Um novo capítulo foi escrito na história do Clube Atlético Mineiro no dia 1º de novembro, quando foi oficializada a criação da SAF alvinegra, que pode transformar, de vez, a trajetória atleticana. Com a projeção de quitação da bilionária dívida até 2026 e lucro operacional já no próximo ano, o clube pode começar a se preparar para ser o que os seus novos gestores desejam: uma potência.

“Se o clube não se transformasse em SAF, não teria um ciclo competitivo. O importante é que a gente abriu o caminho primeiro para sanear as finanças do Atlético e, depois, buscar novos investimentos. O plano é que o Atlético, com isso, seja sempre um time competitivo”, disse Rubens Menin, principal investidor da SAF, ao Minas S/A, de O Tempo. 

O objetivo é também desenvolver um modelo de gestão profissional que mantenha o nível competitivo do clube, mas de forma sustentável, do ponto de vista financeiro e esportivo. Além disso, com a SAF, o Atlético pretende reduzir a dependência de profissionais e institucionalizar processos e a governança, blindando o clube de gestões temerárias para evitar que o endividamento volte a crescer. A SAF abre a possibilidade para haver mudanças na estrutura dos clubes e também de organização dos clubes, sem contar novas possibilidades de mercado.

Para Ricardo Guimarães, um dos investidores da SAF, a possibilidade de atingir o equilíbrio financeiro é um dos maiores ganhos dessa transição. “O maior benefício do Atlético ter virado SAF é poder equilibrar melhor seu endividamento financeiro que por anos e anos estava estrangulando a saúde financeira do clube”, disse a O Tempo Sports.

Busca de títulos

O atual momento do futebol brasileiro, com crescimento da média de público do Brasileirão e domínio em competições continentais, faz com que os clubes precisem se fortalecer para disputar títulos.

Para Rubens Menin, o futebol no país está ficando mais forte e essa transformação em SAF pode ser importante para o Atlético.

“O Campeonato Brasileiro deste ano já tem mais público, já tem mais qualidade. E tem a Liga que vai ser feita. A gente vai entrar em um momento muito bom do futebol brasileiro e quem não estiver preparado vai ficar para trás. A gente quer que o Atlético esteja preparado e que seja uma das potências. Sabendo que a gente tem menos ferramentas que o Flamengo hoje, que o próprio Corinthians, apesar de o Corinthians estar mais atrasado nisso. Mas a gente, com capacidade, pode tirar essa diferença”, comentou. 

Planejamento

O aporte de R$ 913 milhões vai ajudar e muito o Atlético e a intenção dos gestores é que, por meio da SAF, a dívida, que hoje passa de R$ 1 bilhão, seja liquidada. E, além disso, pode ter lucro operacional em breve.

“Vamos liquidar (a dívida) até 2026. O Atlético vai estar zerado. Mas o mais importante é o seguinte: a partir de 2024 o Atlético vai ter lucro operacional todo ano”, completou Menin.

“Inicialmente o dinheiro conseguido vai ser utilizado para pagamento das dívidas. Essa redução de endividamento vai proporcionar menos juros a pagar e, como consequência, uma sobra maior de recursos para investir no futebol. A quitação da dívida total ainda vai precisar de mais um tempo, mas imaginamos que possa acontecer nos próximos quatro anos”, projeta Ricardo Guimarães, corroborando o que foi dito por Menin.

Uma das dificuldades que o clube precisa superar são os juros da dívida, o que impediu o Atlético de aprovar, até o momento, seu orçamento para o ano que vem. São cerca de R$ 150 milhões em juros, o que pode ser solucionado com a nova gestão.

“Estamos vendo se dá para fazer um orçamento para o futebol, que é o carro-chefe. A Arena já está pronta e estamos resolvendo os problemas das contrapartidas. Aí a gente vai poder, além de tudo, ter um superávit financeiro que é fundamental. O clube tem que ter superávit. Os grandes clubes do mundo têm superávit no final do ano”, comentou Menin.

Previsão

A SAF pode ajudar, inclusive, o Atlético a aumentar o orçamento, um que seja viável para que o Atlético tenha gestão de resultados e competitividade.

“Não podemos achar que somos melhores que os outros, mas temos que ser um pouco mais eficientes nos gastos. Isso é possível. Nós temos algumas vantagens, como a Arena, mas temos que crescer esse orçamento. No nosso plano de negócio da SAF, a gente planeja crescer esse orçamento todo ano, nos próximos cinco anos. Daqui a cinco anos a gente vai estar, em números atuais, com algo perto de R$ 750 milhões, R$ 800 milhões (por ano)”, projeta Menin.

 “Com esse equilíbrio financeiro, o clube tem chance maior de viver dentro de um orçamento e reforçar o time de futebol na busca de títulos, que é o principal objetivo”, completou Ricardo Guimarães.

A experiência dos gestores do Atlético no mercado financeiro pode também levar o clube a um cenário diferente, inclusive com capital aberto, o que Menin pensa em fazer no futuro.

“Ainda não tem nenhum clube preparado para isso. Mas em um futuro próximo, aquele que abrir capital vai ter mais recursos para investir. A capacidade de investimento aumenta muito mais”, comentou o dirigente.

"Isso vai mudar a estrutura do futebol brasileiro. A SAF foi o primeiro passo e na segunda parte a gente vai ter que ter muito dinheiro para investir, porque o futebol vai ser um negócio muito caro. Você pega, por exemplo, o orçamento do Manchester City, de R$ 7 bilhões por ano. (Como comparação, o Flamengo tem R$ 1 bilhão e o Atlético tem R$ 500 milhões).