Conciliar a prática política com os discursos de campanha e as estratégias utilizadas nas redes sociais não é tarefa fácil. Basta ver o que tem se dado no debate sobre o fundo eleitoral de R$ 2 bilhões aprovado pelos deputados e que Bolsonaro, após idas e vindas, deve, se não mudar de ideia novamente, sancionar nos próximos dias.
É bom dizer que este valor foi inicialmente proposto pelo próprio governo no Orçamento enviado ao Congresso. De olho em verbas ainda maiores para as campanhas nos mais de 5.000 municípios brasileiros no ano que vem, parlamentares aventaram a hipótese de aumentá-lo para até R$ 3,5 bilhões. Diante de forte reação da sociedade, o Congresso acabou recuando e mantendo o valor apresentado pelo governo.
Aí Bolsonaro foi questionado sobre o assunto e disse com todas as letras que vetaria o fundo de R$ 2 bilhões. Chegou a ser ironizado por Rodrigo Maia por dizer que vetaria algo que ele próprio propôs.
Poucas horas depois, veio o recuo. Alegando o risco de sofrer um impeachment, o presidente disse que deve sancionar a regra que garante a bolada bilionária para partidos e candidatos. O presidente se disse contrário ao fundo, mas "escravo da lei". Não é verdade. Se fosse, teria proposto valor diferente desde o início.
Bolsonaro é, na verdade, como todos os presidentes que o antecederam, escravo de deputados e senadores, dos quais depende não apenas para continuar no cargo mas para tentar manter o mandato do filho Flávio que, se fosse cassado pelos colegas, ficaria muito perto de um pedido de prisão por parte do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Dizer que mudou de ideia para evitar a vingança dos parlamentares não combinaria com quem disse um dia que acabaria com o “toma lá, dá cá”. Essa invenção jurídica foi o que deu para arranjar assim, às pressas.