SEDE DO GOVERNO

Problemas se acumulam há 14 anos na Cidade Administrativa

Obra custou R$ 1,2 bi e levou dois anos e três meses para ficar pronta

Por Leonardo Augusto
Publicado em 16 de maio de 2024 | 20:15
 
 
 
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À primeira vista, uma obra imponente, com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer (1907-2012), erguida às margens da rodovia que liga o principal aeroporto de Minas Gerais a Belo Horizonte. A beleza que salta aos olhos de quem avista os prédios da Cidade Administrativa, sede do governo do Estado, esconde uma série de problemas que se arrastam desde sua inauguração, há 14 anos. 

O episódio mais recente, que levou cerca de 7.000 servidores a suspender o trabalho presencial após uma perícia indicar problemas graves em 54 elevadores em dois dos quatro prédios, não é a primeira falha dos edifícios, que já tiveram janelas que despencam do alto, forros inteiros que desabaram e paredes e piso com problemas e alagamentos.

Além da falta do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiro (AVCB) desde sua inauguração, como mostrou O TEMPOna edição de ontem, o aspecto financeiro é uma dos principais críticas da construção. Alvo de denúncia de desvio de recursos durante as obras, três acordos de leniência já foram firmados entre construtoras responsáveis e o governo do Estado, totalizando R$ 374 milhões. 

Inaugurada em 2010, na gestão do então governador Aécio Neves (PSDB), a Cidade Administrativa foi construída para substituir o Palácio da Liberdade como sede do Poder Executivo. Ao custo de R$ 1,2 bilhão, em valores corrigidos, a edificação custaria hoje o equivalente a quase R$ 3 bilhões. 

Construção. O início das obras aconteceu em dezembro de 2007 e durou dois anos e três meses. A justificativa do governo à época para a construção era economizar com o aluguel de imóveis utilizados por secretarias, autarquias e outros órgãos do governo em Belo Horizonte.

Os problemas, no entanto, já começaram a aparecer logo nos primeiros anos de inauguração. Em 2012, com dois anos de obra, uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas (ALMG) já discutia os primeiros problemas na estrutura. Foram relatadas à época quedas de janelas e trincas em paredes e pisos. Houve ainda inundação de subsolo. Cerca de três anos depois, o teto do saguão do prédio Minas, conforme lembra o secretário de Obras na gestão Fernando Pimentel (2015-2018), Murilo Valadares, também desabou. 

Até então, nenhum dos problemas havia obrigado uma ausência maciça de servidores da Cidade Administrativa. Isso mudou, porém, no dia 10 deste mês, após laudos constatarem danos estruturais nos elevadores dos prédios Minas e Gerais e possível risco de desastres. 

O governo de Minas afirma que nas próximas semanas será assinado um contrato para reparo nos elevadores. A expectativa é que o conserto dos equipamentos deverá terminar somente no fim do ano. “A depender da logística de execução do contrato, bem como da identificação das reais necessidade de intervenções”, justificou o Palácio Tiradentes em nota.

O Executivo mineiro aponta ainda que a situação é decorrente de vícios construtivos na fixação dos pilares de sustentação dos elevadores e de uma série de desvios do projeto original cometidos durante a construção da Cidade Administrativa, em 2010. Com o resultado dos laudos, a Polícia Civil abriu inquérito para investigar as causas dos danos nos elevadores.

‘Projeto mal-executado’, diz vice
 

Desde a inauguração da Cidade Administrativa, em 2010, cinco governadores passaram por lá: os tucanos Aécio Neves e Antonio Anastasia, Alberto Pinto Coelho, do PP, Fernando Pimentel, do PT, e Romeu Zema, do Novo, em seu segundo mandato.

Para o vice-governador, Mateus Simões (Novo), o histórico da edificação da Cidade Administrativa levou à situação atual. “O resultado não poderia ser outro que não o de uma obra fora dos padrões técnicos e de qualidade aceitáveis”, afirma. 

Simões acredita não ser possível dizer se o tempo de duração da obra – que foi concluída em dois anos e três meses – seria o responsável pelo atual cenário da sede do governo do Estado. 

“Não conseguimos afirmar que a velocidade foi o problema, mas, sem dúvida, temos problemas construtivos que, por exemplo, levam a ter de manter a maior parte das janelas fechadas, para evitar a queda de vidros, ou ter de lidar com alagamento das garagens, como já ocorreu”.

Procurado, o PSDB diz desconhecer os acordos de leniência fechados entre o governo e as construtoras responsáveis pela edificação da Cidade Administrativa. “Não conhecemos a base para afirmação de que teria havido desvio de recursos públicos. Mas, se empresas, seja por formação de cartel, ou por outro meio, lesaram o Estado, elas devem, sim, ressarci-lo”, disse a legenda em nota. 

Segundo a sigla, é responsabilidade da “atual gestão arcar com as responsabilidades que lhe cabem e não transferi-las para o passado”. Questionada sobre o que poderia estar causando os problemas nas estruturas, a legenda argumentou que, “se o problema foi na construção, por que as manutenções realizadas nos últimos 14 anos não apontaram tal fato?”.

Outro lado

Governo.Em nota, o governo Zema pontuou que as revisões periódicas (nos elevadores) vinham sendo realizadas; porém, em novembro de 2023, em uma das vistorias, foi detectado que as máquinas de parte dos elevadores estavam soltando um pó.

PT. A reportagem entrou em contato com Fernando Pimentel. Correligionários, porém, indicaram o então secretário de Obras do petista, Murilo Valadares, para comentar a questão. O ex-auxiliar de Pimentel disse que “o governo está falando muito do passado e não resolve o presente”. “A engenharia em Minas resolve qualquer problema”, disse. 

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