Já conhecido em todo o mundo, o ex-presidente Donald Trump, 78, volta à cena política neste ano para sua terceira candidatura. Após sofrer dois processos de impeachment ao longo do mandato (2017-2021), ser considerado culpado de fraude e abuso sexual e condenado por crimes, ele foi indicado pelo Partido Republicano à corrida eleitoral. Agora aposta todas as fichas para garantir a volta por cima, com o que seria “um retorno triunfal” à Casa Branca.

Se a situação judicial não joga a favor do magnata, ele tem outras “cartas na manga”. Entre elas, o fato de ser uma liderança consolidada entre os republicanos e manter uma fala assertiva em relação ao seu eleitorado e, especialmente, a insatisfação popular em relação ao atual momento da economia. 

Esse ponto não é novidade, de acordo com o professor de política internacional do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Pereira Rezende. “Foram discutidos também na não reeleição do próprio Trump, mas agora isso é usado como vantagem para ele em relação à adversária”, explica. E, com seu jeito direto de atacar o oponente, por vezes “com golpes abaixo da linha da cintura”, Trump sabe bem explorar a raiva dos estadunidenses com a inflação e os juros altos.

Além disso, Pereira destaca os posicionamentos sobre “políticas populistas”. “É o caso de imigração, aborto, igualdade de gênero e de raça. Para um eleitorado que tem resistência grande a políticas progressistas, Trump representa um resgate, digamos, dos Estados Unidos brancos. Ele tem apelo muito popular, mesmo que com discurso improvável de ser executado”, observa.

Nesse aspecto, o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, chama a atenção para a capacidade de comunicação do ex-presidente. “É um ativo importante, de alguém que foi até showman no passado, que esteve à frente de programas de televisão e consegue se comunicar diretamente com o eleitorado de uma maneira mais direta”, pondera.

Donald Trump foi o 45º presidente dos Estados Unidos, eleito em 2016. Nasceu no Queens, Nova York, filho de Fred Trump, magnata do setor imobiliário, e Mary Anne MacLeod Trump, imigrante escocesa. Depois de se formar em economia na Wharton School, recebeu herança milionária e assumiu os negócios da família, expandindo os empreendimentos até a cifra de bilhões, apesar de enfrentar falências corporativas.

Sua candidatura à Presidência foi oficializada em julho, na Convenção Republicana. Poucos dias antes, ele tinha sido vítima de atentado durante um comício. Embora obviamente indesejado, o episódio ajudou a agrupar partidários, conforme pontua Consentino. (Com AFP)

Reedição do passado e pouco apreço aos valores democráticos

Em oposição às características pessoais de sua adversária, o republicano Donald Trump é um homem branco, mais velho e representante da chamada “American Wasp” (White, Anglo-Saxon and Protestant)”, define o cientista político Leandro Consentino. “Para além de defender esses grupos, ele próprio encarna esse perfil”, explica.

Isso envolve a ideia de que certos direitos progressistas não são desejados no país. “É uma visão de que passaram do limite nos últimos tempos. Portanto, devem ser abolidos ou diminuídos, pois se chocariam com valores da família tradicional. É uma visão extremamente protestante, de que o Estado deve proteger certos grupos de interesses”, diz.

Por isso, Consentino acredita que um possível segundo mandato do magnata seria o “recrudescimento daquele governo anterior”. “É a reedição de muitas coisas que ele já buscou no passado, mas agora com aprendizado para contornar certas barreiras em direção a uma América mais conservadora. E com mais liberdade de ação por ter a pandemia”, completa.

Para o professor da UFMG Lucas Pereira, isso aumenta o temor de um segundo governo Trump, caso eleito, mais autoritário. “Já há indícios de movimentações políticas que indicam que ele tentaria um modelo não democrático. O apoio que o empresário Elon Musk tem dado a Trump também representa, de fato, ameaça à democracia”, conclui. Atualmente, Trump ainda está em liberdade sob fiança em dois processos criminais e, em teoria, deverá ser condenado em um terceiro logo após a eleição.

Pontos fracos

Negacionismo climático. Em linhas gerais, Donald Trump representa retrocesso na “agenda verde”, avalia o professor da UFMG Lucas Pereira. “Seu público é sustentado por empresários e pessoas que negam que mudanças climáticas estejam acontecendo”, afirma. Ele busca barrar, por exemplo, ações de transição energética.

Imigração e minorias. A retórica xenófoba e cruel sobre imigrantes se repete nos discursos do republicano, que descreve a chegada de pessoas ilegalmente aos EUA como “invasão” e “envenenamento do sangue americano”. Esse tipo de fala também é destinado a outras minorias, como mulheres e negros. “Trump tem posicionamentos racistas e misóginos frequentes, inclusive com relação a Kamala Harris”, diz Pereira.

Conspiração. Após perder a tentativa de reeleição em 2020, contestou a apuração, sem provas e sem sucesso. No entanto, isso culminou no ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.