Foi especulado que o senhor exercia um cargo no governo de Minas Gerais, auxiliando Romeu Zema (Novo). Isso é verdade?
O Zema é um amigo e uma pessoa que admiro muito, hiperbem-sucedido na vida privada e está tentando fazer um trabalho de reestruturação do governo de Minas. Uma liderança nova no processo político brasileiro. Vai ser muito bom para Minas e para o Brasil se o trabalho dele der certo. Não estou prestando nenhuma consultoria. O Zema me ligou depois de eleito perguntando se poderia contar comigo, trocar ideias na hora que precisasse, e me coloquei à disposição. Os capixabas e brasileiros me deram oportunidades maravilhosas, e isso gerou uma coisa que acho importante na vida, que é treinamento. Sou uma pessoa treinada pelas oportunidades dadas por capixabas e brasileiros, e tudo que eu puder fazer para retribuir vou fazer com muito carinho. Evidentemente que não vou dar opinião aonde não for chamado, seria inconveniente, mas aonde for chamado para trocar uma ideia, pensar um caso concreto, muitas vezes coisas que já vivi, se puder dar uma contribuição para Minas, darei com prazer.
Em pelo menos dois de seus três mandatos como governador o senhor encontrou o Espírito Santo em péssima situação financeira, assim como Minas está agora. Como conseguiu dar a volta por cima e o que pode ser feito por aqui?
Seguramos a despesa, fizemos ajustes, acabamos com um conjunto de privilégios de setores que praticamente não pagavam impostos. Fomos fechando ralos, conversando com a sociedade e com o servidor público. Tudo que eu fiz é possível de ser replicado em Minas Gerais. Negociei com os Poderes, conversei com Ministério Público, Defensoria, Tribunal de Contas e Justiça, porque todos tínhamos que diminuir o Orçamento. Foi uma negociação difícil. Também contingenciamos 20% dos cargos comissionados de livre nomeação, em todas as áreas. Fomos aos incentivos fiscais negociar para diminuir em 10%, para aumentar a receita, fomos aos contratos de aluguel ligados à frota de automóveis e renegociamos todos. Fizemos contenção de passagem, de diária. Fizemos uma diminuição geral para não privilegiar ninguém. Todos os setores deram sua contribuição. Foram quatro anos de muito trabalho. O Estado chegou ao quarto ano (2018) conseguindo investir com os próprios recursos. O Espírito Santo hoje chama a atenção do Brasil por sua organização.
Como o senhor avalia o início do governo de Romeu Zema?
Acho que começou com dificuldades que eram naturais. Alguém que teve uma vida de treinamento em setor privado cair em setor público não é mole. É natural ter um processo, uma curva de aprendizagem. Acho que está vivenciando isso muito bem. Ele tem uma qualidade extraordinária que é a humildade, procurando caminhos, conversando com as pessoas, se aconselhando. Acho que é uma boa construção, mas não é fácil. Ao tomar posse, encontrou um Estado desorganizado do ponto de vista fiscal e que teve uma sequência de desastres ambientais gravíssimos. Houve o episódio de Mariana, que causou prejuízo humano, material e desorganização econômica. Mariana nem foi superado, e, no início do mandato, o governo Zema e o Brasil passaram a conviver com Brumadinho. Um Estado que tem no nome a marca de uma atividade econômica e ela em crise. Juntando crise fiscal, do setor mineral e um país que não retomou o crescimento como precisa, não é uma tarefa fácil.
Falando de Brasil, quais os problemas que o senhor aponta na reforma da Previdência, prestes a ser aprovada no Senado?
Registro duas questões que merecem atenção. Primeiro que ela foi desidratada na tramitação no Senado, e esse fato, na minha opinião, se deve à pouca articulação do governo. Outro fato importante é sobre a Previdência dos militares, que, pelo texto discutido, consagra procedimentos que deveriam ser abolidos da estrutura previdenciária brasileira, como aposentadoria integral, paridade de correção e assim por diante. É um avanço que se deve a uma tranquilidade social. O povo brasileiro está convencido das necessidades das reformas para o país voltar a crescer, mas está ficando claro que poderíamos ter um produto muito melhor.
A que o senhor atribui essa falta de articulação?
A questão do exercício de liderança é indelegável em qualquer sistema político. No presidencialismo, é decisivo. O líder maior tem o papel de conversar com a sociedade, mostrar os caminhos, explicar razões para a construção desse caminho, e, infelizmente, isso não está acontecendo. Na Previdência, o protagonismo forte foi da Câmara dos Deputados; agora, do Senado, do ministro Paulo Guedes, mas não tem articulação do líder maior do país junto à sociedade. Isso é um desfavor em termos do que temos que realizar nas reformas estruturantes do país.
E em relação à reforma tributária?
É um passo importante que você simplifique o sistema tributário brasileiro, diminua a cumulatividade, que prejudica muito a produção nacional, e diminua a regressividade, porque o sistema tributário, infelizmente, é concentrador de renda. No Brasil, paga mais imposto quem tem menos, e não o contrário, como nas democracias organizadas ao redor do mundo. As nossas tarefas são vigorosas, e temos uma agenda congestionada no país, muitos desafios. Perdemos muito tempo nos últimos anos e temos que ter capacidade de aproveitar esse ambiente bom que tem na sociedade para fazer as mudanças que precisamos. Se o fizermos, o país voltará a crescer, e os brasileiros colherão os frutos com empregos melhores, com a possibilidade de empreender e criando um ambiente adequado. Temos que aproveitar esse “vento mudancista” da sociedade, de coisas que estão esperando há 20, 30 anos e já deveriam ter sido feitas.
Como avalia o governo Bolsonaro até aqui?
Eu torço pelo meu país, não estou fazendo críticas. Todas as medidas importantes que o ministro Paulo Guedes lançou contou com meu modesto apoio porque é esse o ritmo. Temos que sair dessa coisa de nós contra eles, de corda esticada. Isso não vai resolver nada, o povo não merece isso.
Seguindo essa linha, como resolver essa polarização cada vez mais presente entre direita e esquerda?
Não acredito em extremismo, não acredito que os bravateiros arrumem soluções para os municípios, para os Estados, para o país. Acredito na inteligência humana, você ter um problema, conhecer sua natureza, estudar, encontrar uma solução. E quando consegue enxergar isso, precisa dialogar com instituições públicas, assembleias, Congresso, sociedade, e convencer daquele caminho. Esse é o papel de uma liderança que quer fazer com que se ande pra frente. Esse caminho tem que ser adotado. Sou prático, temos um governo eleito, terminando o primeiro ano, e minha torcida é para que ele ache o caminho. Sou brasileiro, já sofremos muito nesses anos, e o que eu puder fazer para tirar o país desse sofrimento, terei que fazer.