A execução de Robert Roberson, marcada para as 18h do horário local (Texas/EUA) nessa quinta-feira (17/10), foi suspensa a poucas horas de ocorrer. Após inúmeras tentativas mal-sucedidas e recursos negados nos últimos meses, a defesa conseguiu mais tempo para tentar provar a inocência do americano.
Há 21 anos no corredor da morte pelo assassinato da filha de 2 anos, Roberson sempre se declarou inocente. Ele seria a primeira pessoa a ser executada com base na 'síndrome do bebê sacudido', condição física que foi, anos após o caso, descreditada pela ciência.
Ao longo da semana, inúmeros recursos foram negados pela justiça, incluindo dois na quarta-feira, véspera da execução, e um na quinta-feira pela manhã. Nesta semana, o Conselho de Perdões e Liberdade Condicional do Texas negou a recomendação de clemência, deixando a decisão de cancelamento da condenação à morte nas mãos do governador Greg Abbott.
Conforme reportou a CBS News, os médicos e enfermeiros já estavam prontos para o procedimento da injeção letal quando a ordem para a suspensão foi dada. Os advogados de Roberson e outros legisladores estaduais entraram com um recurso civil de última hora na Suprema Corte do Texas para suspender a execução, e ele foi concedido. Roberson foi novamente intimado a depor, e advogados acreditam que ele mereça um novo julgamento, já que novas provas foram disponibilizadas nos últimos anos.
Organizações como a The Innocence Project, que lutam para provar inocência de pessoas no corredor da morte, se dedicaram ao caso nos últimos meses. Pelas redes sociais, começou uma campanha pedindo que pessoas do mundo inteiro ligassem para o governador do Texas e pedissem clemência para Roberson, além de levar o caso à imprensa mundial.
Detetive que prendeu Roberson se diz arrependido
Neste ano, o detetive principal do caso de 2003 resolveu lutar pela libertação de Roberson. Brian Wharton, um dos responsáveis pela condenação, foi o primeiro a atender o chamado do hospital quando o homem levou a filha, de 2 anos, desacordada. Hoje, ele afirma que se "arrepende amargamente" do papel que teve no caso, e luta por clemência. O ex-detetive largou a vida na polícia e agora se dedica ao clero.
O que aconteceu
Nikki Roberson, 2 anos, faleceu na cidade de Palestine, no Texas, em janeiro de 2002. Ela foi levada ao hospital pelo pai, Robert, que imediatamente se tornou suspeito de assassinado.
Chamado pela equipe médica, o detetive Brian Wharton afirmou que quando viu o pai da garota pela primeira vez, ele não demonstrava nenhuma emoção, por isso, desconfiou que ele teria causado a morte da filha. Os médicos que atenderam a menina afirmaram que ela tinha sintomas de "síndrome do bebê sacudido", uma condição causada por crianças sacudidas violentamente por adultos.
O testemunho do detetive e dos médicos foi o suficiente para condenar Robert Roberson à morte em 2003. Hoje, porém, a chamada "síndrome do bebê sacudido" foi descreditada pela ciência e não é mais considerada uma condição médica real. Por isso, segundo investigadores, a menina, que tinha problemas de saúde desde seu nascimento, pode ter morrido devido a comorbidades pré-existentes. Ela, inclusive, havia sido diagnosticada com pneumonia no momento de sua morte.
Já na cadeia, Roberson também foi diagnosticado com uma condição, a do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que, segundo entidades que lutam pela libertação de condenados à morte, como o The Innocence Project, pode explicar a 'falta de emoção' usada para justificar o veredito.
Apesar das novas evidências apresentadas ao tribunal e o depoimento de pessoas-chave no caso, inclusive do detetive Brian Wharton, Roberson não foi solto e está com a execução marcada para a próxima quinta-feira (17 de outubro). Durante os mais de 20 anos, ele defendeu ser inocente.