Entrevista

Fábio Santos, o multicampeão: entrevista com o lateral-esquerdo do Galo

Lateral do Atlético fala sobre a carreira, futebol internacional, histórico no clube e momento atual

Lohanna Lima| @superfcoficial
22/09/19 - 07h40

Aos 34 anos recém-completados, o lateral-esquerdo do Atlético, Fábio Santos, tenta alcançar um objetivo pessoal na temporada: a conquista de um dos dois títulos que ainda faltam em sua carreira. De tudo que um jogador pode conquistar atuando no futebol brasileiro, o lateral só não possui a Copa Sul-Americana e a Copa do Brasil no currículo.

Há três temporadas no Atlético, Fábio Santos já foi dono incontestável da posição, tendo sido convocado para a seleção brasileira nos primeiros seis meses jogando pelo Galo. Com a falta de resultados expressivos da equipe nos últimos dois anos, Fábio passou a ser um dos alvos de cobrança dos torcedores. Sereno ao analisar seu desempenho nas últimas temporadas, ele garante tranquilidade para lidar com as críticas que vem sofrendo e demonstra confiança e muita vontade de conquistar o torneio continental – não só pela marca pessoal – mas, também, para marcar seu nome na história do Atlético como marcou no Corinthians ao ser campeão da Libertadores, do Brasileiro e do mundo.

No seu currículo, só falta conquistar a Copa do Brasil e a Sul-Americana. No torneio continental, o Atlético está a dois jogos desse título. Como você se sente, a essa altura da carreira, podendo conquistar mais um título inédito?

Eu tenho pensado bastante na possibilidade dessa conquista por ser um título que eu ainda não conquistei. A Sul-Americana foi meu primeiro torneio pelo São Paulo, em 2003, e fomos eliminados pelo River, nos pênaltis, na semifinal do torneio. É um título no qual estou muito focado em conquistar este ano pelo Galo. Primeiro, pela vontade de ganhar um título importante com a camisa do Atlético e, também, porque a Sul-americana é um torneio que traz muitas coisas boas, como uma vaga à Libertadores, uma disputa de Recopa e de um torneio no Japão. São muitas coisas envolvidas e estamos muito focados em conquistá-la.

Antes de vir para o Atlético, você passou pelo futebol mexicano. Assinou por dois anos, mas jogou apenas uma temporada no Cruz Azul. Como foi essa passagem pelo futebol mexicano e por que decidiu sair antes?

O Corinthians estava vivendo uma crise financeira muito grande e o clube não conseguiu me fazer uma proposta. Surgiu a possibilidade de ir para o Cruz Azul, assinei por dois anos e o primeiro foi muito bom, a adaptação foi rápida e estava jogando bem. Porém, vindo de muitas conquistas com o Corinthians, tinha aquele lado competitivo que todo jogador tem e eu não consegui encontrar isso lá. Tive um problema com um dos treinadores, as ideias não batiam e o grupo estava mais acomodado. Não estava feliz e não tinha dinheiro que fosse me prender lá. Surgiu a possibilidade de voltar para o Brasil para jogar no Atlético e acredito que tenha sido a escolha certa.

Por que o futebol mexicano não é um mercado onde atuam tantos brasileiros se comparar com outros países? E por que esse passo na sua carreira depois de ter sido campeão várias vezes pelo Corinthians? O lado financeiro pesou?

A gente não tem tanto acesso ao futebol mexicano, mas é muito parecido com o brasileiro. O torcedor é muito apaixonado, todo mundo vive o futebol. O campeonato é muito competitivo e é muito bom de jogar. Tem competições bacanas que podem te levar ao Mundial de Clubes. Foi o que apareceu naquele momento e financeiramente pesou bastante. Não pensava em sair do Corinthians naquele momento, mas analisei, falei com o Sóbis e ele passou só coisas boas. Resolvi arriscar, conhecer e não me arrependo. Foi muito bacana o ano que passei lá.

Quando você chegou ao Atlético, o Douglas Santos estava em alta, prestes a disputar a Olimpíada e era titular absoluto. Você veio para o Atlético para brigar por uma posição com ele ou sabia que o jogador poderia ser vendido ainda naquele ano?

Eu vi a maneira como o Galo montou o elenco em 2016, com contratações importantes e um time forte para chegar em todas as competições. Eu não sabia se o Douglas seria vendido. Claro que havia essa possibilidade por ser um jovem que estava se destacando, ia disputar uma Olimpíada e propostas acabariam surgindo. Se fosse jogar ou ficar no banco, isso seria questão do dia a dia, do treinador, mas a maneira como o Atlético vinha montando o elenco foi o que mais me atraiu.

Você quase conseguiu conquistar um dos dois títulos que faltam no seu currículo em 2016, quando o Atlético chegou à final da competição. Você se sente frustrado por ter batido na trave?

O ano de 2106 foi muito especial. Joguei o Campeonato Brasileiro em alto nível. Venho tentando conquistar a Copa do Brasil e naquele ano chegamos à final, mas a equipe do Grêmio era melhor que a nossa, estava melhor preparada e foi superior nos dois jogos. Aceito mais essa derrota porque perdemos para uma grande equipe que, naquele momento, mereceu mais do que a gente.

Nesses três anos de Atlético, o clube passou por muitas transformações, eliminações e resultados abaixo do planejado. Qual o momento mais difícil que você passou no Galo?

Não vou dizer o mais difícil, mas o que lembro com tristeza: foi a saída do Roger Machado. Naquele ano, eu tinha uma expectativa muito grande e certeza de que seríamos campeões de algo grande, se o trabalho não tivesse sido interrompido, teríamos conquistado uma das três competições (Libertadores, Copa do Brasil ou Brasileiro), até porque estávamos vivos nas três quando ele saiu. Lembro com tristeza porque era um ano especial, cortaram o trabalho na metade e isso acabou jogando no lixo o ano em que a gente poderia ter conquistado coisas grandes.

Desde a saída do Roger, vários técnicos passaram pelo Atlético. Como foi para o elenco lidar com tantas mudanças?

Vejo com chateação. Claro que a gente pode ganhar um campeonato trocando o treinador, mas eu acredito ainda na permanência de treinadores capacitados, que conhecem o grupo que tem. A chance de ganhar com um trabalho a longo prazo é maior. Então, quando começa a trocar muito, é ruim para os jogadores, para o clube e foi o que aconteceu nos últimos anos, o que acaba atrapalhando o trabalhando.

Vocês demonstraram muito carinho e respeito não só com o Roger, mas também com o Larghi e agora com o Rodrigo. Como você avalia o trabalho deles?

Sobre o Thiago Larghi e o Rodrigo não é porque eram legais ou queridos, é porque o jogador tem mais consciência, é mais inteligente e ele cobra conteúdo. Da mesma maneira que o treinador cobra qualidade e inteligência dos jogadores para se adaptar ao trabalho deles, nós temos também essa inteligência de saber qual treinador pode trazer coisas boas ou não. No meu modo de vista, foi com o Thiago e com o Rodrigo que nós conseguimos demonstrar um esquema de jogo melhor, brigar com outros grandes times do futebol brasileiro e tomara que o Rodrigo permaneça. A gente sabe que conquistando títulos, aumentam as chances e por isso que estamos tão focados em conquistar um título para termos o Rodrigo com a gente.

Em 2016 e em 2017, você foi dono da posição de forma incontestável. Do ano passado para cá, muitas críticas surgiram em relação ao seu desempenho. Como você vem lidando com a insatisfação do torcedor?

Eu costumo dizer que nunca vi ninguém morrer porque leva vaias (risos). Não é uma coisa que me mata, sei lidar muito bem com isso. Também costumo dizer que jogador bom é o que não joga. O cara que estiver jogando é que vai estar mais exposto tanto para críticas como para os elogios. Eu sou um cara que todo jogo estou no campo e, vai ser sempre assim, vão pegar mais no pé. Tenho minha consciência bem tranquila sobre tudo que posso e tenho feito. Por isso, a importância de conquistar um título para ver se a gente pode ser um pouquinho elogiado também nesse ano tão cheio de criticas.

Você concorda que houve uma queda no seu desempenho ou acredita que seja resultado de um baixo rendimento da equipe no geral?

Não tem como separar uma coisa da outra. Em 2017, foram 64 jogos atuando os 90 minutos. Eu nunca tinha feito isso na minha carreira. Já nos últimos dois anos, foram muitas mudanças e várias formas de pensar. Tem treinador com o qual joguei jogos bons e ruins. Sempre tento ser o mais regular possível, estar presente, é natural que haja essa oscilação.

Sobre ser o cobrador oficial de pênaltis do Atlético, foi algo natural? Você já havia desempenhado esse papel em outros clubes?

Sempre gostei de treinar e bater pênaltis. Quando cheguei ao Corinthians, o Chicão era o batedor e o Tite não gostava que jogadores de defesa fossem cobradores porque ele dizia que, se um jogador de ataque perdesse, era mais fácil se recuperar na partida marcando gol. Lá, os atacantes não gostavam de bater. Tinha Liedson, Sheik e Guerrero. E eu acabei batendo em alguns jogos lá. Não tenho essa vaidade. Aqui comecei a bater após uma sequência de erros, mas se o pessoal do ataque quiser bater não tem problema.

Você completou 34 anos recentemente. Você planeja sua aposentadoria do gramado? Qual vai ser o fator determinante para seguir jogando?

Não é algo que me tira o sono agora. Converso muito com a minha família e com meu amigos e sei que está chegando o fim, mas não quero ficar me massacrando com isso até porque é o que eu faço desde os seis anos de idade. Eu jogo em uma posição complicada, que exige muito. Jogo quase todos os jogos e isso encurta a carreira também. Tenho contrato com o Atlético até o fim do ano que vem e quero cumprir. Posso dizer que vou jogar até 37, 40 anos. Vou espera o término do contrato ano que vem e, a partir daí, pensar no que vai ser no futuro.

Pensa em renovar com o Atlético ou em voltar a defender algum outro clube do passado?

Tudo que eu planejei na minha carreira saiu ao contrário. Acho que não sou bom de planejamento (risos). Estou há três anos e meio aqui. Futebol é complicado. Se não ganha é mais desgastante. De repente, se eu conquistar algo, pode ser que eu renove, mas não penso nisso agora.

Sua passagem pelo Monaco foi muito curta e sem muito destaque. Por quê?

Eu nunca tive sonho de jogar na Europa. Minha família fala que eu gosto de torcida xingando, imprensa reclamando, que é o que mais tem no Brasil (risos). No auge da minha carreira, eu estava no Corinthians, com 24 nos, conquistando tudo o que conquistei e não pensava em largar para jogar em um time mediano da Europa, até porque eu acho que nunca chegaria em um time grande como Real Madrid e Barcelona. Nunca foi uma coisa que fez meus olhos brilharem. Fui pra ficar seis meses no Monaco, foi muito complicado, fiquei sozinho, minha esposa grávida e conheci minha filha só com três meses. O futebol francês não casou com o estilo do meu futebol. Já não tinha o sonho e essa passagem não foi das melhores. Por isso, optei por fazer uma carreira mais longa no Brasil.

Qual a lembrança mais especial que você tem do Mundial em cima do Chelsea?

Aquilo ali é o sonho de qualquer jogador. Em 2005, estava com o São Paulo campeão em cima do Liverpool e eu prometi para mim mesmo poder voltar a viver aquilo como titular. Queria ser protagonista. Nunca imaginei voltar justo no rival e conquistar um título daquele tamanho. Foi o auge da minha carreira. E 2012 foi um ano mágico, é a maior lembrança da minha carreira.

Você consegue ver semelhanças entre a torcida do Atlético e a do Corinthians?

São diferentes. Cada uma sabe o momento certo de criticar e apoiar. A torcida do Corinthians, depois de 2007, quando caiu, não canta nome de jogador, só o nome do clube e não vaia nos 90 minutos. Eu acho isso muito legal. Porque nos 90 minutos todos têm que estar concentrados. Mesmo os experientes, quando vaiados, começam a errar e se desconcentram. Ninguém gosta de ser criticado, vaiado, mas a gente entende o lado.

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