Depois de 58 dias, a Câmara Municipal de Belo Horizonte voltou a realizar uma sessão plenária. Com dois projetos em pauta, um retirado inicialmente e o outro, que criava o dia do espírita na cidade, tirado depois de muita discussão, vereadores usaram a pandemia do novo coronavírus para ataques políticos e pessoais no Legislativo. O artigo de explicação pessoal foi usado três vezes para os parlamentares se defenderem de ataques. 

Dos 41 vereadores da capital, 17 deles estiveram presentes na sede do Legislativo da capital, contrariando a recomendação da Casa para que a participação fosse remota. Apesar de quase metade dos políticos no plenário, o espaço respeitou as medidas de distanciamento social.

Um dos primeiros a usarem a palavra, Reinaldo Gomes (MDB), que estava em plenário, sugeriu que o coronavírus foi criado em um laboratório chinês que, "de tempos em tempos, de cinco em cinco, ou dez em dez anos, aparece um vírus para que a economia e a inflação mundial rasteje aos pés daqueles que têm pretensão de tomar o poderio do mundo". Logo depois, Preto (DEM), também de forma presencial, criticou o fato de alguns estabelecimentos funcionarem na cidade e outros não. "Não podemos fazer o que estão fazendo com os comerciantes. Belo Horizonte vai virar Venezuela ou Bolívia", afirmou.

Preto também deu o pontapé inicial nos ataques pessoais. O parlamentar criticou o líder de governo Léo Burguês (PSL) por usar o cargo para se promover e ganhar vantagem. "Isso é covardia. Não se faz, é questão de caráter", disparou.

Bella Gonçalves (PSOL), de forma remota, criticou os parlamentares presentes e afirmou que "eles não deveriam estar ali", em referência ao plenário. Arnaldo Godoy (PT) e Gilson Reis (PCdoB), ambos de forma remota, falaram sobre a liminar que impediu o retorno das atividades legislativas na última semana e afirmaram que foi uma tentativa de resguardar os servidores da Casa. Jair Di Gregório (PSD), no plenário, foi o primeiro a levantar o tema de forma crítica e disse que se fosse de esquerda, teria vergonha de ter Reis na mesma ideologia. "Agora ter que ouvir a dona Bella que tem vereador que não deveriam estar, ela não pode falar por nós. Quem é ela para falar isso conosco? A esquerda está orquestrada para derrubar todas as Câmaras desse país. Tenho vergonha dessa esquerda. Deveriam ser de Marte porque ficariam a uma distância muito grande de mim", rebateu.

O vereador Fernando Borja (Avante) endossou as críticas à esquerda na Casa. Irlan Melo (PL) foi mais contundente e disse que os parlamentares usaram de "falácias, censura e Lei da Mordaça" ao impedirem o retorno da Câmara. Gabriel Azevedo (Patriota), chegou a repreender a forma com a que o advogado dos parlamentares atuou no processo. 

Durante a sessão, quando os ânimos começaram a se exaltar, a presidente Nely Aquino (Podemos) chegou a pedir "inteligência e bom senso" dos colegas para o novo sistema remoto utilizado, mas alfinetou alguns vereadores. "Sei que isso falta para muita gente. Às vezes pedir (inteligência) é demais, mas peço bom senso", solicitou. 

Ao usar a fala, Pedro Patrus (PT) considerou como desrespeitosa a atitude de colegas que levantaram as acusações de falácias na ação judicial. 

As explicações pessoais, conhecidas como direito de resposta na Casa, iniciaram com a vereadora Bella Gonçalves que rebateu a fala de Jair Di Gregório. O vereador também usou a resposta contra a parlamentar e disse que a esquerda presta um "desserviço à população e que nada do que eles apresentam é aproveitado".  Já Gilson Reis usou a explicação pessoal para rebater Di Gregório e Gabriel Azevedo. "É falta de ética da sua parte tratar um advogado como o senhor tratou hoje. O senhor foi o primeiro contaminado. Contaminou outros vereadores e poderia levar outras pessoas a óbito", afirmou Reis.

Ao tentar colocar panos quentes, Ronaldo Batista (PSC) declarou que mesmo com a pandemia, tudo continuava da mesma forma na Câmara Municipal. "Eu como cidadão pouco me importo sobre o que o vereador pensa ou deixou de pensar, não faz eu viver pior ou melhor. A pergunta é 'o que você tem feito por mim'. Quando a gente sai pra pedir voto, é isso que a gente ouve. Pega ideologia para discutir na Câmara, pensei que a gente ia discutir o que ia interessar as pessoas", amenizou.

Por fim, o primeiro encontro depois de quase dois meses terminou em discussão religiosa sobre a importância ou não de se votar a criação do Dia do Espírita na cidade.