O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez pronunciamento nesta sexta-feira (22) ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após debandada em sua pasta. O ministro disse que "em nenhum momento pediu demissão".
Paulo Guedes afirmou também que é natural que os seus secretários tenham saído após discussão sobre o teto de gastos.
"Inclusive, os nossos secretários que pediram para sair, é natural. O jovem é secretário do Tesouro, está tomando conta lá do Tesouro, o outro é secretário da Fazenda, tomando conta da Fazenda, eles querem que [o auxílio mensal] fique no R$ 300, que fique dentro do teto. A ala política, naturalmente, olhando para fragilidades dos mais vulneráveis, diz 'olha, nós precisamos gastar um pouco mais'. Tem que haver uma linha de equilíbrio aí", disse o ministro.
Guedes continuou a justificar a saída dos quatro secretários da sua pasta após articulações da ala política do governo do presidente Jair Bolsonaro para driblar o teto de gastos.
"Como não há uma fonte permanente, o governo não podia ficar parado. Vai acabar o auxílio emergencial. A solução tecnicamente correta [reforma do IR] não avançou, vamos ter que gastar um pouco mais.
Os nossos secretários que pediram para sair, é natural, queriam que ficasse nos R$ 300".
O ministro ainda assumiu que houve falta de organização na política fiscal.
"Entrou na PEC dos Precatórios esses R$ 400, ninguém vai questionar isso. Nota 10 do ponto de vista técnico de ajuste, mas nota 5 na política. Porém desorganiza a economia, fura o teto. Essa era a grande confusão que estava tendo. O colapso de comunicação foi nosso, do lado de cá, e de uma certa falta de boa vontade conosco", disse Guedes.
Bolsonaro mostra apoio
O presidente Bolsonaro foi ao gabinete de Guedes acompanhado da ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, que lidera a articulação política do governo. A visita foi vista como um aceno à Guedes, para evitar um eventual desembarque conflituoso do ministro, que assumiu o cargo na posse presidencial, em 1º de janeiro de 2019.
No entanto, além do descrédito do mercado, Paulo Guedes não tem apoio da ala política do governo, que ganhou queda de braço travada nas últimas semanas com a equipe econômica. Essa ala, dominada pelo Centrão, defende a divisão do Ministério da Economia em dois: o do Planejamento e o da Fazenda, como era antes do governo Bolsonaro.
Manobras contra teto de gastos culminaram em debandada.
Com o aval de Bolsonaro, o governo propôs uma manobra que altera a fórmula de cálculo para o teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas públicas federais.
A medida deve abrir um espaço no Orçamento de 2022 de mais de R$ 80 bilhões. Com isso, o governo Bolsonaro espera pagar o Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, de R$ 400, e um auxílio combustível para caminhoneiros.
Essa manobra resultou, na noite desta quinta-feira (21), em uma debandada na equipe de Guedes. Quatro secretários da equipe econômica pediram demissão por discordarem das decisões.
O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediram demissão, junto com a secretária especial adjunta do Tesouro, Gildenora Dantas, e o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araújo.
A gota d´água teria sido o silêncio do ministro da Economia, Paulo Guedes, após Bolsonaro prometer um auxílio para caminhoneiros contra o aumento do diesel, e à mudança no teto de gastos, que ampliaram o espaço do teto para R$ 83,6 bilhões.
O presidente deu declaração em meio ao retorno de ameaças de greve de caminhoneiros em razão da alta dos combustíveis. Ele anunciou que o governo vai oferecer uma ajuda de R$ 400 a cerca de 750 mil caminhoneiros autônomos para compensar o aumento do preço do diesel, sem informar de onde vai tirar os recursos nem a partir de quando o benefício será pago.
As manobras para furar o teto foram aprovadas dentro da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, aprovada na noite de quinta pela comissão especial da Câmara. O texto agora segue para o plenário.
A ideia original da PEC era jogar R$ 50 bilhões em precatórios para frente, mas o texto aprovado ontem garante um espaço ainda maior, de R$ 83 bilhões para bancar um “pacote de bondades” que ajude a reeleição de Bolsonaro.
A proposta de furar o teto para bancar o programa social repercutiu negativamente no mercado, elevando os temores de piora do quadro fiscal e de descontrole dos gastos públicos para financiar medidas vistas como populistas.
O mercado já reagia negativamente a essas notícias na quinta-feira, fazendo com que a bolsa brasileira ficasse no topo da lista de piores bolsas do mundo no ano, com perdas que já chegam a R$ 284 bilhões.
Colnago é o novo secretário de Orçamento
Também nesta sexta-feira, o economista Esteves Colnago aceitou assumir o cargo de Secretário de Orçamento do Ministério da Economia. Ele é o atual chefe de relações institucionais da pasta. Colnago vai escolher o secretário do Tesouro. O nome ainda está em discussão.
Colnago era apontado desde quinta-feira (21) como o sucessor natural de Bruno Funchal. Ele já vinha sendo o principal interlocutor da Economia com o Congresso Nacional, o que é visto como um grande ativo pela equipe econômica.
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