O movimento pela saída de Ricardo Salles do comando do Ministério do Meio Ambiente (MMA) também conta com o apoio do setor produtivo mineiro e tem representante da área do Estado, com livre acesso pelo Palácio do Planalto, dizendo que por conta da crescente pressão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não está mais tão convincente quando fala que o ministro vai ficar.
As fontes levam em consideração ainda que a insatisfação está generalizada: equipe econômica do governo federal, setor produtivo, ambientalistas, servidores da pasta, Judiciário e, principalmente, do centrão. Esse foi o mesmo cenário que resultou na queda de Abraham Weintraub do Ministério da Educação e, por mais que contasse com a simpatia de Bolsonaro, não conseguiu resistir no cargo.
Um agravante na situação de Salles é que ele tem causado prejuízo financeiro e atrapalhado negócios internacionais, principalmente com países europeus. E parlamentares ruralistas que apoiavam ele, agora estão começando a declinar dessa parceria por conta da pressão de empresários, uma vez que ele não tem se posicionado sobre duas questões importantes: posicionamento sobre desmatamento e a truculência com setores ambientais.
Por mais que, na prática, ele tenha ajudado o setor com flexibilização de legislações ambientais, tem ficado nas mãos da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, apagar incêndios criados por falta de diálogo. “É uma falta de organização muito grande dentro da pasta. Ele cria novas legislações, mas não se tem uma segurança jurídica. Ele agora está atrapalhando no andamento do país”, diz um deputado ruralista.
Vaidade
O excesso de vaidade dele, inclusive, é o que mais irrita parlamentares. Um dos episódios mais recentes foi no início do mês, durante solenidade na Cidade Administrativa, em Minas Gerais. O chefe do Meio Ambiente se irritou e foi embora do local ao saber que a coletiva de imprensa era online e não presencial. Ele somente retornou após insistência do governador Romeu Zema (Novo) e de deputados federais.
A avaliação ainda é de Bolsonaro tem recebido hoje cada vez mais pressão, que agora começa a vir da bancada ruralista no Congresso, o que pode resultar na troca do ministro. Mas, pelo fato de ele ser muito próximo do presidente, a saída seria “honrosa”, assim como ocorreu com Weintraub. “Ele é inteligente. Isso ninguém pode negar. Mas, hoje, mais atrapalha do que ajuda”, resumiu um membro do governo.
Fila
Empresários apostam no “centrão” para essa queda se tornar real. E, se isso se concretizar, vai ser mais uma vitória do grupo para esvaziar a área ideológica do governo, já que conseguiram pressionar as saídas de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e de Weintraub do MEC. E, depois de Salles, já tem um novo nome na fila: do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Os motivos são os mesmos: falta de articulação com os deputados e antipatia de empresários por atrapalhar a relação do Brasil com outros países. Do grupo ideológico do Planalto, somente Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, é quem não está na mira. “Ela fala coisa com coisa, mas pelo menos não interfere no andamento com Legislativo e empresários”, explica um parlamentar.