Rio Grande do Sul

Protestos impedem saída de PMs dos quartéis; greve chega ao 2º dia

A Brigada Militar (Polícia Militar gaúcha) é proibida por lei de fazer greve

Por Folhapress
Publicado em 01 de setembro de 2015 | 13:20
 
 

Com protestos de familiares e sindicalistas de outras categorias em frente aos batalhões da Brigada Militar (a PM gaúcha), policiais da corporação deixaram de sair dos quartéis na manhã desta terça-feira (1), no Rio Grande do Sul.

O Estado entra nesta terça no segundo dia de greve dos servidores, deflagrada após novo parcelamento de salários anunciado pelo governo José Ivo Sartori (PMDB).

Ao menos seis batalhões registraram bloqueios de manhã em Porto Alegre. Apenas dois quartéis da capital não aderiram ao protesto. A medida causa redução do policiamento nas ruas da cidade.

Na segunda (31), o governo depositou apenas R$ 600 na conta dos militares e de todos os servidores do Estado. Outras três parcelas estão programadas até 22 de setembro.

A orientação da Abamf (Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar) e da ASSTBM (Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar) é para que os policiais fiquem "aquartelados" e só atendam emergências. Nos casos urgentes, apenas os carros regularizados poderão fazer o atendimento.

A BM é proibida por lei de fazer greve. As entidades vão avaliar se o aquartelamento terá duração de mais dias, como a greve geral das demais categorias, prevista até a próxima quinta (3).

Presidente da Abamf, Leonel Lucas diz que a adesão na capital é de 80% e no interior, 95%. De acordo com ele, cidades como Passo Fundo, Santa Maria e Caxias do Sul, aderiram massivamente.

A Brigada Militar tem outra versão. "Não temos nem paralisação nem aquartelamento. O que aconteceu de manhã foram pessoas tentando bloquear a saída dos policiais. Tivemos algumas dificuldades para sair por causa do bloqueio, mas está normalizado", diz o major Ronie Coimbra, chefe da comunicação social da PM gaúcha.

A Secretaria de Segurança Pública diz, em nota, que "reconhece o direito de manifestação dos servidores e confia que as forças policiais manterão o atendimento à população".

Apesar das posições da secretaria e da PM gaúcho, as entidades que representam os PMs divulgam imagens em uma rede social mostrando a paralisação por todo o Estado. Em Montenegro, na região metropolitana, policiais seguravam uma faixa com os dizeres "Sartori 171, meu partido é a insegurança". Em Uruguaiana (a 565 km de Porto Alegre), os manifestantes, mobilizados no centro da cidade, seguravam faixas com os dizeres "policial desprestigiado, serviço prejudicado".

"Nossos policiais estão abalados psicologicamente. É uma das carreiras mais perigosas do mundo e agora não conseguem suprir sequer as necessidades da família", diz Aparício Santellano, presidente da ASSTBM.

SEM DINHEIRO PARA O ALUGUEL

Em frente ao 9º BPM, diversas mulheres de policiais protestavam na manhã desta terça. "Meu marido está lá dentro com nosso bebê de sete meses no colo", conta Anielle Ribeiro, 37, casada com um soldado.

Ela faz as contas para mostrar que nem a soma das duas primeiras parcelas do salário (R$ 600 mais R$ 800) resolve o problema deles: só em leite para o bebê, são R$ 240 por mês; aluguel e condomínio, R$ 1.300. "São R$ 1.540 para os R$ 1.400. Já estamos no negativo."

Karen Jardim, 24, e Chaiane Fiuza, 23, também mulheres de militares, encontraram juntas uma solução para as finanças. As duas vão abandonar os atuais imóveis e alugarão apenas um apartamento, maior, para as duas famílias.

"Ontem à noite falamos com o dono que vamos desocupar. Pagamos R$ 870 de aluguel atualmente. Temos mais as outras contas da casa e uma filha de quatro anos para criar", conta Karen.

CRISE GAÚCHA

O Rio Grande do Sul tem a pior situação de endividamento entre todos os Estados brasileiros.

O parcelamento dos salários dos servidores foi o segundo adotado pelo governo. Para quitar a folha de pagamento com atraso, em agosto, demorou ainda mais para pagar a parcela da dívida com a União, o que resultou em bloqueio de suas contas por parte do governo federal.

Sem recursos, o governo Sartori vai tentar aprovar na Assembleia o aumento do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) de 17% para 18%.

Além disso, o governador tentará ainda aumentar o valor dos saques dos depósitos judiciais -dos atuais 85% para 95%.