Aventura radical

Para observar piranhas e jacarés à noite

Entre os passeios preferidos pelos turistas, especialmente estrangeiros, estão a observação de animais hostis e extremamente vorazes em seu habitat

Por Tânia Ramos
Publicado em 19 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
Durante visita à mata, a grande surpresa foi encontrar jacaré escondido em meio às folhagens, quase imperceptível Mateus Baranowski/Divulgação

De nossas aventuras na selva, a pesca de piranhas e a focagem de jacarés, na região de Manaquiri, foram, sem dúvida alguma, as mais radicais. E não sem motivo: os bichos são belos sim, mas extremamente hostis e vorazes.

Na tarde do primeiro dia, rumamos para um igarapé – na cheia, os peixes se concentram nessas áreas, de alimentação farta. A primeira orientação de nosso dublê de guia e pescador, André Costa, foi que ninguém retirasse os peixes do anzol. Opa! Quem disse que eu me aventuraria a tanto? Mas essa informação aquietou a todos.

Depois de escolhido o local que ele julgou bom pra pesca, lançamos os anzóis às águas. Foi uma eternidade até que uma piranha mordesse a isca – e fosse fisgada, porque perdemos a conta de quantas foram comidas ou foram embora. Mas o pior: pesquei só filhotes. Enquanto isso, dois jovens norte-americanos pescavam piranhas “gigantes”, verdadeiros “fishermen”; depois, o pai entrou na corrida, e um casal de brasileiros também.

Olhos de fogo

À noite, fomos ao encontro de jacarés com Conrado, o guia encantador de animais, com olhos de lince. Distante das margens, ele já enxergava o bicho sob as águas, formando um caminho de pontinhos vermelhos, como pessoas fumando na escuridão.

A certa altura, ele viu um filhote às margens do igarapé, pediu ao nosso piloto (são todos bem-treinados) que aproximasse a lancha devagar e deu o bote, agarrando o bicho meio desorientado com o facho de luz. Ele ainda insistiu em encontrar um maior, o que não deu naquela noite, mas já estávamos todos satisfeitos com o que havíamos visto e tocado.

FOTO: Mateus Baranowski/Divulgação
Durante visita à mata, a grande surpresa foi encontrar jacaré escondido 

Na volta, há 100 m da vegetação, Conrado ainda conseguiu enxergar os olhos de uma cobra dormindo sobre uma árvore. Aproximaram a lancha, ele tentou mostrá-la, indicou o galho da árvore, lançou fachos de luz de lanterna pequena e de uma do tipo holofote, mas nada. Não fosse nosso colega fotógrafo Gabriel tê-la registrado com uma superlente, nosso guia teria sido desacreditado por nossos olhos “míopes”.

Tarde e manhã na doce companhia de ribeirinhos e da mata
 
Para assegurar as vivências amazônicas, o dia a bordo no Iberostar começa bem cedo. Na manhã seguinte à partida, fizemos um passeio de lancha para nosso primeiro contato com a fauna e a flora às margens do rio e dos igarapés na região de Janauacá. Logo de cara, o guia Luiz Epifânio nos apresentou a árvore-símbolo da Amazônia: a samaúma (ou sumaúma), seguida de seringueira e, entre outras, açaí. Ainda avistamos pássaros como sangue de boi e marreco, além de revoadas de várias espécies deixando o local de dormitório, borboletas, libélulas (inclusive uma azul) e jacarés.
 
Nosso destino foi a casa de dona Léia (Luiza Paulino Sevalho, 53, nove filhos e seis netos, que vive ali há 31 anos) para conhecer o cotidiano caboclo. Gentilmente, ela nos aguardava com a mesa posta com frutas da região, tapioca e farinha de mandioca (ou macaxeira) típicas do Amazonas, além de uma cachaça curtida com muitas frutas locais – uma delícia!
 
No quintal dela, vimos de perto a árvore do cupuaçu, ingazeiro (de metro) e jambu, a folha que provoca dormência na boca e compõe um dos pratos típicos do Estado, o tacacá. Ainda visitamos a casa de farinha, onde Epifânio nos introduziu na fabricação do produto e do tucupi, o caldo da mandioca-brava, que, depois de fermentado por quatro dias para liberar o veneno (cianeto), transforma-se neste famoso ingrediente de pratos da gastronomia do Amazonas ao Pará.
 
Ao raiar do sol
 
No segundo dia, às 5h45 da manhã, partíamos para um passeio matinal na região de Manacapurú. No repertório, o espetáculo do nascer do sol, ao som do despertar da Amazônia, formado por uma sinfonia de pássaros. Adentramos um igarapé, onde pudemos observar o amanhecer numa comunidade ribeirinha, com pessoas espreguiçando-se nas sacadas de suas palafitas ou partindo em canoas (com motor de rabeta) para a lida diária.
 
Assim como no dia anterior, fomos acompanhados por constantes exibições de botos cinzas, que, tão rápidos como emergiam, voltavam às profundezas do rio. Difícil eternizá-los (ao menos, a contento) pelas lentes de nossas câmeras.
 
Pelas mãos de Piro, nas trilhas da floresta
 
Depois de um reforçado café da manhã, deixamos o navio para, enfim, adentrarmos a selva. Numa caminhada de quase duas horas, em que sequer vimos o tempo passar, fomos conduzidos pelo guia Piro aos mistérios da floresta. Com sua ancestralidade inca e experiências da Amazônia peruana à brasileira, onde vive desde os 15 anos (hoje, ele tem 50), Piro é meio que um “mago da floresta”, que dialoga com cada árvore e cada animal, passando aos visitantes um profundo respeito por aquele santuário natural.
 
Tão logo iniciamos a jornada, na altura do lago Santana – utilizado pelos moradores como criatório do tambaqui –, seu olhar apurado voltou-se para o pé de uma árvore, de onde retirou, com um galho seco, uma tucandeira, a formiga utilizada em rituais indígenas de iniciação, cuja picada provoca dor intensa, febre e ínguas pelo corpo, podendo vir a matar.
 
No percurso, deparamos-nos com árvores alimentícias e medicinais, como a bacabá, uma palmeira que fornece um fruto tão ou mais rico em nutrientes do que o açaí; s árvore amapá, da qual se extrai um leite que serve de alimento e remédio; breu-branco, cuja vaporização da casca trata sinusite, por exemplo e ainda expele uma resina de autoproteção, utilizada na fabricação de cosméticos; e a macacaúba (do tupi, que significa “árvore do macaco”), que fornece um fruto do qual, após um mês de maceração, extrai-se uma pasta que “é alho puro”, garante Piro.
 
Selva adentro, achados vitais para a sobrevivência: a palmeira palha-branca (ou babaçu), usada na cobertura de cabanas como localizador, já que as palhas refletem na escuridão, além de servir de tocha para andar à noite e espantar animais selvagens; e a matamatá, que oferece uma fibra para confecção de redes de pesca e de dormir. O cipó-d’água, que, confirmado por pesquisadores norte-americanos, oferece a “água mais pura do mundo”. 

Árvore (I)

Uma escada para o céu

Símbolo da Amazônia, a samaúma (ou sumaúma) é considerada pelos índios a mãe de todas as árvores. Tipicamente amazônica, ele pode chegar a 75 m de altura. Por suas raízes sapobemba (ocas), a também rainha da floresta ou escada do céu é usada para a comunicação de tribos, o que lhe rendeu o apelido de “telefone de índio”. Os povos da floresta lhe atribuem poderes mágicos, inclusive os de proteger às demais árvores.

Árvore (II)

Páreo duro na derrubada

Nessa linhagem de árvores gigantes da Amazônia, o angelim aparece em segundo lugar, com até 60 m de altura. Das cerca de dez espécies, as mais comuns na região são os rajado e pedra. Pelo fato desse último ser uma madeira dura e resistente, o que dificulta sua derrubada, o angelim é chamado de senhor da floresta. É uma árvore milenar, tendo sido encontrado exemplar de até 1.500 anos, diz a cientista do Museu da Amazônia, Tatiane Ribeiro. 

Árvore (III)

Resistência sob as águas

O assacú (ou açacu), que pode chegar a 40 m de altura, é também conhecida entre os nativos como árvore-do-diabo, devido a sua alta toxidade. Porém, é uma árvore de vital importância para as comunidades ribeirinhas. Como sua madeira pode resistir debaixo d'água até 30 anos, segundo o guia Luiz Epifânio, ela é a principal matéria-prima na construção de palafitas e casas flutuantes.  

Vitória-régia (I)
 

Uma lenda de fascínio e amor
 

Reza a lenda tupi-guarani que a índia Naiá, descansando à beira de um lago, viu a Lua (Jaci, para os índios) refletida em sua superfície, atirando-se nas águas e morrendo afogada. A lua, para recompensar o sacrifício da jovem, transformou-a em uma estrela diferente de todas as que brilham no céu, a "estrela das águas", a perfeita vitória-régia. Por isso, as flores só se abrem à noite, num gesto de amor. 

Vitória-régia (II)
 

Planta aquática faz homenagem real
 

Típica da Amazônia, a gigante planta aquática (ou nenúfar) Victoria amazonica, com folhas circulares que atingem 2,5 m de diâmetro, ganhou o nome de vitória-régia em meados do século XIX como homenagem à rainha Vitória, que, em visita ao Brasil, teria levado sua semente para plantá-la na residência real. 

Vitória-régia (III)
 

De tão bela flor quanto de vida curta
 

Com notável capacidade de flutuação, devido a uma rede de grossas nervuras e compartimentos de ar em sua face interior, além de canais superiores para o escoamento da água, a vitória-régia  sobrevive somente de três a quatro semanas e as flores, três dias - porém, mesmo com tão curta vida, ela exibe uma cartela de cores: nasce branca, fica rosada e, ao atingir a cor púrpura, mergulha nas águas para espalhar suas sementes.

Serviço

Cruzeiro fluvial. Iberostar Grand Amazon

Spa: é o único serviço pago no all inclusive Iberostar Grand Amazon, com massagens - reflexologia (pés e mãos) e relaxante - de 30 minutos a R$ 90 e, de uma hora, a R$ 180.

Promoção 1. Nas compras antecipadas, desconto de até 15% sobre o total (inclusive para Natal e réveillon).

 
Promoção 2. Segundo passageiro grátis, em cabine dupla, de 22/9 a 23/10.
 
Promoção 3. Crianças de 8 anos (idade mínima aceita no navio) a 12 anos incompletos pagam 50% das tarifas em quarto duplo.
 
Diárias (baixa temporada): Cabines Mandí (R$ 855, dupla, e R$ 1.112, single), Tambaquí (R$ 983, dupla, e R$ 1.278, single), e Acará (R$ 1.026, dupla, e R$ 1.334, single); as suítes saem a (R$ 1.197, dupla, e R$ 1.556, single). Preços válidos para cruzeiros de três, quatro e sete noites.
 
Receptivo (traslado e city tour). Amazon Eco Sight. (92) 3673-9346 / 3671-5432 ou www.amazonecosight.com.br 
 
Informações e reservas: (92) 2126-9927 ou www.thegrandcollection.com