Perigo

Cadeiras podem ferir torcedor no Horto

Falta de dispositivo de proteção nos assentos da Arena Independência tem causado acidentes

Por Daniel Ottoni
Publicado em 07 de outubro de 2018 | 08:00
 
 
Ausência de item de segurança fundamental nas cadeiras dobráveis dos anéis intermediário e inferior do estádio tem vitimado frequentadores Antônio Anderson

Uma falha nas cadeiras dobráveis dos anéis intermediário e inferior da Arena Independência tem oferecido um grande risco de uma grave lesão para os torcedores. A falta de um mecanismo de segurança foi a responsável por casos que seguem acontecendo. O único que a LuArenas, administradora do estádio, reconhece aconteceu há um ano e fez com que um menino de 7 anos machucasse a mão. De lá pra cá, novos acidentes seguem acontecendo, a maior parte com crianças.

Apesar da reincidência, a administradora garante o conhecimento de uma única situação, em virtude de ação na Justiça. Em acordo, ficou estipulado que a empresa deveria realizar manutenção periódica. “Eles deveriam ter sido mais cobrados, talvez com um prazo para oferecer segurança, sob o risco de as cadeiras serem interditadas”, comenta a fisioterapeuta Shirley Bregunci, cujo filho foi a vítima. No hospital, ela encontrou um outro jovem que havia passado pela mesma situação, no mesmo dia.

“Eles alegaram que eu não poderia comprovar a responsabilidade, uma testemunha precisou depor. Foi um acordo sem valores envolvidos, a intenção era que o problema fosse resolvido”, detalha. No laudo do Ministério Público, são apresentadas fotos das falhas e também das cadeiras do Mineirão, que não oferecem riscos aos torcedores. “Em diversas cadeiras, não foram encontrados os dispositivos ‘canopla’ de proteção. Trata-se de item de segurança fundamental para esses assentos e sem o qual a cadeira deverá ficar interditada”, afirma o documento.

Recorrente

A equipe que presta atendimento no Horto, que não possui autorização para suturas, não quis se manifestar sobre o assunto. No entanto, os pais relataram que, durante o atendimento, lhes foi dito que a situação é recorrente. “Fomos informados de que casos como esse acontecem com frequência. No dia, verificamos que outras cadeiras tinham o mesmo problema. Pra mim, é evidente a falta de manutenção. Meu filho poderia ter perdido a ponta do dedo, ele ficou sem a unha e precisou tomar pontos. A postura da administradora deveria ser outra”, protesta o engenheiro civil Rafael Gontijo, que viu seu filho passar pelo mesmo problema no Dia dos Pais.

 

Situação segue sem solução à vista

Há um ano, a LuArenas precisou se defender após ser acionada na Justiça pela fisioterapeuta Shirley Bregunci. O filho dela se feriu em uma das cadeiras da Arena Independência. No entanto, as garantias feitas não se cumpriram, e novos casos seguiram acontecendo. Durante o processo, a Arena Independência, admitiu que “o modelo escolhido está mais suscetível ao vandalismo” e indica que “essa proteção, ao longo do tempo, se desgasta e rompe”. Apesar da afirmação da administradora de que, “antes de cada jogo, as cadeiras são conferidas uma a uma, com a proteção sendo substituída sempre que necessário”, a realidade parece ser outra. No documento, a empresa se prontifica a resolver o problema.

Procurada há cerca de dez dias, a LuArenas afirmou que “mantém equipe de manutenção e que também faz rigoroso controle e orienta que as crianças fiquem sob supervisão constante de um adulto”, declara.

Justiça foi solução necessária

Sem retorno

A fisioterapeuta Shirley Bregunci recorreu à justiça após não ver outra solução. “Mandei e-mail para a LuArenas e fiz uma denúncia no Ministério Público. Não tive retorno e entrei com uma ação no Juizado de Pequenas Causas”, afirma.

Sem garantias

“No dia da inspeção, o gerente da Arena Independência, Helber Gurgel não apresentou especificações técnicas, laudo de conformidade do mobiliário e relatório sobre programa de manutenção preventiva e corretiva das cadeiras”, informa laudo do MP.

 

Minientrevista

Rafael Gontijo

Engenheiro civil

O Dia dos Pais, que era para ser de festa e diversão, para Rafael Gontijo e seu filho, se transformou com o imprevisto; a falha nos assentos segue presente, oferecendo novos riscos.

Como foi o incidente?

Estávamos na arquibancada, perto de onde fica a charanga do Galo. Era um grupo de 15 pessoas, com muitas crianças, já que era Dia dos Pais. Meu filho prendeu o dedo quando foi sentar na cadeira. Tivemos que sair correndo para o atendimento e não conseguimos ver o jogo, já que ele precisou levar pontos em um hospital, fora do estádio.

O que foi informado para vocês no atendimento?

A pessoa responsável garantiu que situações como essa são normais e corriqueiras. Em quase todos os jogos, aparecem crianças com o mesmo tipo de problema por conta dessa falha na cadeira. No estádio, eles não possuem autorização para fazer suturas e precisei sair, antes mesmo de o jogo começar, para ir a um hospital.

O que você acha que deveria ser feito?

No mínimo, uma manutenção mais rigorosa da situação das cadeiras. Pudemos verificar que outros assentos apresentavam o mesmo tipo de problema. Acho que existe uma falha de inspeção dos responsáveis pela segurança. É um problema recorrente. O que aconteceu gerou uma comoção no pessoal que estava com a gente, estragou nosso dia. Chamei meu filho para ir ao estádio mais duas vezes depois disso, e ele se recusou, está traumatizado. Precisou levar pontos, a unha foi arrancada e ele poderia ter perdido parte do dedo. Pra mim, é evidente a falta de manutenção, e a administradora deveria garantir que não exista risco para os torcedores. Precisa ficar o alerta para que isso não volte a acontecer.