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Crivella admite não ter sido homenageado em Jerusalém

Prefeitura de Jerusalém também afirmou não ter registros do tributo quando consultada pela reportagem

Por Folha Press
Publicado em 07 de junho de 2019 | 21:09
 
 

A assessoria do prefeito Marcelo Crivella admitiu nesta sexta-feira (7) que ele não recebeu uma homenagem da cidade de Jerusalém que constava em seu currículo.

De acordo com seu site pessoal, Crivella havia recebido, em 1999, "a chave da cidade de Jerusalém (Israel)", mas tanto o governo israelense quanto a Prefeitura de Jerusalém afirmaram não ter registros do tributo quando consultados pela reportagem

A assessoria do prefeito admitiu o erro e afirmou por email que a condecoração foi dada pelo ministério do Turismo israelense para a Igreja Universal do Reino de Deus, não para Crivella. O prefeito, que era bispo da igreja, teria representado a instituição.

Um funcionário do governo israelense, porém, afirmou não conhecer sequer a existência de um prêmio chamado "chave da cidade de Jerusalém".

A reportagem solicitou à assessoria de Crivella registros da homenagem e também tentou confirmar a informação com o Ministério do Turismo israelense, mas não teve respostas até a conclusão desta edição.

Depois que reportagem foi publicada no site da Folha de S.Paulo, nesta sexta, as referências ao prêmio foram retiradas do site pessoal de Crivella.

A concessão de uma chave, comum principalmente na América do Norte, é uma homenagem dos municípios a cidadãos ilustres. No Brasil, uma homenagem similar é a de cidadão honorário.
Esta não é a primeira informação errada do currículo do prefeito do Rio. Em 2016, a Agência Lupa revelou que ele não tinha feito mestrado na Universidade de Pretória, na África do Sul, como também constava em seu site. Na época, Crivella admitiu o erro e disse que havia apenas revalidado na universidade sul-africana seu diploma de graduação em engenharia obtido no Brasil.

Em maio, o currículo do governador do Rio, Wilson Witzel, também foi contestado. O documento apontava que ele teria feito parte de seu doutorado na Universidade Harvard, o que nunca aconteceu.
Algumas denominações evangélicas, como a Igreja Universal do Reino de Deus, têm uma ligação próxima com Israel. O motivo é em parte religioso: segundo a interpretação que esses grupos fazem da Bíblia, os judeus são os herdeiros legítimos do território onde fica Israel.

Os evangélicos também reconhecem Jerusalém como capital do país e pressionam o governo brasileiro a fazer o mesmo. A ONU, assim como a maioria da comunidade internacional, considera ilegítima a ocupação pelo país da parte oriental da cidade, que também é reivindicada pela Autoridade Palestina.

O próprio Crivella costuma viajar para Israel e escolheu o país como destino para descansar logo após a vitória nas eleições de 2016. Na ocasião, ele se encontrou com o prefeito de Jerusalém, Nir Bakat.
Quando visitou o Brasil em dezembro, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, também saudou os evangélicos e disse que os israelenses não têm "no mundo amigos melhores". "E a comunidade evangélica não tem amigo melhor do que o Estado de Israel. Vocês são nossos irmãos e irmãs e nós protegemos os direitos dos cristãos", disse.