IRAN BARBOSA

O sonegador e o corrupto: palavras diferentes, consequências idênticas

Um país sem corrupção é, antes de tudo, um país sem sonegação

Por Da Redação
Publicado em 10 de abril de 2019 | 03:00
 
 

Só neste ano, até o final do dia 3 de abril, estima-se que mais de R$ 154,4 bilhões tenham sido sonegados em impostos pelos “cidadãos” brasileiros. São espertalhões que acham que estão se dando bem nas costas de um Estado que “já cobra impostos demais”, justificando, portanto, essa prática como um ato de “justiça social”. Não é incomum ver nas redes sociais, vez ou outra, um ignorante escrever “no Brasil, sonegar é um dever!”, para depois sair reclamando da corrupção e de como nosso povo “não aguenta mais”.

Pois bem. Dizem os norte-americanos que na vida há duas coisas das quais não se consegue fugir: da morte e dos impostos. Pois digo aos gringos que, se conhecessem os brasileiros, logo estariam pesquisando uma fórmula para viver para sempre. Lá, o sonegador é visto como deveria ser: uma pessoa tão desonesta quanto um político corrupto.

A visão é correta, afinal, nossos governos funcionam como uma conta de bar: se era para dividir para seis e um não paga, a conta fica mais cara para os cinco que pagarão. Na “vida real”, um amigo espertalhão desses é banido da sua vida, mas, como estamos falando dessa terra lúdica, que os brasileiros chamam de “governo”, então está tudo bem! É só dizer que a pessoa está fazendo um “roubo preventivo”: tirando dinheiro dos cofres públicos para que nenhum político corrupto venha a roubar esse recurso depois.

Essa cultura de sonegação é tão arraigada que há os que pensam na sonegação como uma meritocracia: cada um sonega o que aguentar e, se no final você pagar mais imposto, foi porque não teve competência suficiente para saquear as contas públicas. Todavia, isso é uma coisa ambígua no Brasil: num país onde qualquer frase colocada vira motivo para execração pública, eu nunca testemunhei uma pessoa ser exposta publicamente por se assumir sonegador. Seja pela esquerda ou pela direita.

Já posso até ver os comentários na coluna buscando relativizar o tema. Dirão: “Mas o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo!” (e uma das maiores economias informais também); ou “empresário que não sonega não sobrevive!” (embora tenhamos um dos menores impostos sobre dividendos do planeta). A esses, um aviso: sonegar é crime. Incitar a sonegação também.

O pesquisador Gabriel Casnati, da área de Justiça Fiscal da Internacional de Serviços Públicos (ISP), apontou que a sonegação custa sete vezes mais ao país do que a corrupção; o rombo pode ter ultrapassado mais de R$ 500 bilhões em 2017 apenas. Isso foi uma vez e meia tudo o que Minas Gerais produziu naquele ano. Eis o tamanho do rombo.

A sonegação é algo que está no nosso alcance para acabar. Só basta querer. Mudar essa cultura é essencial para um país com melhor justiça tributária e, espantosamente, menores impostos. Quanto mais pessoas participarem da “vaquinha”, mais barato a conta fica para todos e mais simples os impostos podem se tornar.

Não há diferença entre o ladrão que rouba o dinheiro antes de ele ser colocado no carro-forte e o ladrão que rouba o mesmo dinheiro após ele estar dentro do banco. Só porque a cultura brasileira separou os dois atos com duas palavras diferentes – sonegação e corrupção – não quer dizer que ambos não sejam iguais.

Você não pode postar foto no Facebook pedindo o fim da corrupção se você sonega seus impostos, não importa a mentira que invente para si mesmo. Um país sem corrupção é, antes de tudo, um país sem sonegação.