A denúncia de assédio sexual feita por funcionárias da Caixa contra o presidente do banco, Pedro Guimarães, coroa um mês terrível para o presidente Jair Bolsonaro (PL) às vésperas do início oficial da campanha eleitoral. Havia a expectativa no entorno do governo de que este mês seria o momento da virada, impulsionada pela presença forte do chefe do Executivo nas propagandas eleitorais do PL. Fatos negativos em sequência, porém, atropelaram a estratégia e prometem ainda dar bastante dor de cabeça ao presidente.
O mês começou sob a expectativa de que o encontro com Joe Biden na Cúpula das Américas pudesse quebrar a imagem de isolamento do presidente no cenário externo, um ativo importante na campanha. Por lá, porém, o presidente precisou, por diversas vezes, se explicar sobre o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips no Vale do Javari. Esse episódio, assim como a reação do governo e as falas inadequadas do presidente sobre as vítimas, trouxeram luz à maneira como o atual governo lida com a questão das terras indígenas, com o narcotráfico na fronteira, o garimpo ilegal e toda uma cadeia de crimes praticados na floresta.
Depois, veio o aumento dos combustíveis que o governo fazia de tudo para evitar. A pancada dura no eleitor desencadeou uma revolta do presidente, com pressão para mudanças na estatal e uma tentativa desesperada e, até aqui, infrutífera, de instalar uma CPI para investigar os preços praticados pela estatal. Apesar de todo o discurso que entrega à Petrobras 100% da culpa pelo aumento dos preços, o governo foi bombardeado por mais de uma semana pela oposição e com noticiário profundamente negativo.
Aí veio a prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação. Um golpe duro no discurso do governo de que não há corrupção na atual gestão. O aliado foi solto rapidamente, mas o assunto não perdeu espaço em razão de grampos que indicavam uma possível interferência. O ex-chefe do MEC disse que recebeu uma ligação em que o próprio Bolsonaro dizia ter um pressentimento acerca de buscas e apreensões. Em paralelo, o delegado que comandava o caso na PF divulgou a colegas que houve interferência nas investigações. Isso foi suficiente para engordar ainda mais a pressão pela instalação da CPI do MEC, cujo requerimento foi protocolado. Parece inevitável que o colegiado seja instalado, o que tende a fazer sangrar o governo durante toda a campanha eleitoral.
Agora vem o episódio de Pedro Guimarães. As acusações de assédio contra o presidente da Caixa estão relacionadas à atuação pessoal dele no cargo, mas prejudicam Bolsonaro indiretamente em dois aspectos. Primeiro, pois chegam no momento em que o chefe do Executivo busca recuperar terreno junto ao eleitorado feminino, que o rejeita fortemente. Segundo, pelo fato de que Pedro Guimarães ser uma das figuras mais presentes nas agendas e estratégias eleitorais de Bolsonaro.
Frequentemente convidado para as lives e sempre ao lado de Bolsonaro em agendas, ele comanda um banco por onde escoam vários programas que buscam vitaminar a campanha do presidente. Além de operacionalizar o auxílio emergencial e, agora, o Auxílio Brasil, a Caixa garantiu os saques extras de FGTS, programas de moradia e acesso mais facilitado ao crédito. Tudo o que Bolsonaro usará como exemplo de que preocupa-se com a situação econômica delicada do povo brasileiro. Imagens de todos os eventos relacionados ao tema têm Pedro Guimarães ao lado do presidente. No momento da denúncia de assédio, inclusive, ele estava ao lado do presidente em um ato no Nordeste. A ideia é que continuasse estando nos próximos dias. Por isso, integrantes do governo não querem esperar um dia a mais pela sua saída do cargo.
Para completar o quadro, na manhã desta quarta-feira surgiu também a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) condenando o presidente da República por proferir ofensas de cunho sexual contra a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal “Folha de S. Paulo”. Bolsonaro já havia sido condenado em primeira instância, recorreu e agora foi derrotado novamente, por 4 a 1. É mais um elemento a ser usado contra o presidente na campanha e que tende a dificultar a conquista do voto feminino em uma eleição profundamente polarizada. O junho que era de esperança se tornou um pesadelo para Bolsonaro e seus aliados.