Iran Barbosa

'É a economia, estúpido!'

O pragmatismo do eleitor no Brasil e no mundo

Por Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2019 | 03:00
 
 

Quando Bill Clinton concorria à Presidência dos Estados Unidos contra George Bush (pai), não lhe faltavam ideias sobre os mais diversos setores do governo federal que queria criticar. O então governador do pequeno Estado de Arkansas enfrentava um adversário sentado na cadeira de presidente – um verdadeiro Davi contra Golias.

Bush, que tinha 90% de aprovação no início daquele ano, viu seu apoio popular desaparecer em menos de um mês ao ordenar uma invasão ao Iraque. Percebendo a oportunidade, Clinton queria se manifestar contra a Guerra do Golfo, mas foi seu estrategista político, James Carville, que colocou o jovem governador no caminho vitorioso ao apontar o verdadeiro motivo da insatisfação dos estadunidenses: “É a economia, estúpido!”

A verdade é que os norte-americanos nunca foram culturalmente contra guerras e invasões. Ao contrário: os membros do Exército americano são reverenciados. O problema com a Guerra do Golfo era um só: ninguém queria mais essa questão em meio a uma recessão econômica – que estava em seu auge.

No fundo, no fundo, brasileiros, norte-americanos, argentinos e todo mundo querem uma coisa básica de seus governos: que eles funcionem. Não é questão de esquerda, direita etc. A grande maioria das pessoas está preocupada em conseguir uma fonte de renda, pagar suas contas e tentar ser feliz.

Os argentinos tiraram Cristina Kirchner do poder porque, em um país cuja moeda sempre foi igual ao dólar (a famosa “paridade”), a viúva de Nestor Kirchner permitiu que a economia decadente levasse o dólar a quase 20 pesos. Quatro anos depois, Macri caiu por entregar um câmbio de quase 60 pesos por dólar e inflação recorde no país

A crise do euro derrubou quase todos os governantes europeus do poder. A recessão brasileira ajudou a eleger Bolsonaro. O mesmo em toda a América do Sul. Onde sobra crise, falta voto.

Nesse sentido, mesmo com toda a impopularidade midiática de Trump, há um medo real dos democratas quanto à reeleição do presidente norte-americano – que surfa em uma das maiores ondas de crescimento econômico e criação de empregos da história dos Estados Unidos.

No Brasil, enquanto se discute sobre leões e hienas, a aprovação da nova Previdência já traz de volta ao mercado a confiança na retomada do famoso “grau de investimento” da nossa economia. Muitos já apostam que não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”. A retomada do PIB já é uma realidade – e há sinais claros de melhora.

Fugindo de todas as polêmicas principais, Paulo Guedes prepara um pacote bombástico de reforma em cinco pontos, noticiado pelo jornal O TEMPO como: “1) reforma administrativa (para reduzir o número de carreiras e o salário inicial dos servidores e mexer na estabilidade dos novos); 2) PEC emergencial (para cortar gastos obrigatórios e abrir espaço para investimentos); 3) PEC DDD (Desvincular, Desindexar e Desobrigar – tirar as “amarras” – dos gastos do Orçamento); 4) pacto federativo (uma nova divisão dos recursos de Estados e municípios, com repartição dos recursos do pré-sal); e 5) programa de ajuda aos Estados”.

Se tais reformas forem aprovadas, haverá uma expansão absurda da economia brasileira e, com ela, do capital político do clã Bolsonaro. É esperar pra ver o quão pragmático será o cidadão brasileiro se isso acontecer. Afinal, é um ditado nosso que diz que “em time que está ganhando, não se mexe”.