Ao enviar fatiado o plano de recuperação fiscal, o governo optou por uma solução pragmática diante da resistência da Assembleia em receber todo o conjunto de projetos do programa. Isso tem um efeito colateral, claro, já que ao negociar no varejo, o governo tende a ver a conta ficar mais cara. Cada uma das etapas do pacote renderá uma negociação diferente, com demandas de emendas, cargos e tudo mais que acontece na relação entre Legislativo e Executivo.
Mas se vai gastar mais energia – e recursos dos cofres públicos – o governo também começa um longo trabalho de convencimento com um pouco mais de tranquilidade. Os temas escolhidos para a primeira etapa do plano são os de mais fácil aceitação por parte dos deputados.
Entre eles, a negociação de antecipação de royalties do nióbio é quase um consenso. Nem mesmo a oposição vai querer colocar água no chope do servidor. Se essa é a solução para pagar em dia, sem parcelamentos, o salário e o 13º do funcionalismo, dificilmente vai haver resistência efetiva a essa ideia.
Deve-se ressaltar que não é o ideal antecipar receitas para cobrir despesas correntes. O que se está fazendo é tirar dinheiro de futuras gestões, até 2032, para cobrir um buraco criado pelas gestões anteriores. Por outro lado, é inconcebível que o Estado não cumpra seus compromissos com o funcionalismo, que se dedica diariamente e merece receber em dia. Então, se a solução é pagar juros para honrar o compromisso, que isso seja feito.
A venda da Codemig também tende a ser possível. Ainda que haja um discurso ideológico na esquerda contra as privatizações, não há no caso da empresa o mesmo clamor e preocupações que existem no caso da Cemig e da Copasa, que prestam serviços diretos à população. O governo só vai ter um desafio mais complexo nesse primeiro momento: aceitar que os deputados autorizem a adesão a um acordo com o governo federal sem conhecer em detalhes as condicionantes que serão exigidas ao cabo do processo. Mas se o fatiamento foi uma exigência dos próprios parlamentares, não havia o que fazer.