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Complicações

Sem apoio do novo presidente do STJ, sem previsão para aprovar TRF-6

Publicado em: Ter, 22/09/20 - 12h44
A nova Corte não está, pelo menos por enquanto, nos planos do novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins | Foto: Emerson Leal / STJ

Vai depender somente da bancada mineira no Congresso Nacional para que a criação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), em Minas Gerais, saia do papel. Essa nova Corte não está, pelo menos por enquanto, nos planos do novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins. A coluna apurou que nenhum movimento de apoio vai ser feito por ele para que a proposta seja aprovada no Senado. 

Apresentado em novembro do ano passado pelo então presidente do STJ, João Otávio de Noronha, o texto foi aprovado na Câmara no final de agosto em meio a muita polêmica. Falta de acordos e até mesmo problemas técnicos durante as sessões marcaram o imbróglio. O principal argumento contrário, inclusive defendido pelo presidente do Legislativo, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi de que seriam criados novos gastos

A bancada mineira e Noronha alegavam que iria se ter uma readequação de Orçamento no STJ com realocação de recursos, contratos, imóveis e cargos. E que, além disso, a nova estrutura a ser instalada na capital mineira "desafogaria" o TRF-1, em Brasília, que é responsável por 13 Estados e o Distrito Federal. Do total de demandas, cerca de 40% se referem a Minas. 

Humberto Martins assumiu a presidência do STJ no final de agosto e, segundo interlocutores, ele não se mostra favorável à ideia porque é “óbvio” que novos gastos seriam criados e não quer se desgastar com o tema. O novo presidente, inclusive, não estaria preocupado com o assunto porque já teria um entendimento no Senado de que a proposição poderia ficar para 2021, após o fim do estado de calamidade pública no país em função da pandemia do coronavírus.

Dessa forma, o TRF-6 somente vai pra frente se os mineiros no Congresso se mobilizarem. Também há um “ciúme” entre as bancadas estaduais no Legislativo. Isso porque, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada em 2013 no Congresso Nacional, liberou a criação de quatro novos TRFs no país. Além de Minas, no Paraná, na Bahia e no Amazonas. Mas, somente o de Belo Horizonte foi apresentado.

Procurado, Humberto Martins disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que na condição de presidente do Conselho da Justiça Federal e do STJ cabe a ele apenas “reafirmar” o “compromisso com uma melhor prestação do serviço jurisdicional à população e uma tutela mais eficiente dos direitos fundamentais” (veja a nota na íntegra abaixo).

O presidente ainda explicou que a proposta de criação do TRF-6 em Minas foi apreciada pelo plenário do colegiado e, em seguida, pelo plenário do STJ, sendo em ambas oportunidades aprovada por unanimidade naqueles colegiados. E que, agora, o tema está sob responsabilidade do Parlamento.

“Essa questão, portanto, agora está sujeita à apreciação do parlamento brasileiro, a quem compete constitucionalmente decidir acerca da necessidade e oportunidade da criação desta nova unidade jurisdicional”, respondeu Martins.

Tramitação conturbada e olho no STF
Outra avaliação feita por interlocutores é de que esse foi um projeto pessoal de Noronha, que não tem o que acrescentar para o novo presidente do STJ.  Na época, a aprovação do texto também foi um “presente” para João Otávio de Noronha.

Isso porque ele tinha tomado decisões favoráveis a Bolsonaro – como de que ele não apresentasse os exames da Covid-19 e havia autorizado prisão domiciliar para Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Essa aproximação de Noronha com o Planalto foi o que fez com que a bancada mineira e o Centrão começassem, em maio, com uma pressão no Legislativo para que a proposição fosse apreciada, contra a vontade do presidente da Câmara e em meio à pandemia da Covid-19.

O nome de Noronha também é ventilado para ocupar cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).Até o final de 2022, Bolsonaro vai poder indicar dois ministros para a Corte.

Celso de Mello completa 75 anos no dia 1º de novembro e vai se aposentar compulsoriamente. Já em 12 de julho de 2022, vai ser a vez de Marco Aurélio Mello. Podem surgir mais vagas se houver alguma morte ou se algum ministro adiantar a aposentadoria.

Cargos e sede
Se o texto for aprovado no Senado e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), caberá a ele nomear todos os novos desembargadores da Corte. A proposição transforma 20 cargos vagos de juiz federal substituto em 18 cargos titulares de juiz de TRF-6. Os salários desses magistrados é de R$ 35.462,22. 

Os juízes do TRF-1 também vão poder pedir transferência para Minas. Ainda pelo texto aprovado, a nova Corte somente pode ser instalada após o decreto de calamidade pública no país. A intenção é que a nova estrutura seja instalada no atual prédio da Justiça Federal em Belo Horizonte, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul.

Efeito cascata
Também tramita na Câmara um texto com o objetivo de instalar a Procuradoria Regional da República da 6ª Região (PRR-6) em Minas. Essa proposta, no entanto, não conta com apoio da bancada mineira no Congresso. Vale ressaltar, inclusive, que esse órgão seria responsável por investigar parlamentares.

Para atender a essa nova estrutura, a proposição prevê a criação de 111 cargos que, segundo o órgão, vão gerar um impacto de R$ 21 milhões ao Orçamento anual do Ministério Público da União (MPU). Dessa quantia, R$ 10,8 milhões seriam destinados para bancar o gasto de pessoal com apenas 18 procuradores regionais. 

Esse valor é maior que os R$ 10,1 milhões previstos para custear a folha de outros 93 servidores – 57 cargos efetivos (39 técnicos e 18 analistas), 18 comissionados e 18 funções de confiança.

Veja na íntegra a nota do presidente do STJ e do Conselho Federal de Justiça, Humberto Martins:

"A proposta de criação de um Tribunal Regional Federal em Minas foi apreciada pelo plenário do Conselho da Justiça Federal (CJF) e, em seguida, pelo plenário do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sendo em ambas oportunidades aprovada por unanimidade naqueles colegiados.
 
Essa questão, portanto, agora está sujeita à apreciação do parlamento brasileiro, a quem compete constitucionalmente decidir acerca da necessidade e oportunidade da criação desta nova unidade jurisdicional.
 
Na condição de presidente do CJF e do STJ, apenas me cabe reafirmar meu compromisso com uma melhor prestação do serviço jurisdicional à população e uma tutela mais eficiente dos direitos fundamentais."
 
Essa reportagem foi atualizada, às 15h27, de terça-feira (21), com a nota de Humberto Martins.

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