Belo Horizonte

Polícia investiga vereador Rogério Alkimim por suspeita de ‘rachadinha'

Corporação apura ainda denúncias de nepotismo e de uso de funcionários-fantasma, mas vereador da capital nega qualquer irregularidade

Por Franco Malheiro
Publicado em 19 de abril de 2022 | 20:51
 
 
Vereador de Belo Horizonte Rogério Alkimim Foto: Bernardo Dias/CMBH

A Polícia Civil investiga o vereador de Belo Horizonte Rogério Alkimim (PMN) por suspeita de “rachadinha”, nepotismo, funcionários-fantasma e uso irregular do carro oficial. A estimativa é que o esquema arrecadaria por mês entre R$ 55 mil e R$ 70 mil em repasses irregulares dos salários dos servidores. O inquérito corre em segredo de Justiça, e o parlamentar nega qualquer irregularidade.

Segundo uma testemunha já ouvida na investigação, a “rachadinha”, que é a devolução de parte dos salários dos servidores ao parlamentar, envolveu, inclusive, um funcionário que seria tio do vereador. Conhecido por Tio Messias, ele estava empregado no gabinete de Alkimin até o mês passado com um salário de R$ 14 mil, mas ficaria apenas com um valor entre R$ 500 e R$ 1.000. 

“Eles (funcionários) vão lá só no início do mês para passar o dinheiro para a Gleice, chefe de gabinete. Ela pediu dinheiro para a gente várias vezes em reunião”, explicou a testemunha que pediu anonimato. Ela contou que o vereador e a chefe de gabinete orientavam os servidores a sacarem o salário todo dia 1° no caixa eletrônico da Câmara Municipal. A reportagem teve acesso a um áudio de uma reunião, que está entre as provas recolhidas pela PC, em que Alkimim fala abertamente sobre o suposto esquema com seus funcionários. 

“Ele (Tio Messias) não assina Alkimim. Eu pensei em falar com outros, mas (inaudível). Tinha que ser assim: pegou aqui, paga lá dentro. Então o papo aqui é reto, não tem nada escondido. Me cutuca para vocês verem (sic)”. 

Escute o áudio completo:

 

Servidores são coagidos

Uma outra testemunha, também sob anonimato, afirmou que servidores são coagidos a trabalhar de forma voluntária na ONG Raio de Luz, de Alkimim.

A organização foi fundada em 2011, nos bairros Minas Caixa e 1º de Maio. Nas redes sociais é descrito que a entidade oferece cursos e serviços como corte de cabelo, culinária, estética, dentre outros.   

“Quem está no gabinete dele tem que trabalhar na ONG. Não tem essa. E não recebem por isso. Na verdade, muitos pagam para isso, com lanches e gasolina para os eventos da ONG. Até alimentos para o restaurante eu tive de levar em fevereiro”, afirmou a testemunha. 

Carro oficial

A Polícia Civil também investiga se o vereador estaria usando de forma irregular o veículo oficial para atividades particulares. A reportagem teve acesso a uma multa por excesso de velocidade para o veículo, aplicada em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, a 672 quilômetros de Belo Horizonte. 

A suspeita é que o vereador estaria usando recursos da Câmara em uma pré-campanha de deputado estadual.

Vereador nega ilegalidades

 Alkimim nega que Messias seja seu parente e diz que é um antigo funcionário da ONG e que ele pediu demissão devido a problemas de saúde. Quanto ao salário pago ao funcionário, que pode ser consultado no Portal da Transparência da Câmara, ele afirmou que os valores de cada vencimento são  definidos conforme o tempo de trabalho e a função de cada servidor. 

O vereador ainda negou que servidores sejam coagidos a trabalharem para a ONG Raios de Sol. Ele confirmou que assessores trabalham em eventos da ONG, mas de forma voluntária e ele é muito grato por isso.

Sobre o uso do carro em outras cidades fora de Belo Horizonte, o vereador afirmou que por ser o seu primeiro mandato ainda não conhece muitas regras. Ele disse que ninguém explicou a ele que não poderia usar o carro para fins pessoais e em outras cidades. Ele se disponibilizou a procurar a Procuradoria da Câmara e, se preciso for, ressarcir o dinheiro gasto.