Alvos

MPF denuncia Vaccari e mais 26 

Estão na lista, além do tesoureiro do PT, os ex-dirigentes da Petrobras Renato Duque e Pedro Barusco

Por Da Redação
Publicado em 17 de março de 2015 | 03:00
 
 
Coletiva. Em entrevista à imprensa, o procurador Deltan Dallagnol fez o balanço de um ano da Lava Jato GISELE PIMENTA

Curitiba. O Ministério Público Federal (MPF) fez uma nova denúncia decorrente das investigações da nona fase da operação Lava Jato. Ao todo, 27 pessoas foram citadas, entre elas o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e os cinco detidos nesta segunda pela Polícia Federal (PF) na décima etapa das investigações, batizada de “Que País é Esse?” – entre eles o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Também é citado na denúncia o ex-gerente da mesma área e braço-direito de Duque, Pedro Barusco.

A nova denúncia, segundo os promotores, envolve desvios em quatro obras da Petrobras: gasoduto Urucu-Coari, refinarias Araucária e Paulínia e gasoduto Pilar/Ipojuca. Também segundo os promotores, há empresários envolvidos nessa nova denúncia, entre eles executivos da OAS, da Mendes Júnior e da Setal.

O procurador da República que coordena a investigação da Lava Jato, Deltan Martinazzo Dallagnol, afirmou, em coletiva de imprensa, que há “amplas provas” do envolvimento de Vaccari no esquema de corrupção na Petrobras. Segundo Dallagnol, cabia a ele indicar as contas dos diretórios que recebiam os depósitos com recursos oriundos de propina, que depois eram “lavados” em forma de doações eleitorais supostamente legais. “Foram 24 doações ao PT”, afirmou o procurador. O MPF denunciou Vaccari Neto por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. É a primeira acusação formal contra Vaccari e também a primeira contra Renato Duque.

Esquema. De acordo com o procurador, Vaccari tratava do assunto das “doações” em reuniões com Duque e com um outro “colaborador”, o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite. As propinas eram descontadas da Diretoria de Serviços, comandada por Duque. “Vaccari tinha consciência de que esses pagamentos eram feitos com propina”, afirmou Dallagnol, destacando que o acerto dos valores era feito com “regularidade”.

Segundo Dallagnol, Leite afirmou textualmente que se encontrou com Vaccari e que ele teria falado em “doações eleitorais a título de propina devida”. O procurador ressaltou que a doação eleitoral em si não é crime, mas que, no caso, a origem dos valores era escondida e a propina era repassada como doações legais. “Era um esquema sofisticado e complexo para dar uma aparência lícita a recursos ilícitos”, afirmou.

Segundo o procurador, o pagamento era feito algumas vezes em espécie por Duque ou por Barusco. Em delação premiada, Barusco afirmou que o tesoureiro do PT arrecadou “até US$ 200 milhões” para o partido, via Diretoria de Serviços.

Outro lado

Nota. O PT divulgou nota em que a defesa de João Vaccari Neto diz estranhar as datas apresentadas pelos procuradores como prova de sua participação no esquema da Lava Jato.

Cargo. Segundo a nota assinada pelo advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, Vaccari “não ocupava o cargo de tesoureiro do PT no período citado pelos procuradores”.

Repúdio. A nota diz ainda que Vaccari repudia as referências feitas por delatores a seu respeito, pois as mesmas “não correspondem à verdade”.

Processo. No último dia 10, o PT informou a decisão de processar Pedro Barusco pelas acusações feitas contra o partido durante sessão da CPI da Petrobras na Câmara.

Pedido de R$ 10 milhões

Brasília. O vice presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, declarou à força tarefa da Lava Jato que o tesoureiro do PT João Vaccari Neto o procurou “por volta de 2010 e pediu R$ 10 milhões”.

O executivo afirmou que, naquele ano, Vaccari lhe disse que “tinha conhecimento, por meio da área de Serviços, que a Camargo Corrêa estava atrasada no pagamento das propinas”.

Obras de arte
A Polícia Federal (PF) apreendeu 131 obras de arte na residência do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, preso nesta segunda na décima fase da operação Lava Jato. As buscas na casa e em outros dois endereços de Duque, no Rio de Janeiro, foram determinadas pelo juiz federal
Sérgio Moro, que conduz todas as ações da operação Lava Jato. A suspeita é que Duque teria lavado dinheiro de propinas por meio da compra de obras de arte.

CPI
Após a prisão do ex-diretor da Petrobras Renato Duque nesta segunda, a CPI da Petrobras na Câmara quer ouvi-lo na própria carceragem da Polícia Federal, já que presos não podem prestar depoimento na Casa. A participação de Duque na CPI estava prevista para esta quinta-feira. A comissão enviou um ofício para o juiz Sérgio Moro pedindo que Duque seja transferido para a carceragem da PF em Brasília temporariamente para que possa ser ouvido pelos parlamentares.