Empresário que depõe na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quarta-feira (15), Marconny Albernaz de Faria nega ser um lobista. Também garante jamais ter participado de qualquer negociação para aquisição de vacinas e insumos por parte do Ministério da Saúde.

No entanto, senadores insistem em saber sobre a atividade profissional do depoente. Renan Calheiros (MDB-AL), que é relator da CPI, questionou de que forma a política chegou a influenciar no possível "destravamento" da licitação para aquisição de testes rápidos de Covid-19, no âmbito do Ministério da Saúde, por meio da Precisa Medicamentos.

Segundo Marconny de Faria, ele “pesquisava e estudava a viabilidade política do trabalho a ser desempenhado no contrato”. Sobre o processo de licitação dos testes, ele decidiu não responder, mas disse que conhece Danilo Trento como um dos donos da Precisa Medicamentos e relatou que já esteve com Francisco Maximiano, sócio da farmacêutica, em duas ocasiões.

Contrato de R$ 1 bilhão

O empresário depõe na CPI por ser suspeito de ter atuado como lobista da Precisa Medicamentos com o Ministério da Saúde no caso da vacina indiana Covaxin. A Precisa teria sido intermediária no processo de compra em um contrato superior a R$ 1 bilhão.

Marconny de Faria afirmou prestar “serviços de assessoria técnica e política a parlamentares”, mas não citou nomes, alegando cláusulas de confidencialidade. Ele disse que não é mais inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) “por motivos pessoais e políticos” e que não é sócio de nenhum escritório de advocacia.

O homem que negou ser lobista afirmou também que foi sondado pela Precisa no início da pandemia, no ano passado, para assessorar política e tecnicamente numa concorrência pública para aquisição de testes rápidos. A concorrência já estava em andamento e ele não participou do edital. 

Segundo ele, houve mudança na diretriz do Ministério da Saúde e o procedimento foi cancelado. Marconny afirmou que "tudo não passou de uma conversa de Whatsapp que não passou de 30 dias". 

Mensagens interceptadas

Renan Calheiros afirmou que mensagens de 23 de maio e 3 de julho de 2020, cedidas pelo Ministério Público Federal à comissão, demonstram que Marconny Faria participou ativamente de tentativa de fraudar licitações do Ministério da Saúde para a compra de testes anticovid.

Essa atuação aconteceu em associação com Francisco Maximiano e Danilo Trento, da Precisa Medicamentos, e Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística (Delog) do Ministério da Saúde, segundo Calheiros.

A CPI também obteve mensagens trocadas entre Marconny e o ex-secretário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) José Ricardo Santana. Nela, Santana menciona que conheceu o suposto lobista da Precisa na casa de Karina Kufa, advogada do presidente Jair Bolsonaro. 

Senadores apontaram que Santana e Marconny teriam conversado sobre processo de contratação de 12 milhões de testes de covid-19 entre o Ministério da Saúde e a Precisa. Uma das mensagens trocadas aponta que “um senador” poderia ajudar a “desatar o nó” do processo. 

Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aponta que essas e outras mensagens reforçam a existência de um mercado interno no Ministério da Saúde que busca facilitar compras públicas e beneficiar empresas, assim como o poder de influência da Precisa antes da negociação da vacina Covaxin.

Visita a gabinete

A senadora Leila Barros (Cidadania-DF) pediu que a Polícia Legislativa apresente o registro de todas as entradas de Marconny Albernaz Faria nas dependências do Senado. Ela quer esclarecer se o depoente esteve no gabinete de algum parlamentar, fato que ele nega.

O requerimento contou com o apoio de Randolfe. Omar Aziz anunciou que vai colocar o pedido em votação, o que ainda não ocorreu.

Colapso nervoso

Esta é a segunda vez que o Senado marca o interrogatório. Na primeira tentativa, em 2 de setembro, ele apresentou um atestado médico para não comparecer. O documento acabou cancelado pelo médico que emitiu após questionamentos da veracidade por integrantes da CPI.

O advogado também havia recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não depor, mas o pedido foi negado. Caso não compareça à sessão sem justificar a ausência, ele poderá ser conduzido coercitivamente à CPI. 

A juíza Pollyanna Kelly Martins Alves deferiu o pedido com esse objetivo feito pela comissão, por meio da Advocacia do Senado Federal (Advosf). 

Omar Aziz questionou o motivo de Marconny Faria ter apresentado atestado médico na véspera de seu depoimento à CPI. Em resposta, o depoente afirmou ter tido um colapso nervoso e físico.

“Tive que me preparar muito fisicamente e psicologicamente para estar aqui, sobretudo por não ter feito nada de errado”, afirmou o empresário.