Política em Análise

Os prós e contras da chapa de Lula e Alckmin

União do ex-presidente com o ex-governador traz simbologia importante à chapa mas também dá munição a Bolsonaro

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 25 de novembro de 2021 | 10:02
 
 

Especulada nas últimas semanas, vista inicialmente com descrença, mas depois como possibilidade real, a possível chapa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (hoje no PSDB) é o fato que mais movimenta a corrida eleitoral. Ainda em fase de ensaios, o encontro traria vantagens e desvantagens para a dupla, que definirá nos próximos meses seu futuro na disputa de 2022.

É inegável que juntar Lula e Alckmin em uma chapa contraria a lógica do debate político dos últimos anos no país. Por isso, causou estranhamento inicial que se aventasse a possibilidade. Alckmin, até então pré-candidato ao governo de São Paulo e em conversas avançadas com o PSD e, inicialmente, com o União Brasil, migraria para o PSB para compor com o ex-adversário. Interessados nessa composição estariam ainda os também pré-candidatos em São Paulo Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB), que ampliam suas chances sem Alckmin concorrendo em território paulista.

Do ponto de vista da chapa entre Lula e Alckmin, pode-se dizer que o principal ponto favorável para a união seria a capacidade que o ex-governador de São Paulo teria de dar uma envernizada na chapa do petista, indicando que o ex-presidente manteria o estilo pragmático em um eventual segundo mandato. Desde que foi solto e voltou a ser colocado como pré-candidato do PT, o ex-presidente tem tido postura mais à esquerda do que teve durante seu governo, inclusive reforçando a defesa de regimes autoritários em outros países, o que assusta parcela do eleitorado médio. Com Alckmin como vice, a ideia é de que uma parte desse temor poderia se dissipar.

Além disso, é bastante razoável supor que a entrada do ainda tucano na chapa poderia ajudar o ex-presidente a prospectar votos e diminuir sua rejeição em São Paulo. Hoje, enquanto o ex-governador lidera as pesquisas de intenção de voto para o governo do Estado, no campo da eleição presidencial há uma rejeição geral. Os paulistas torcem o nariz para João Doria, o atual governador e também pretenso candidato, para o atual presidente, Jair Bolsonaro, e também para Lula. Alckmin, seguramente, é figura menos rejeitada do que qualquer dos postulantes à presidência.

Há também um fator simbólico na junção de dois ex-adversários, que inclusive se enfrentaram diretamente em 2016. Traz consigo a ideia de que haveria uma frente ampla contra Bolsonaro. Que grupos, mesmo diversos, têm um consenso de que é preciso tirar o presidente da cadeira. É o que integrantes da terceira via tentam fazer, sem Lula, é claro, e o que o ex-presidente ganharia de presente caso conseguisse viabilizar a parceria.

Por fim, se a chapa vingasse e fosse eleita, Alckmin certamente contribuiria com a articulação política. Embora o ex-presidente seja reconhecido como alguém que consegue transitar e negociar como poucos, o ex-governador fala com um grupo que Lula não fala. E, com isso, poderia ajudar a engordar a base de apoio caso fizesse parte do governo.

Mas, evidentemente, a união de Lula e Alckmin não traria apenas bons sinais para a dupla. Um dos efeitos colaterais seria permitir ao atual presidente Jair Bolsonaro recuperar parte do discurso de que tem lutado contra a velha política. AInda que isso não seja exatamente verdadeiro, já que Bolsonaro está negociando com os grandes caciques e deve disputar a eleição filiado a um partido do centrão, para a população em geral, PT e PSDB representam o comando político que o Brasil teve em praticamente todo o período pós-redemocratização. Se estão juntos de um lado, quem está do outro pode, aos olhos de parte da população, usar o argumento de que é o velho contra o novo, o que deu muito certo na disputa de 2018. Quando se vê uma chapa envelhecida, formada por dois ex-ocupantes de cargos do Executivo e sem um sopro de renovação, isso parece mais fácil de construir.

Também há um efeito colateral na disputa regional. Embora ajude como vice, Geraldo Alckmin deixaria de dar um palanque importante em São Paulo para a eventual candidatura de Lula à Presidência. Hoje líder das pesquisas, ele talvez fosse mais útil em um casamento que garantisse também uma chance mais real de conquistar o comando do maior colégio eleitoral do país. Já testados, Márcio França e Fernando Haddad se mostraram muito menos capazes de vencer do que Alckmin.

Também é preciso dizer que o ex-governador, se decidir se unir a Lula, não levará junto a estrutura que o faz forte e também terá dificuldades de atrair o eleitorado para o outro lado. Afinal, boa parte dos que votam em Alckmin o fazem justamente pois ele era a alternativa às opções à esquerda apresentadas nas eleições paulistas. É mais provável que parte do eleitorado de Alckmin o abandone quando ele fizer a mais profunda guinada política de sua carreira. Isso sem falar no fato de que sua força já não é a mesma de antigamente. Embora líder na corrida eleitoral de São Paulo, contando bastante com o recall de seu nome, o ex-governador fracassou de forma retumbante na corrida eleitoral de 2018.

Por fim, com Alckmin e Lula em um mesmo palanque, serão reavivadas as antigas desavenças entre os dois. Vídeos com declarações de um contra o outro gerarão inevitável constrangimento. Serão usados para reforçar uma certa hipocrisia na união para a disputa do Palácio do Planalto. Isso, claro, se for bem utilizada pelos adversários.

No fim das contas, como em toda articulação política, esses prós e contras precisam ser colocados na balança. Essa pesagem está acontecendo nesse exato momento.