Os para-atletas que referendaram a hegemonia brasileira nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara são a primeira delegação do país a vencer longe de casa uma competição multidesportiva e um exemplo de superação que pode ser ampliada graças ao potencial ilimitado do design.

Com um nome que não poderia soar mais mineiro, o Instituto Noisinho da Silva, fundado há oito anos em BH, já desenvolveu dois produtos de design inclusivo que conquistaram prêmios, alcançaram reconhecimento internacional e acabam de chegar ao mercado.

No contexto do decreto nº 3.956, que há dez anos garantiu a inclusão de crianças com necessidades especiais na escola regular, a equipe do instituto criou uma carteira adequada para recebê-las.

Exemplo de design universal bem aplicado, a Carteira Escolar Inclusiva é feita para crianças com altura entre 0,96 m e 1,75 m. Tem tampo e assento reguláveis, clipe para segurar o papel e apoio para fixar os pés em caso de espasmos, dentre outras boas sacadas. "Serve para a sala de aula inteira. É uma oportunidade igualitária para o aluno cadeirante, com escoliose ou que quebrou a perna", exemplifica a designer Erika Foureaux, 37, diretora do Noisinho da Silva.

O outro produto é a Ciranda, cadeira para ajudar a retificar a postura de crianças entre 0 e 6 anos com paralisia que é mais que um aparelho ortopédico. "Possibilita que elas sentem no chão e explorem o mundo de um ângulo diferente daquele visto da cadeira de rodas, do colo. E quanto mais diversas as vivências, melhor o desenvolvimento cognitivo", explica a designer.

Lúdico
Uma marca dos produtos da Noisinho da Silva é o visual colorido e lúdico, que facilita a integração das crianças na escola e em outros ambientes. Vem daí o nome Ciranda, vencedor do Prêmio Idea/Brasil e único projeto brasileiro, ao lado da carteira, apresentado no Include, conferência na Inglaterra que é considerada o principal evento de design inclusivo na atualidade.

Seguindo o mesmo caminho do Noisinho da Silva, formandos de engenharia de produção mecânica do Instituto Mauá, de São Caetano do Sul (SP), apresentaram em outubro um projeto de gôndolas acessíveis. Inspirado em uma roda-gigante, o mecanismo consiste em prateleiras giratórias acionadas eletricamente para trazer os produtos ao alcance das mãos de cadeirantes e consumidores com nanismo e baixa estatura.

Uso doméstico
"Os grandes supermercados são dos espaços mais bem adaptados, com vagas e caixas exclusivos, rampas, corredores espaçosos. Faltava solucionar o acesso às mercadorias", justifica Felipe de Araujo, 23, integrante da equipe responsável pelo projeto, que já chama a atenção de grandes redes.

Idealizado para espaços públicos, tem também potencial uso doméstico, como solução segura para prateleiras na altura do teto. E as previsões são promissoras. "Custo não deve ser problema, pois os componentes são fabricados no país", garante.

Feito em BH
Causa pessoal
Erika Foureaux trocou a carreira de representante de uma marca francesa de mobiliário infantil pela direção do Instituto Noisinho da Silva ao se deparar com o fato de que os produtos que vendia não eram adequados para sua filha Sofia, 16, que tem paralisia motora
Inclusão social
O instituto realiza oficinas de construção de cadeiras Ciranda de baixo custo, que já beneficiaram mais de 2.000 pessoas, e também doou 150 carteiras inclusivas a escolas públicas da capital, região metropolitana e Vale do Jequitinhonha