A conturbada relação do governador Romeu Zema (Novo) com o PL na Assembleia Legislativa pode impactar também a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, inviabilizando um possível apoio do Novo à candidatura do deputado estadual Bruno Engler (PL). Com a segunda maior bancada da Casa, um total de 11 parlamentares, o PL faz parte do bloco Avança Minas, de apoio ao governador, porém parte dos parlamentares do partido não tem votado com Zema.
Na avaliação de interlocutores, o lançamento da pré-candidatura da secretária de Planejamento e Gestão (Seplag), Luísa Barreto, à PBH pelo Novo praticamente acaba com a possibilidade do partido de apoiar Engler, uma vez que a secretária é responsável justamente pela pasta mais atacada por deputados do PL. À frente da Seplag, Luísa é quem toca, junto com a Secretaria de Fazenda, a política de remuneração dos servidores. Nesse cenário, seria improvável uma chapa composta pelos dois nomes.
Um deputado com trâmite no Palácio Tiradentes afirma que os atritos atuais entre o PL e o governo tornam impossível uma parceria entre Engler e Barreto no primeiro turno. O desgaste de membros do PL com o governo Zema parte, sobretudo, das discussões em torno dos reajustes salariais das forças de segurança e pautas relacionadas ao aumento de tributação.
Com deputados muito ligados à representação sindical de policiais, como Caporezzo (PL) e Sargento Rodrigues (PL), os deputados não só não votam com os governos, como mobilizam manifestações e atuam na obstrução dos projetos junto com a oposição.
Embora Engler tenha participado de alguns momentos da postura crítica do PL ao governo Zema, ele afirma que quer o apoio do governador, apesar de admitir que ele pode não vir no primeiro turno. “Acredito que as diferenças de hoje entre o PL e o governador não sejam algo que não possa ser superado”, disse, em entrevista ao Café com Política, no último mês.
Já a pré-candidata Luísa Barreto descarta a possibilidade de desistir de ser cabeça de chapa na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte. “Eu sou a pré-candidata do partido Novo. Trabalho com o apoio do governador Zema pela nossa candidatura e, nesse sentido, temos desenvolvido um grande e eficiente projeto para devolver protagonismo a Belo Horizonte. Minha única preocupação é essa”, disse a secretária em nota.
Questionada sobre a possibilidade de apoiar Engler no segundo turno, disse esperar a união dos candidatos alinhados a ela na última etapa de votação, caso ocorra. Para a secretária, a relação de Zema com a Assembleia constrói pontes. “Espero que, no segundo turno, todos os candidatos de direita e centro-direita possam estar ao nosso lado, construindo uma aliança para vencer a esquerda, que, há anos, tem atrasado o desenvolvimento de Belo Horizonte”, afirmou.
O líder da maioria na Assembleia, Carlos Henrique (Republicanos), por sua vez, afirma que o governo já sabe que não pode contar com parte da bancada do PL em determinadas votações. “Isso já está pactuado com o governo”, declara o parlamentar. Carlos Henrique diz ainda que o governo não trata os parlamentares do PL que não votam com o governo como oposição. “Eles têm as pautas que lhes são caras. Foram eleitos com elas. É preciso respeitar”, justificou.
O projeto de lei do governador Romeu Zema (Novo) que reajusta o salário do funcionalismo público em 3,62% deverá ser lido pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa (ALMG) hoje. O procedimento é necessário para o início da tramitação do texto na Casa.
A proposta foi enviada pelo governo à Assembleia na última semana, porém não houve quórum para abertura da sessão na ocasião. A oposição ao governador já prometeu obstruir a tramitação da matéria. O líder do governo Romeu Zema (Novo), João Magalhães (MDB), por sua vez, argumenta que, devido ao recesso parlamentar, previsto para julho, os deputados precisam analisar o texto até junho.
A proposta de reajuste ao funcionalismo está abaixo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023, que foi de 4,62%. Na justificativa do projeto, o governador afirma que as contas do Estado seguem em situação delicada, mas argumenta que o aumento se enquadra nos limites da Lei de Responsabilidades Fiscais (LRF), que regulamenta gastos e despesas do poder público.
O último reajuste geral proposto por Zema foi em 2022, quando deu 10,06%. À época, além da recomposição, a ALMG, via emendas, aprovou índices extras de 33,24% para os profissionais do magistério público estadual e 14% para a segurança e para a saúde. O Estado, então, foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou o adicional por inconstitucionalidade.