A candidata democrata Kamala Harris assumiu a missão de defender o legado da atual administração enquanto propõe avanços em áreas consideradas críticas. Donald Trump, buscando retornar à Casa Branca, explora as vulnerabilidades do governo atual, com foco especial na economia e na segurança nacional. Nesse cenário, a questão migratória emerge como um dos temas mais controversos da campanha.

De acordo com Luciana Mello, professora do Centro Universitário IBMR e especialista em história das relações internacionais e gestão de políticas públicas em gênero e raça, “a questão da imigração sempre foi central para os Estados Unidos, tradicionalmente um destino para pessoas em busca de oportunidades ou fugindo de crises”. Ela ressalta que períodos de instabilidade econômica tendem a intensificar tensões sobre o tema.

“Momentos de crise geram a sensação de que as questões de trabalho são cruciais e acabam por resgatar esse temor do imigrante que chega pra tomar vagas de trabalho. Na realidade, não é o que vemos; o perfil do imigrante que vai para os EUA não é necessariamente esse que consegue um posto de trabalho mais qualificado, com uma melhor remuneração”, explica. Dados do Instituto Tiff de 2024 mostram que 67% dos imigrantes nos EUA ocupam posições essenciais para a economia americana, principalmente em setores como agricultura, construção civil e serviços, onde há escassez de mão de obra local.

As propostas dos candidatos para a questão são diametralmente opostas. Kamala defende uma reforma abrangente, que inclui um caminho para a cidadania dos “dreamers” – jovens que chegaram ao país ainda crianças – e investimento em tecnologia de monitoramento fronteiriço. Trump, em contrapartida, promete retomar políticas mais restritivas, incluindo deportações em massa e o fim do direito à cidadania por nascimento, seguindo tendência já observada em alguns países europeus. 

Segundo o especialista em negócios e relações internacionais Daniel Toledo, as propostas feitas por Trump para a questão, em sua maioria, são “inexequíveis”. “Ele não tem maioria no Congresso, então a única forma de ele implantar metade do que promete é criar um governo ditatorial e persecutório – o que eu duvido que será permitido”, pondera o especialista.

Conflitos globais

A política externa emerge como outro campo de batalha decisivo. O envio de ajuda bilionária à Ucrânia e a Israel expõe divisões profundas no eleitorado americano. Enquanto Kamala defende a manutenção do papel dos EUA como fiador da estabilidade global, Trump advoga por uma política externa mais isolacionista. A democrata propõe fortalecer alianças tradicionais e manter o apoio a Kiev, enquanto articula uma solução diplomática para o conflito Israel-Hamas que considere questões humanitárias. Trump promete reavaliar compromissos com a Otan, buscar aproximação com Putin e adotar postura mais unilateral no Oriente Médio.

O pleito de 2024 deve mobilizar mais de 160 milhões de eleitores, superando os números históricos de 2020. Em um momento em que potências rivais desafiam a hegemonia estadunidense no cenário internacional, a escolha do próximo ocupante da Casa Branca transcende suas fronteiras e pode redefinir o equilíbrio de poder global nas próximas décadas.

Candidaturas divergem sobre papel do Estado

No campo social, os candidatos a presidente dos EUA apresentam visões contrastantes sobre o papel do Estado. Kamala Harris propõe expandir o sistema de saúde Medicare para incluir cobertura odontológica e oftalmológica, além de reduzir a idade mínima de elegibilidade para 60 anos. Sua plataforma inclui um programa federal de habitação acessível de US$ 100 bilhões e aumento do salário mínimo federal para US$ 15 por hora. 

Donald Trump, por sua vez, promete desregulamentação do setor de saúde para reduzir custos, argumentando que a competição de mercado beneficiará os consumidores. Em habitação, defende incentivos fiscais para construção privada e redução de regulamentações. Ele se opõe ao aumento do salário mínimo federal, alegando que a medida prejudicaria pequenos negócios e causaria desemprego.

Clima e tecnologia

A questão climática amplifica o contraste entre as candidaturas. Kamala promete investir US$ 2 trilhões em energia limpa e infraestrutura verde, visando à neutralidade de carbono e à geração de empregos no setor. Trump, que retirou os EUA do Acordo de Paris em seu mandato anterior, defende a expansão da produção de combustíveis fósseis e promete desregulamentar o setor energético, argumentando que restrições ambientais prejudicam a competitividade.