O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, criticou as sanções unilaterais impostas por países do Ocidente à Rússia em função dos ataques à Ucrânia. 

"O Brasil não está de acordo com a aplicação de sanções unilaterais e seletivas. Essas medidas, além de ilegais perante o direito internacional, preservam concretamente os interesses urgentes de alguns países, como o fornecimento de petróleo e gás a nações europeias", afirmou França.

O chanceler brasileiro também defendeu o presidente Jair Bolsonaro (PL) por ter expressado solidariedade à Rússia, em encontro com Vladimir Putin, oito dias antes do início da invasão à Ucrânia.

França deu as declarações nesta quinta-feira (24), em sessão do Senado destinada a discutir a crise no Leste Europeu. 

Questionado sobre a viagem de Bolsonaro a Moscou já com a escalada de ameaças de Putin contra a Ucrânia, França disse que a prática da diplomacia brasileira é "promover a paz". 

Ele acrescentou que a visita havia sido muito planejada e que "estavam dadas as condições" para que ela fosse realizada, em particular após a visita anterior de ministros brasileiros a Moscou.

O ministro disse ainda que conversou com seu homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, e que este teria transmitido uma noção "tranquilizadora do cenário", indicando que não havia risco de conflito iminente. 

França ainda rebateu as críticas ao presidente, em particular feitas pelos Estados Unidos. 

"Não julgamos adequado que qualquer país possa fazer uma interpretação das declarações do nosso chefe de Estado", afirmou. 

"Entendo que a ideia de confiabilidade, de solidariedade, como o presidente falou, tem o sentido de solo, firme, confiável, [mostra] o Brasil como um parceiro confiável da Rússia dentro dos princípios que nós respeitamos", completou.

Ministro diz que tenta reunião com representantes dos EUA

França acrescentou que está tentando marcar uma reunião com integrantes do governo americano para discutir a possibilidade de reduzir as sanções que impactam na comercialização de fertilizantes – essenciais para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

Sem mencionar medidas específicas, o ministro afirmou que as penalizações constituem uma perigosa ameaça ao sistema de comércio internacional, o que pode ter impacto na economia de todo o mundo. "A aplicação dessas sanções seletivas por parte de certos países praticamente inviabiliza, no curto prazo, a realização de pagamentos em operações de exportação e importação com a Rússia."

O chanceler também criticou ações que visam expulsar Moscou de órgãos internacionais. "O Brasil tem sido claramente contrário a essas iniciativas, em consonância com nossa posição tradicional em favor do multilateralismo e do direito internacional, que deve incluir todas as nações com base no princípio da igualdade soberana dos países", argumentou.

O governo federal defende, segundo o chanceler, que o foro adequado para tratar de um acordo de paz seja a Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, a postura do Itamaraty estaria sendo condizente com o histórico do Brasil perante conflitos internacionais.

"O Brasil defende posições que correspondem à nossa tradição diplomática: cessar-fogo imediato; proteção de civis e de infraestrutura civil; acesso desimpedido a serviços humanitários; e a pronta solução política da questão, baseada nos Acordos de Minsk, aceitos em 2015 por ambas as partes hoje em conflito", afirmou.

O TEMPO agora está em Brasília. Acesse a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes.