Entrevista exclusiva

A dor, o sonho do pai e zoeiras com Vina e Guga: as revelações de Jair

Em conversa com o SuperFC, volante, que é um dos destaques do Atlético no segundo semestre, conta detalhes da vida dentro e fora de campo

Só sorrisos: Jair celebra grande momento no Galo | Foto: LEO FONTES
Gabriel Pazini| @superfcoficial
18/08/19 - 08h00

O sorriso é largo e fácil. O semblante, alegre e calmo. As respostas são dadas com naturalidade e tranquilidade. As expressões e atitudes de Jair durante a entrevista exclusiva ao SuperFC comprovam o ótimo momento do meio-campista titular do Atlético. Momento muito aguardado por ele depois de tantas dificuldades e desilusões nos últimos anos.

Especialmente o complicado ano de 2018, em que o volante rodou bastante. Em apenas uma temporada, o meio-campista passou por três clubes: Veranópolis, Juventude e Sport. Não à toa, a titularidade e o destaque em um dos gigantes do futebol brasileiro são novidades e algo tão esperado por Jair, que sempre sonhou com isso não só para realizar um desejo dele próprio, mas também do seu grande ídolo: seu pai.

Durante os praticamente 20 minutos de conversa com a reportagem, o volante só deixou os sorrisos de lado e ficou com a voz embargada quando falou de seu pai, Jair da Costa Rodrigues. O pintor sempre apoiou o filho a perseguir seu desejo e dizia ter como maior sonho vê-lo atuando como profissional. Ele afirmava que, depois disso, poderia partir.

Jair faleceu há três anos, feliz em ter realizado o seu sonho e visto o filho ter alcançado seu desejo. No entanto, ele não viu o volante viver aquela que, até agora, é a sua melhor fase como jogador de futebol. O meio-campista, porém, se conforta em ter a certeza de que o pai está feliz e lhe ajudando, dando o apoio de sempre, de onde estiver.

Revelações

No bate-papo com o SuperFC, Jair também revelou ser um profissional muito focado. Fã de Busquets e do Barcelona, o volante afirmou ter como hobby assistir jogos da Premier League e do clube catalão e mostrou ter a cabeça voltada para a sua carreira. No entanto, também sobra tempo para brincadeiras, e o meio-campista "entregou" o real apelido de Vinícius, as dores de cabeça que o lateral-direito Guga, seu parceiro de quarto na concentração, lhe dá, e muito mais. Confira a entrevista:

Queria começar falando da sua mudança de posicionamento com o Rodrigo Santana. Você era um segundo volante que o Rodrigo passou para primeiro volante e deu muito certo. Com você nesta função como titular e em campo, o Atlético não sofreu gols e está invicto. Como foi essa mudança de posicionamento e está sendo esse momento agora no Atlético?

"Claro que eu joguei muito mais de segundo volante do que de primeiro, e essa posição que estou jogando é uma posição em que gosto de jogar também. Gosto de vir com a bola dominada de trás. Tem dado certo e me entendo bem com o Elias e o Vina, que são jogadores inteligentes. Mesmo jogando de primeiro volante eu gosto de sair. Às vezes, durante o jogo, eu saio e eles ficam. Na base da conversa tem dado certo. Eu tenho me adaptado muito bem e estou gostando de jogar nessa posição."

Como funcionou esse processo? O Rodrigo te chamou para conversar antes, trocou uma ideia com você, passou recomendações?

"O Rodrigo tinha me chamado para conversar e falou que precisava de um homem que tivesse o passe entre linhas. Como meu passe é bom, fiz o que ele pediu e deu certo. Acho que estamos bem. Me adaptei muito bem e só tenho a crescer."

Como é a parceria com o Elias?

"O Elias é craque de bola. Sempre admirei o futebol dele e hoje poder jogar com ele é muito gratificante. Claro que ele também gosta de sair muito, mas também, como eu falei, na base da conversa a gente vai se entendendo. Ele vê que quando ele sobe eu fico e vice-versa. Eu tenho mais característica de marcação que ele também."

Ele já falou algumas vezes que deseja ficar e renovar seu contrato (que se encerra em dezembro). O Rui Costa (diretor de futebol alvinegro) também manifestou o desejo do Atlético de mantê-lo. Você já pediu isso pra ele?

"Seria muito importante se ele ficasse. É claro que envolvem muitas coisas, mas se ele ficar, eu ficarei muito feliz. Ele é um cara que tem me ajudado muito. Temos feito uma boa dupla."

Você tem um passe muito qualificado. Além disso, é o jogador que mais desarma no Atlético (Papagaio e Vina interrompem a entrevista e começam a imitar e brincar com Jair, que avisa que vai atrapalhar a entrevista deles também. No meio de muita risada, Vina pede para Jair explicar seu apelido: 'Pé de Rampa').

"Teve um jogo contra o Zamora que eu me infiltrei e o Vina tentou dar uma cavadinha, mas não conseguiu. Depois, em um outro jogo, o Vina se infiltrou e eu consegui dar uma cavadinha pra ele. Aí eu disse: 'Tá vendo, Vina, é assim que se faz.' Aí ele olhou pra mim e falou: 'Também, com esse pé de rampa que tu tem aí.' E ficou esse apelido comigo até hoje (risos)."

Quais são seus grandes amigos no Galo? E já sabemos que o Vina é um cara da resenha, mas quem mais faz parte da galera da resenha no Galo?

"Cara, tem muitos. Eu me dou bem com todo mundo aqui. Agora, dos caras que mais gostam da resenha... Tem o Guga, que é meu parceiro de quarto, concentra junto comigo. O Vina também, a gente tá 24 horas brincando um com o outro. O Patricão também, que é um cara que gosta de ficar brincando. Eu me dou bem com todo mundo aqui, ainda bem."

O Vina te entregou, agora entrega ele também (risos). Conta uma dele aí.

"Cara, eu fico falando que o Vina é o Belo do Nordeste (risos), com esse cabelo feio dele."

Você sempre jogou como segundo volante ou já atuou em outra posição?

"Eu já joguei como lateral-direito também, mas a posição que eu mais gosto é como meio-campista mesmo, tanto como primeiro quanto como segundo volante. Eu gosto de sair com ela de trás, chegando no ataque. É claro que nessa nova função eu chego menos, mas se tiver liberdade eu também chego."

Você elogiou o Elias e disse que sempre gostou de ver ele jogar. Quais são seus ídolos e outras referências na carreira?

"Eu gosto muito do (Sergio) Busquets (meio-campista do Barcelona). É um volante que domina muito o meio-campo. Ele entende muito da função, é muito técnico, sabe bem os espaços do campo. Eu sempre admirei ele. Aquele time do Barcelona, que ganhou tudo, com Xavi, Iniesta... São jogadores que eu sempre admirei. Eu sempre procuro me inspirar neles. A gente sempre tem que procurar evoluir e eu me cobro muito no passe, e eles são caras que erram poucos passes, por isso são minhas referências."

Você ganhou a posição no Atlético depois da aposentadoria do Adilson, que foi um momento triste. Como é o relacionamento com ele nessa nova função (com o ex-volante como membro da comissão técnica de Rodrigo Santana)? Ele já te deu um toque, conversa bastante com você sobre a posição?

"Eu e o Adilson somos muito amigos. Eu sou vizinho dele até. Moramos no mesmo condomínio. Desde que eu cheguei, nós sempre conversamos muito. Eu sou fã dele e fico feliz por termos jogado juntos. Foi triste o que aconteceu, mas tive o privilégio de ter atuado ao lado dele. Ele sempre me deu muitos conselhos, toques sobre posicionamento, e agora que ele está na comissão, ele tem me dado moral e incentivado bastante porque é um momento importante para minha carreira essa sequência no Galo."

É especial essa sequência para você depois do ano passado difícil em que você rodou bastante. Como é viver essa novidade na sua carreira, de ser titular de um grande clube e elogiado por muita gente?

"Desde que eu saí do Inter, meu objetivo era voltar para um clube grande. Eu precisava jogar, ter novas experiências, e sou grato aos clubes por onde passei, porque se hoje estou mais preparado para ser titular de um clube como o Atlético, que tem uma camisa pesada, é por causa dessa experiência. O momento está sendo ótimo, muito bom, e quero aproveitar ainda mais."

Qual tipo de música você mais gosta? O que você coloca pra galera ouvir no vestiário?

"Sou muito eclético. Gosto de tudo, mas gosto mais de samba, pagode, sertanejo... No vestiário e na concentração que é difícil, porque tenho que ficar escutando o Guga ouvindo funk (risos)."

Curte fazer o que no seu tempo livre?

"Eu sou muito caseiro. Gosto de ficar vendo jogo. Vivo muito intensamente isso, porque a carreira de jogador é muito curta, então eu procuro ver os adversários que o Galo vai enfrentar, jogos da Premier League e de outros campeonatos para ver o que posso tirar de lição. Esse é o meu passatempo. Quando não faço isso, fico sentado em casa vendo filme mesmo. Sou muito caseiro."

Tem algum campeonato e time que você gosta mais de assistir?

"Cara, eu sou muito fã do Barcelona (risos). Se perguntar para mim, eu sou fã do Barcelona. É um estilo de jogo que eu sempre gostei muito, de bola no chão, é um time que toca muito bem a bola."

Fale um pouco sobre o começo da sua carreira. Você saiu de Ibirubá, no interior gaúcho. Como foi o começo da sua carreira, sua infância, o que seu pai e sua mãe faziam?

"Meu pai era pintor e minha mãe era servidora do Estado. Eu jogava no time da minha cidade e com 10 anos fui fazer um teste no Grêmio e acabei passando. O clube fez um convite para minha família ir morar em Porto Alegre e eles foram morar lá. Fiquei cinco anos no Grêmio e depois fui para o Inter. Fiquei seis anos lá e me profissionalizei. Minha infância foi muito boa. Meu pai sempre me incentivou a ser jogador de futebol desde pequeno. Eu até matava aula para jogar bola (risos). Eu sempre gostei e hoje poder estar fazendo isso e ter meu trabalho reconhecido me deixa muito feliz."

Qual foi o momento mais difícil nessa trajetória?

"Foi quando eu perdi meu pai. Desde pequeno ele sempre me incentivou e falava que o sonho dele era poder me ver jogando como profissional e que depois que ele (pausa) me visse, ele poderia partir. O momento mais difícil foi quando eu perdi ele. Eu ficaria muito feliz se ele pudesse estar aqui comigo hoje. Mas acredito que ele, onde está, está muito feliz em poder estar vendo meu trabalho e o que estou fazendo. Ele faleceu há três anos e se eu tenho um ídolo na vida é ele."

Quais são os seus sonhos para a sequência da carreira?

"Sonho em ganhar títulos aqui no Galo. Meu objetivo é poder deixar meu nome no clube que me abriu as portas e me recebeu muito bem. Quero fazer o que gosto e ganhar títulos aqui."

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