Nos grandes centros urbanos, a preocupação com o que se põe no prato tem sido, cada vez mais, uma constante. Afinal, hoje, folhas, verduras, legumes e frutas não representam, necessariamente, uma condição nutritiva ideal para a população, pois a ação de pesticidas para a produção agrícola em larga escala traz prejuízos à qualidade do alimento consumido, como explica a nutricionista Edith Zulato, integrante do Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região (CRN9).

Se em BH ainda não há nenhum estudo sobre a qualidade dos alimentos comuns à dieta dos brasileiros, o Greenpeace demonstrou em pesquisa divulgada no início deste mês que, em Brasília e São Paulo, 60% deles estão contaminados por resíduos de agrotóxicos – um terço da amostra continha concentrações destes produtos químicos superiores ao que é permitido por lei. A lista de itens contaminados inclui arroz, feijão, banana, mamão, laranja, tomate, café e pimentão.

Como alternativa de consumo, surgem os chamados alimentos agroecológicos. “São produtos que não usam agrotóxicos e repelentes venenosos e, por isso, têm seus componentes nutritivos preservados”, explica Edith.

Exemplos de iniciativas que levam para a cozinha do belo-horizontino alimentos mais saudáveis e frescos têm ganhado espaço. É o caso do Horta à Porta, um programa de delivery de cestas com alimentos típicos das estações do ano. Já a Feira Fresca acontece uma vez por semana, é itinerante e reúne vários produtores locais. Até mesmo um shopping entrou na onda: o Boulevard abriga, hoje, um grande hortifrúti, o BeGreen.

No Centro de Belo horizonte

Entre as iniciativas mencionadas, há um objetivo comum: fortalecer a economia local através de uma produção sustentável focada na produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e pesticidas. Agora, mais uma empreitada se instala na cidade: o Armazém do Campo, loja de alimentos orgânicos e agroecológicos e artesanatos produzidos em áreas de reforma agrária ou assentamentos do Movimento dos Sem Terra (MST).

“O Armazém do Campo será inaugurado neste sábado (25), no centro de BH, entre a rua Augusto de Lima e a avenida do Contorno”, detalha Ester Hoffmann, integrante da direção nacional do movimento. Ela lembra que, a partir das realizações anuais de feiras agrárias, a criação de um espaço físico que vendesse estes alimentos durante todo o ano se tornou uma demanda crescente da própria população. “Além de ser um espaço no centro da cidade onde é possível comprar alimentos limpos de venenos, é também um espaço para apreciar a comida feita na roça, a cultura popular...”, diz Ester, frisando ser o Armazém um lugar de “encontro cultural”.

A luta pela reforma agrária, principal bandeira do MST, “se alia de forma intrínseca à produção de alimentos agroecológicos”, argumenta Ester. “Partimos de uma outra lógica de produção, baseada na cooperação e que dá real função social da terra, que é a produção de alimentos aliada ao cuidado com a natureza”, finaliza.

Saudável e popular

Ester defende que, “assim como a massificação da reforma agrária e de assentamentos nos municípios, o armazém tem o objetivo de popularizar o alimento saudável”. Afinal, “ao invés de ter que buscar o produto de longe, ele pode ser buscado próximo dos centros de comercialização, chegando mais frescos e com custos otimizados”. 

A questão da circulação, aliás, é aspecto também levantado por Edith. “Quando o alimento vem de longe, a forma como é transportado e acondicionado faz com que perca qualidade”, diz ela. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) corroboram com a observação. A pesquisa de 2014 indica que 33% da produção mundial de frutas e hortaliças não chega ao consumidor. Detalhe: 50% desse montante se perde em etapas de manuseio e transporte.

Além disso, “a economia local passa a girar mais”, já que o alimento já não vem de outros Estados do país. Dessa maneira, enfim, “um dos objetivos é estes alimentos acessíveis para a população como um todo”, conclui Ester, mais uma vez em concordância com os postulados de Edith. Para a nutricionista, os benefícios de uma dieta que conta com alimentos agroecológicos começa de uma perspectiva pessoal para alcançar horizontes mais coletivos e até globais.

“Primeiro, temos o ganho com a qualidade do que se come, assim, nosso organismo vai captar mais nutrientes”, avalia. Mas, além da saúde, “a questão da renda será privilegiada, fazendo girar a economia local e regional e, assim, os produtos serão barateados”, elabora, lembrando que com uma maior oferta desses alimentos, os preços se tornarão mais acessíveis, “diferentemente da realidade de hoje, em que poucas pessoas têm condições de ter uma alimentação assim”.

Portanto, para a conselheira do CRN9 e para a dirigente do MST, partindo da premissa de uma alimentação saudável, outras esferas da sociedade também são beneficiadas a partir da ascensão do mercado de produtos agroecológicos e orgânicos. 

Armazém

Evento Inauguração do Armazém do Campo de Belo Horizonte. Programação inclui ato político, sarau, lançamento de cerveja e show com artistas como Di Souza, Pereira da Viola e Bloco Volta Belchior Onde Av. Augusto de Lima, 2136, Barro Preto Quando Neste sábado (25), das 10h30 às 21h, e domingo (26), das 8h às 17h30 Quanto Gratuito

Diferenças

Agroecológico A produção agroecológica não usa venenos, realiza manejo sustentável, valoriza as sementes tradicionais e cultiva alimentos em harmonia com a natureza e a cultura local.

Orgânico A produção também não usa venenos, mas pode integrar cadeia produtiva em larga escala, sem necessariamente comprometimento com a comunidade local.

Onde

Armazém do Campo Loja de alimentos agroecológicos e orgânicos e artesanatos produzidos em regiões de reforma agrária e assentamentos do MST. Onde Rua Augusto de Lima, esquina com Avenida do Contorno. Inauguração Dia 25 (sábado).

BeGreen Farm Produzindo cerca de 50.000 hortaliças, o BeGreen Farm é um complexo dedicado à produção de alimentos sem uso agrotóxicos no piso 2 do Boulevard Shopping. Além de uma fazenda urbana, o complexo abriga a Casa Horta, que vende produtos orgânicos, e a Casa Amora, que prepara pratos naturais. Onde Rua Professor Otaviano Almeida, 44, Santa Efigênia.

Feira Fresca Uma feira itinerante que acontece uma vez por semana, reunindo pequenos produtores locais e consumidores. Informações sobre próximas edições podem ser acessadas no site www.feirafresca.com.br.

Horta à Porta Um delivery de alimentos frescos e livres de agrotóxicos, a Horta à Porta trabalha com agricultores locais, entregando as encomendas para os assinantes de seus planos de atendimento. Mais detalhes podem ser acessados através do site www.hortaaporta.com.br.

Mapa virtual O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) criou um mapa interativo que indica os espaços onde são comercializados alimentos orgânicos em todo Brasil. Na capital mineira, um total de 15 iniciativas foram catalogadas. O mapa pode ser acessado através do site feirasorganicas.org.br.

Restaurantes Além das feiras, restaurantes também passam a oferecer cardápios totalmente orgânicos. É o caso do Espaço Orgânico, primeiro dedicado exclusivamente a esse tipo de alimento. O lugar abriga uma feira de produtos frescos. Onde Rua Jacutinga, 192, Padre Eustáquio.