Política em Análise

A interdição do debate

Polarização e incentivo ao ódio impede que o país consiga discutir seu futuro de forma madura

Por Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2019 | 03:00
 
 

Escrevo semanalmente neste espaço e diariamente no portal O TEMPO, reproduzindo os comentários que faço na rádio Super 91,7 FM. E essa profusão de textos nos permite abordar aspectos oos mais diversos afeitos à política nacional e mineira em especial. Em todos eles, porém, há uma coincidência: as caixas de comentários estão povoadas por debates polarizados e que, na maior parte das vezes, versam sobre temas que nada têm a ver com o que está sendo discutido no artigo. Isso, claro, quando o objetivo não é chamar o colunista de “petralha” ou “bolsonarista”.

É claro que os comentários não podem ser tidos como um resumo do debate político no Brasil, mas se percebe nos últimos anos que qualquer discussão séria sobre os rumos de um governo ou de uma ideia está interditada por essa polarização doentia. Mais do que o assunto em debate, as pessoas primeiro querem saber quem dos personagens políticos atuais o defendem para, aí sim, posicionar-se de acordo com o que prega aquele que se coloca como salvador da pátria à esquerda ou à direita.

No caso do governo atual, é exatamente isso que se pretende quando se mira de forma dura na imprensa. Muitos de seus eleitores vão na onda, achando o máximo chamar jornalistas de “extrema imprensa”. O que se quer, quando não se aceita qualquer crítica a uma política de governo ou ação do Executivo, é interditar qualquer possibilidade de diálogo. 

É verdade que os petistas também fizeram isso durante seu período no governo, sob o lema de que haveria no país uma “imprensa golpista”. Mas, sob as ordens dos filhos do presidente e de um núcleo raivoso no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro multiplicou por mil essa estratégia. Ao se desacreditar jornalistas sérios, ofender quem aponta erros que existem aos montes no país, há um desprezo não apenas pela democracia, como pela importância do diálogo para que se construa um caminho mais maduro e menos infantil.

Note-se bem: sem os veículos de comunicação, sem artigos ponderados, sem críticas embasadas ou sem argumentações, não haverá como o Brasil superar esse clima de animosidade. Ficaremos para sempre presos entre o amor e o ódio por quem estiver no poder. Pessoas como Carlos Bolsonaro ou Abraham Weintraub, com seu discurso debochado, não ajudarão o Brasil a se transformar realmente em um país em que todos se sintam representados. O ódio destilado no debate a partir de 2013 pode fazer com que achemos que isso é impossível, mas, a despeito dos debates eleitorais acalorados, o Brasil já conseguiu discutir a política em nível mais alto em passado não muito distante. 

Para muitos, pode parecer um exagero dizer que a democracia brasileira está em risco, mas, se o ódio perdurar, incentivado por líderes políticos inconsequentes, infelizmente, pode chegar, no último caso, o dia em que viveremos uma guerra civil. Quando isso acontecer, será tarde demais para que consigamos dialogar.