Um dos lugares mais conhecidos da região metropolitana de Belo Horizonte é mais admirado do que utilizado pelos mineiros. Sabendo do potencial que a lagoa dos Ingleses possui, a organização do Na Praia BH, evento que chega à região do Alphaville pelo segundo ano consecutivo, escolheu o local para ser um atrativo a mais para chamar atenção do público. Ali, acontecerão, até o dia 14 de outubro, shows e muitas opções de esportes para o público.

Entre as modalidades, estão futemesa, futevôlei, tênis de areia, crossfit e slackline. Algumas outras dependem da lagoa para serem praticadas como vela, stand-up paddle, bike aquática e caiaque. Além dessas, existem mais opções que podem ser feitas no local, como remo, wakeboard, windesurf e canoagem.

“Nosso objetivo é proporcionar uma experiência única. Montamos um espaço em que o público pode desfrutar de uma atmosfera litorânea. As atividades aquáticas não poderiam faltar na programação. Buscamos os esportes que já são praticados na lagoa dos Ingleses para fomentar e apresentar para o público”, afirma o coordenador da programação esportiva do Na Praia, Johnny Aggrada.

Boa parte do grande público desconhece que a lagoa dos Ingleses recebe atletas e praticantes de esportes náuticos há mais de 70 anos. Para quem está no ramo dessas modalidades, o fator cultural influencia para esse distanciamento. “Estamos falando de esportes que não têm a popularidade do futebol. Muitas pessoas nem procuram tais esportes por imaginarem as dificuldades que existem para praticar as modalidades”, afirma Teca Lobato, professora e praticante de wakeboard.

“Ali é um lugar muito sossegado, bonito, tranquilo, e isso me motiva a fazer aulas de remo. Essa lagoa, é preciosa e o esporte é bastante aeróbico, movimenta todas as partes do corpo. Me apaixonei quando conheci, é uma modalidade completa”, comenta a empresária Andréa Lambertucci, que conheceu o remo há 16 anos. “Ali é uma lagoa limpa e de uma natureza exuberante que possui todas as condições para os esportes náuticos a menos de 30 minutos da Grande BH”, diz André Maciel, professor e praticante de windsurfe.

Precursor. Na década de 60, ficou conhecida na capital a figura de Afonso Ligório, que dava aulas de remo e hoje dá nome para o Clube de Regatas Afonso Ligório (CRALMG). “Ele foi um formador de atletas e deixou uma cultura forte em Minas Gerais, promovendo regatas e deixando acervo de barcos. A preocupação da Pampulha, na época, era esquistossomose. Hoje, a situação é diferente, com metais pesados, que fizeram a poluição ser muito pior”, diz Ligório.

Dúvida. “Esses barcos, hoje, estão em uma garagem na Pampulha, de posse da prefeitura. Não sabemos se estão sendo bem cuidados”, diz Augustus. Atualmente, ele usa sua experiência de ex-atleta para seguir com a trajetória do pai, dando aulas. “Quando a situação tornou-se insustentável na Pampulha, por causa da poluição, viemos para a lagoa dos Ingleses, um local com água mais pura e que favorece a prática do esporte”, declara Augustus Ligório. 

Lagoa da Pampulha era um polo que perdeu força

Antes de a lagoa dos Ingleses se tornar uma referência para praticantes de esportes náuticos, um lugar da capital mineira era um polo dessas modalidades. A lagoa da Pampulha aproveitou, por anos, todo seu potencial para a prática de esportes como vela, remo e canoagem. O início dessa história aconteceu nos anos 40, quando três clubes náuticos marcavam presença por ali.

Com o passar dos anos, a poluição na lagoa da Pampulha e o descaso do governo fizeram com que o local se tornasse inviável para qualquer tipo de atividade esportiva.

A prática de modalidades pôde ser vista até por volta dos anos 2000. “Hoje, esse local serve somente para político fazer campanha. Lembro-me de competição de motonáutica e vela nos aniversários da cidade. Atualmente, o nível de poluição impede qualquer prática”, lamenta Augustus Ligório, filho de Afonso Ligório, que dava aulas de remo na Pampulha.

Aulas facilitam acesso e acabam com preconceito



A disponibilidade de aulas, com instrutores com anos de experiência, facilita para que interessados em praticar esportes náuticos possam ter os primeiros contatos com as modalidades. Uma ideia que muitas pessoas possuem é de um alto investimento primordial.

“Existem diversos planos e modalidades nas escolas, tanto para aprender quanto para praticar regularmente o esporte preferido. Talvez uma dificuldade maior do que o investimento seria a distância do público de Belo Horizonte e demais cidades da região”, afirma Rafael Machado, professor e praticante de vela.

“Há 20 anos, o windsurfe era considerado um esporte elitizado. Hoje, ele é acessível a todas as classes. Pode-se dizer que praticar essa modalidade sai mais barato que a prática do ciclismo”, comenta André Maciel, professor do esporte na lagoa dos Ingleses. A união de instrutores, inclusive, deu origem à Associação Mineira de Esportes Náuticos (Amen).