As saídas de Marcelo Freixo do PSOL e de Flávio Dino do PCdoB para engrossar as fileiras do PSB indicam que tende a ser bem sucedida a estratégia comandada por Lula de levar o partido de centro-esquerda a compor com ele na corrida eleitoral de 2022. Tal como fez em 2018, o PT consegue, assim, tirar o PSB da proximidade de um acordo com o PDT de Ciro Gomes e reforça a tese de uma eleição polarizada.
As novas adesões ao PSB têm a capacidade de enfraquecer o peso do diretório de Pernambuco na batalha que é travada dentro do partido. Nos últimos anos, o grupo comandado pela família Campos promoveu um afastamento do PT, tendo candidato próprio e, depois, apoiando Aécio Neves (PSDB) no segundo turno em 2014, e ficando neutro em 2018, quando chegou ter uma aliança alinhava com Ciro. Na ocasião, a ação de uma ala mais próxima do PT conseguiu impedir uma chapa com o pedetista, o que acabou desidratando a candidatura do ex-governador do Ceará. De 2018 para cá, o PSB se aproximou ainda mais dele mas, agora, com novos quadros próximos de Lula ingressando na legenda em outros Estados, o cenário volta a se tornar favorável ao petista. É preciso, nesse aspecto, dizer que o PSB foi lulista enquanto ele comandava o país e só se afastou quando os candidatos do PT eram outros (Dilma e Haddad).
Do ponto de vista de Ciro, essa migração reforça que a estratégia mais adequada do ponto de vista eleitoral parece ser buscar mesmo partidos de centro e até de centro-direita. Ele tem se aproximado deles com críticas tanto a Bolsonaro quanto a Lula, com a expectativa de tornar-se o nome da terceira via na corrida de 2022. Se a esquerda e a centro-esquerda caminham para Lula, como a mudança da correlação de forças do PSB indica, não restaria mesmo outro caminho. Não sendo assim, Ciro correria o risco de, novamente, não ter uma aliança capaz de lhe garantir tempo para debater – o que é bem precioso para quem tem João Santana comandando as peças de comunicação – e capilaridade para avançar. A tarefa fica cada vez mais difícil para ele.
A troca de partidos na esquerda também ajuda a estruturar palanques para Lula. No Rio, sobretudo, onde Freixo tende a ter o apoio do PT. Para ele, que já percebeu que não conseguiria vencer uma disputa estadual sem abrir mais o leque de alianças, isso também é altamente positivo. No PSB, Freixo consegue dialogar com nomes de centro e apresentar um projeto mais moderado e mais abrangente. Todos os políticos de esquerda que conseguiram chegar no poder em tempos recentes só conseguiram quando caminharam para o centro. Inclusive Dino, que mesmo no PCdoB trabalhou em ampla aliança com partidos de ambas as frentes. No momento atual, porém, até a alcunha do partido atrapalhava sua estratégia que agora mira numa candidatura ao Senado com grande de chance de êxito.
Há até quem aposte que Dino poderia ser vice de Lula numa disputa presidencial. Se for para atrair o PSB, porém, mais natural seria que o escolhido fosse um nome do Sudeste, como o ex-governador de São Paulo Marcio França, por exemplo, que ajuda a equilibrar melhor a chapa, concilia acordos em no Estado e traz um perfil diferente. Dino não acrescenta muito a Lula do ponto de vista de perfil, já que tem sua força hoje limitada no Nordeste onde Lula já é forte. Sua presença no PSB serve muito mais para facilitar outro acordo incluindo um nome mais de centro. Enquanto Bolsonaro ainda corre atrás de um partido, Lula já trabalha um pouco mais adiante, na formação de palanque.