Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

Vencedores e vencidos nas eleições

Publicado em: Seg, 16/11/20 - 13h06

Fechados os resultados das urnas é preciso fazer uma primeira análise sobre quem venceu e quem perdeu a disputa de 2020. E vencer não significa necessariamente ser eleito, mas sair maior da corrida em relação ao início da disputa. Perder também, muitas vezes, é não conseguir nem sequer atingir resultados próximos aos pretendidos ou não conseguir erguer seus aliados a resultados satisfatórios.

Nesse contexto, ninguém perdeu tanto quanto Jair Bolsonaro. Quando se olha a eleição por todo o Brasil, o presidente fracassou claramente. Viu seu candidato em São Paulo, Celso Russomanno, despencar ao associar-se a ele, não conseguiu empurrar o candidato de Belo Horizonte suficientemente, não conseguiu chegar ao segundo turno com Delegada Patrícia em Recife e só ainda vê um aliado na corrida do Rio Janeiro, onde Marcelo Crivella tende a ser triturado no segundo turno. Para fechar a série de resultados ruins, viu 33 dos 45 vereadores que apoiou ficarem sem cargos. Seu filho, Carlos Bolsonaro, foi eleito no Rio, mas com 30 mil votos a menos do que em 2016 e em segundo lugar, atrás de Tarcísio Motta do adversário PSOL. A ex-mulher fracassou. A ex-assessora da loja de açaí também.

Em Minas, Romeu Zema também sai como vencido. O governador optou por não entrar de cabeça nas campanhas, seu partido lançou poucos nomes a prefeituras – o que o próprio Zema considerou um erro – e acabou sem nenhuma chefia de Executivo, com votações baixíssimas nos três locais que disputou e com uma dura derrota em casa. Em Araxá, terra do governador, o candidato do Novo teve apenas 9% dos votos. A legenda não elegeu nenhum vereador por lá. Embora tenha crescido em Belo Horizonte, o Novo acabou mostrando nesta eleição que a vitória do governador em 2018 foi um ponto fora da curva do crescimento normal da legenda em Minas. Isso em 2022 foi pode fazer muita diferença.

No que diz respeito a Belo Horizonte, além de Kalil que, claro, se cacifa para disputas futuras, seja ao governo, ao Senado ou mesmo à Presidência da República – na avaliação mais otimista de alguns –, há outros que podem saborear alguma vitória nessa corrida. Casos de Bruno Engler (PRTB) e Áurea Carolina (PSOL). Eles tiveram votações maiores do que se previa nas pesquisas e se reafirmaram como lideranças em seus espectros ideológicos. Áurea, porém, enfrentará necessariamente uma concorrência no mesmo campo com Duda Salabert, vereadora eleita com votação avassaladora para os padrões da capital. Não por acaso ela já se lançou de alguma forma à prefeitura na primeira entrevista. Bruno também vai ter companhia na direita, com seu aliado Nikolas Oliveira, o segundo mais votado para a Câmara.

No banco dos vencidos em BH está, em primeiro plano, João Vítor Xavier. Não por conta da votação obtida, muito semelhante as de Bruno (o segundo) e Áurea (a quarta). Mas pelo tamanho da campanha, o tempo de TV, o dinheiro dispensado e o número de partidos e candidatos a vereador em seu entorno. Certamente, para que saísse da eleição maior do que entrou, João Vítor precisaria terminar com patamar bem maior do que atingiu. Isso tende a deixar poucas margens para que ele busque voos maiores nas próximas eleições se o cenário não mudar.

Lafayette Andrada e Nilmário Miranda entram nessa mesma lista, mas por outros motivos. Se João Vítor ainda inicia a carreira política e tem um bom tempo pela frente, os dois estão em um momento que parece ser definitivo. Lafayette, se sonhava com o Senado ou algo assim, pode esquecer. Provavelmente terá muitas dificuldades para se eleger como deputado novamente. Já Nilmário encarnou a decadência do PT na capital e registrou o pior índice do partido em BH. Resultado que, certamente, tira qualquer viabilidade de uma nova empreitada do ex-ministro de Lula.

Os demais, ainda que com resultados modestos, cumpriram a estratégia de fortalecer-se para as disputas futuras. Sabia-se que Rodrigo Paiva, Wendel Mesquita, Fabiano Cazeca, Luísa Barreto ou Marcelo de Souza e Silva, para ficar em alguns exemplos, disputavam em 2022 de olho em garantir um maior conhecimento para as disputas como deputados mais adiante. Nesse ponto, fizeram aí o que podiam. Não crescem, mas, ainda pequenos no cenário político, não diminuem também.

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