Impacto no futebol

Coronavírus freia adesão de sócio-torcedores de Cruzeiro e Galo; entenda cenário

Rivais lançaram novos programas de sócios recentemente e já sentem reflexo no quadro; especialista dá dica de como manter o relacionamento com o torcedor neste momento de crise

Por Thiago Nogueira
Publicado em 07 de abril de 2020 | 13:06
 
 
Mineirão voltará a ter divisão 'meio a meio' entre as torcidas de Atlético e Cruzeiro no sábado (2) Bruno Cantini/Atlético e Vinnicius Silva/Cruzeiro

A crise provocada pela pandemia de coronavírus paralisou campeonatos e treinamentos em todo o mundo, impactando diretamente a indústria do futebol. Além da perda de receita com bilheteria e direitos de transmissão (em discussão), os programas de sócio-torcedores também foram duramente atingidos.

Cruzeiro e Atlético viviam fases de ascensão na tentativa de captar novos associados. A Raposa lançou, em janeiro, o Sócio Reconstrução, que pedia a participação de seus torcedores no trabalho de reestruturação após as mazelas da antiga diretoria e a queda para a Série B. O Galo teve ainda menos tempo de fidelizar novos adeptos. O clube anunciou o novo Galo na Veia no dia 10 de março e, menos de uma semana depois, os governos estadual e municipais publicaram decretos fechando estabelecimentos comerciais e restringindo a circulação de pessoas.

O Cruzeiro tinha, no começo do ano, cerca de 20 mil sócios. Com a campanha do Reconstrução, viu a curva de associados subir para quase 57 mil, em números atuais. Nessa modalidade, o torcedor pagar R$ 12 mensais, com fidelidade de seis ou um ano. Por causa dessa carência, o clube ainda não registrou queda nessa categoria, mas teme que isso impacte os outros planos.

"Ainda não deu para sentir o impacto negativo. Não tivemos cancelamento (do Reconstrução). Vão precisar aguardar mais uns dois meses. Mas quem era sócio no passado, tivemos uma perda por alguns motivos, não só pelo coronavírus. O fato de o time ter caído para a segunda divisão, não ter um time como no ano passado, começamos a ter uma certa dificuldade para reter esse sócio também", avalia Bruno Bechelany, responsável pelo relacionamento com o torcedor cruzeirense. Só em abril, o Cruzeiro tem cerca de 2.000 sócios com contratos vencendo que poderão ou não ser renovados.

 No Atlético, apesar do pouco entre o lançamento e o início das medidas restritivas no Brasil, cerca de 10 mil atleticanos aderiram aos novos planos, que tem preço de R$ 10, R$ 20 e R$ 30 mensais. "Tivemos um lançamento muito bem sucedido. Até que veio essa onda, a adesão estava muito positiva. O momento do sócio é de preocupação. Não vamos ficar insistindo com ele, pensando em futebol numa hora dessa, dividindo suas prioridades. O futebol tem suas necessidades, precisa do sócio torcedor, mais do que nunca, como sustentação para seus projetos, mas há de se ter também a sensibilidade no momento", pondera o gerente do programa alvinegro, Américo Rincón.

Hora de reforçar o relacionamento

Head de negócios da Feng Brasil, empresa especializada em projetos de engajamento de torcedores, André Monnerat é responsável pela venda de season tickets do Allianz Parque e administra os programas de sócio-torcedor de Flamengo, Santos e Vasco. Para ele, neste momento de crise, é necessário estreitar a relação com os torcedores, para que eles não deixem de contribuir.

"É preciso passar a mensagem para quem é apaixonado pelo seu clube que ser sócio é sempre um orgulho, uma afirmação da sua identidade, uma forma de constituir o clube. Isso pode ser reforçado com ações de comunicação, produzindo conteúdos criativos, fazendo a entrega de valores intangíveis, que mexam com o orgulho e o emocional do torcedor", destaca.

Mesmo com a pandemia ainda em curso e sem perspectivas da retomada dos campeonatos, alguns clubes já realizaram algumas campanhas na tentativa de manter seus sócio-torcedores. O Fluminense vai dar descontos extras de acordo com o número de partidas suspensas pela paralisação. A pontuação pelo pagamento em dia durante a quarentena também terá valor dobrado no lançamento do novo programa, no segundo semestre. O Palmeiras avisou seus torcedores que dará créditos futuros, após o encerramento do plano regular, para compensar o período sem atividade. Cruzeiro e Atlético também estudam medidas semelhantes.

O Ceará apelou para a criatividade e abriu o check-in para um duelo simbólico contra o Coronavírus, marcado para o último domingo (5), que teve o "comparecimento" de 15 mil torcedores. O Bahia fez uma ação mais concreta. Os sócios que não cancelarem ou mudarem de plano na quarentena terão seus nomes grafados em um monumento que será erguido em seu centro de treinamento. "Ao mesmo tempo em que ele pede para o torcedor permanecer sócio e colocar o nome num grande escudo no centro de treinamento, a ação entrega um valor intangível, que o torcedor vai se orgulhar", comenta Monnerat.