deste cronista que dá título à coluna neste bravo matutino.

Falar em modinhas, já leram os conselhos de sedução, beleza, etiqueta...e, pasmem, até economia doméstica e receitas culinárias de Clarice Lispector? Ela mesma, a genial ucraniana, na viração da escrita, cometia textos do gênero. E quer saber de uma coisa? São geniais estas croniquetas de costumes ainda do tempo pré-queima dos sutiãs das feministas. Clarice consegue fazer de qualquer tema banal uma beleza. O livro que reúne as pérolas se chama "Só para Mulheres" (editora Rocco).

Reparem só em uma dica da autora de "A Hora da Estrela": "Mulher inteligente não é escrava dos caprichos dos costureiros, cabeleireiros ou fabricantes de cosméticos. Andem na moda, claro! Adotem penteados, pinturas, adereços modernos! Mas modernizem a sua mentalidade! Lembrem-se de que o que fica bem a uma Elizabeth Taylor, miúda, frágil, beleza de boneca, ficaria ridículo em Sophia Loren e vice-versa. No entanto, ambas são lindíssimas.»

(*) Xico Sá é colunista da BR Press.