Mais do que ninguém, o técnico espanhol Jesus Morlán, falecido em novembro de 2018, vítima de câncer, sabia da sua limitação para seguir ativo nos treinamentos ao lado de Isaquias Queiroz e Erlon de Souza, os dois maiores nomes do país na canoagem de velocidade. Premiado como melhor atleta do país no Prêmio Brasil Olímpico, poucos dias depois da passagem do seu treinador, Isaquias hoje vê de forma mais clara a intenção do espanhol, que começava, aos poucos, a preparar o terreno.

“Parece que ainda estamos naquele período quando ele ‘abandonava’ a gente, dizia que não era tão necessário estar junto. Ele foi nos preparando para sua ausência, ficava menos na casa onde morávamos juntos e se mudou para um hotel. Às vezes, eu ia lá tomar café da manhã com ele, que já imaginava que isso poderia acontecer. Acho que fez isso pra gente ir se acostumando a não tê-lo por perto. Foi se afastando aos poucos e o Lauro Júnior, seu assistente, foi tomando as rédeas do treinamento. Até hoje, a gente ainda imagina que ele está no hotel ou viajando, em alguns momentos”, conta Isaquias.

“Ele foi um técnico maravilhoso, excelente, soube ensinar a gente muito bem. Agora seguimos seus ensinamentos, pensando em uma próxima medalha olímpica em sua homenagem. Nosso maior foco será o Pré-Olímpico que vai acontecer na Hungria. Será um momento especial para darmos esta felicidade pra ele”, completa.

Outra perspectiva

O atleta brasileiro, que conquistou três medalhas na Olimpíada do Rio de Janeiro (duas pratas e um bronze), entende, hoje, de outra forma a decisão do espanhol, que já faz muita falta.

“Imagino que a ideia era a gente começar a pegar mais intimidade com o Lauro, se sentir mais à vontade e seguir os treinamentos. Acho que vamos sentir mais saudade quando estivermos nos aproximando dos torneios e o cansaço bater. Nessa hora, ele aparecia com seus gritos de incentivo, que sempre faziam a diferença. Ele sabia jogar a gente pra cima. Foi uma perda muito grande, sentimos saudades de um treinador excelente, fora de série. Nunca vi um cara como ele. Minha admiração é ainda maior pelo fato de ele ter deixado a família longe, mesmo doente. Ele poderia muito bem ter optado por estar perto da mulher, da filha, mas quis seguir no Brasil para estar perto dos nossos treinos”, afirma Isaquias Queiroz.

Melhor momento de 2018

Marcante

Com o reconhecimento de melhor atleta masculino do Prêmio Brasil Olímpico em mãos, Isaquias Queiroz se lembrou de um dos dias mais importantes de 2018 com o técnico Jesus Morlán. “A gente estava no mesmo voo para Portugal, onde foi disputado esse Mundial em que me tornei tricampeão. Ele já estava debilitado e foi de classe executiva. Eu fiz questão de ir na mesma classe para estar perto dele”, conta. 

Prosa boa

“Por sorte, a senhora que sentaria ao seu lado trocou de lugar comigo e pudemos conversar longamente sobre muitas coisas. Foi muito legal estar com ele ali, é algo que vou lembrar sempre”, revela.

Nova meta

Um dos maiores focos de Isaquias, agora, serão as provas de 500 m, que o fizeram tricampeão. O formato também entrará nas Olimpíadas em 2020.