Música

De Nóbrega para Suassuna

Violinista e multiartista Antônio Nóbrega vem a BH | Foto: woofler fotografia
PUBLICADO EM 30/07/16 - 03h00

A música erudita e a cultura popular brasileira são um amálgama na vida e na obra do pernambucano Antônio Nóbrega. O violinista e multiartista vem a BH na próxima terça-feira (2) trazendo o espetáculo “Um Recital Para Ariano”, que homenageia com romances, poemas, martelos agalopados e toques instrumentais o escritor e amigo de Antônio, Ariano Suassuna (1927-2014). O show integra a programação que celebra os cinco anos do Sesc Palladium. 

Violinista de formação clássica, em 1970 Nóbrega foi convidado por Suassuna a fazer parte do Quinteto Armorial (grupo instrumental que uniu a música erudita ao cancioneiro popular nordestino), movimento no qual passou a ter contato com elementos da cultura brasileira. “A partir desse momento, foi na música popular que me realizei. Abracei o universo da dança e do teatro e reuni essas facetas na criação dos espetáculos. Já estou na casa dos mais de 20”, diz o artista, que passou a incorporar essas linguagens em sua expressão “por fascínio e uma vontade de assimilar o gestual popular”. Segundo Nóbrega, a dança, sobretudo, seduziu-o. “Mas me senti confortável com a sedução. Coloquei todas essas informações em um caçuá e desde então as carrego comigo”. 
 
Para ele, especialista na fusão de referências, é essa mistura que falta também ao imaginário cultural brasileiro. “Assim como temos sotaques distintos, há uma grande lacuna social. Existe o Brasil dos ricos e o dos pobres. Mas, do ponto de vista cultural há uma hegemonia. Todo o país é dominado por uma cultura vigente completamente subserviente à pressão do Ocidente. A mesma música que se escuta na laje é ouvida no churrasco na fazenda”, diz. “O que nos falta é o Brasil da síntese. Um que consiga trazer à tona as rodas de samba, o maracatu e os faça conviver com a orquestra sinfônica, que traz a música europeia. Nós temos valores que não podem emergir por causa da pressão da competitividade, do mercado”, acredita.
 
A cara do Brasil
Em um de seus espetáculos mais célebres, “Brincante” (1992), as aventuras do carroceiro andante, o herói picaresco Tonheta, são narradas pelo Mestre João Sidurino e sua parceira Rosalina de Jesus. “O João Sidurino é uma referência ao jagunço de ‘Grande Sertão: Veredas’, citado como ‘aquele que alegra a gente’”, conta.
 
Não por acaso, a sequência de “Brincante” chama-se “Segundas Estórias” (1994). “Guimarães Rosa ouviu o matuto e o recriou metafisicamente. Tem um texto denso que é a cara do Brasil. Se você assiste à Rede Globo hoje, parece que o país está em vigília. O que é exibido ali poderia estar passando em qualquer lugar”, acredita Nóbrega. “Precisamos nos voltar a nós mesmos para encontrarmos o universal”, diz. “Brincante” também denomina um filme sobre a obra de Nóbrega (e estrelado pelo artista) realizado em 2014 por Walter Carvalho.
 
Além do recital, Nóbrega está em cartaz com o ciclo de atividades “Do Semba ao Samba”, que reúne aulas-espetáculo, música, poesia e ensaios abertos destinados a destrinchar a história e a diversidade do estilo musical que está comemorando seu centenário. Depois disso, o artista deve se recolher “a uma tarefa mais reservada que é a de escrever um livro”. 
 
Um Recital Para Ariano
Com Antônio Nóbrega
Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1.046, centro, 3214-5350). Terça-feira (2), às 21h. R$ 40 (plateia 1, inteira), R$ 30 (plateia 2, inteira) e R$ 20 (plateia 3, inteira)