O governo federal estima captar cerca de US$ 2 bilhões de dólares, cerca de R$ 10 bilhões, com a emissão de “títulos verdes” na Bolsa de Valores de Nova York. É a primeira vez que o Brasil lança papeis verdes no mercado internacional.  

O objetivo é que os valores arrecadados com esses títulos sejam utilizados para o financiamento de projetos sustentáveis no país. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o valor ainda não está definido, uma vez que quem tem a palavra final sobre “quando” isso vai ocorrer e o “quanto” em títulos serão emitidos é papel do Tesouro Nacional. 

Fernando Haddad está em Nova York, acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participa da abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).  

O petista e auxiliares têm se reunido com empresários, investidores e com autoridades do governo norte-americano. Nessas agendas, o governo brasileiro tem buscado atrair o interesse do investimento estrangeiro para projetos sustentáveis. Em entrevista nesta segunda (18), o ministro da Fazenda disse ter concluído um “road show” em 36 eventos diferenciados, com mais de 60 fundos de investimentos.  

“A receptividade (dos investidores) é a melhor possível, sobretudo porque esse recurso fica carimbado para financiar projetos sustentáveis, com taxas de juros mais convidativas do que nós temos hoje”, informou o ministro. 

Embora o governo estime R$ 10 bilhões com os papeis na Bolsa de Nova York, os valores podem ser ainda maiores. Segundo Haddad esse é o “começo de um processo”. 

“Estamos em período de silêncio agora. Portanto, o Tesouro vai julgar a conveniência do quanto [valor] e do quando colocar esses títulos. Mas eu queria dizer que esse recurso é um recurso inicial, muito pequeno, porque o Brasil tem condição de captar muitos recursos no exterior, uma vez que temos a melhor matriz energética do mundo. É uma das mais limpas do mundo. Temos condição de dobrar a produção de energia limpa num prazo inferior a 10 anos, sendo que especialistas dizem que isso pode ser feito em 5 anos”, explicou o ministro. 

Os títulos verdes para atrair financiamento internacional incluiu prevenção e controle de poluição e emissão de gases de efeito estufa; fomento a iniciativas ligadas à energia renovável, transporte limpo, e gestão sustentável de recursos naturais; bem como prevenção e controle de poluição, gestão de resíduos sólidos, entre outros.  

A emissão dos títulos verdes será uma atribuição do próprio Ministério da Fazenda, mais especificamente do Comitê de Finanças Sustentáveis Soberanas (CFSS). 

 

Neoindustrialização 

O ministro da Fazenda destacou que a produção de energia limpa pode ser exportada na forma de hidrogênio verde, mas que a prioridade será a de utilizá-la internamente, ajudando a indústria a agregar valor às matérias-primas e, em especial, para a neoindustrialização do país. 

“Você pode exportar no produto manufaturado. Daí a razão pela qual a energia verde pode se complementar com a questão da neoindustrialização do país”, disse. 

“Estamos começando a discutir a questão da industrialização do Brasil, a partir dessa matriz. Mas entendemos que não precisamos nos resignar à condição de exportadores de energia limpa, que é o que o mundo gostaria que fizéssemos. O Brasil vai produzir e exportar energia limpa, mas nós entendemos que uma boa parte dessa energia limpa tem que ser consumida no Brasil para manufaturar produtos verdes. Esse é o nosso objetivo último”, acrescentou.

'Janela de Oportunidade'

Durante o painel “Brasil em foco: mais verde e comprometido com o desenvolvimento sustentável” em Nova York (EUA), organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), Haddad reiterou o compromisso do Brasil com a transição energética e que é possível casar sustentabilidade com desenvolvimento sustentável. 

"Não existe divórcio entre sustentabilidade e desenvolvimento. Isso é coisa do passado, dos equívocos do passado. O futuro é do desenvolvimento sustentável e o Brasil pode ter um papel proeminente nisso. Sabendo lidar com nossas parcerias, oxalá o acordo Mercosul-União Europeia seja aprovado no segundo semestre, mas também com os investidores americanos", disse o ministro. 

Haddad ressaltou que o país tem a oportunidade de mostrar ao mercado internacional que está aberto "aos negócios verdes". Em seguida, fez um alertar ao pontuar que é necessário o Brasil aproveitar a janela de oportunidade, uma vez que ela pode se fechar num prazo de até cinco anos.