Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

Escárnio aqui, engano acolá

Publicado em: Sex, 06/12/19 - 03h00

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A proposta que avança na Câmara para ampliar os recursos do Fundo Eleitoral, tirando dinheiro da saúde, da educação e da infraestrutura, é um escárnio, principalmente em um país com tantas demandas represadas e em grave situação fiscal. Coisa que só quem realmente está descolado da realidade poderia propor. Assustador que tenha chance de ser aprovada, após governo e o próprio Congresso pedirem sacrifícios à população com a reforma da Previdência.

Triste ver que não houve nem sequer constrangimento de propor tal disparate. O normal no Congresso é maquiar uma maldade para parecer uma bondade ou algo não tão ruim assim. Aliás, maquiagem foi o que fez Flávio Bolsonaro ao dizer que se enganou ao derrubar o veto do pai ao projeto da minirreforma, justamente o que possibilitou o aumento do Fundo Eleitoral. No discurso, Flávio jura ser contra o aumento do Fundo. Nos bastidores, é a favor, pois precisa dos colegas para evitar uma futura cassação após todo o imbróglio do caso Queiroz.

Aliás, como o que se mostra nem sempre é o que existe na realidade, a Câmara também vangloriou-se de aprovar um pacote anticrime que não tem nada a ver com o que foi proposto. Eu até acho que havia mesmo exageros na proposta do ex-juiz Sergio Moro, copiada da que foi proposta pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, mas deputados deveriam ter reconhecido publicamente que enterraram as principais medidas propostas, em vez de fingir que estavam aprovando o pacote de amplo apoio popular.

O Senado também aprovou, sem qualquer oposição, uma reforma da Previdência para militares que em nada se parece com aquela imposta ao cidadão comum. Sem idade mínima e com aumento de salários. Com economia ínfima. Provando que os privilégios continuam existindo sim, ao contrário do que quis fazer crer o governo.  É mais um gato por lebre dos políticos brasileiros.

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