O julgamento de Donald Trump por alteração de documentos contábeis para ocultar pagamentos a uma ex-atriz pornô entrou nesta segunda-feira (20) na reta final, com a conclusão do interrogatório de uma testemunha-chave por parte da defesa e alegações finais previstas para a próxima semana.
O juiz Juan Merchan indicou ao abrir a sessão no tribunal de Nova York que seu objetivo é terminar a avaliação do caso nesta semana para que na próxima possa passar aos argumentos finais.
Espera-se um veredicto histórico para o julgamento, que foi o primeiro a colocar um ex-presidente americano no banco dos réus da justiça criminal.
A dúvida que permanece é se Trump testemunhará ou não.
Trump deixou esta pergunta sem resposta ao chegar ao tribunal nesta segunda-feira.
Antes do início do julgamento, em 15 de abril, o bilionário garantiu que testemunharia para "dizer a verdade". Mas especialistas consideram provável que o candidato presidencial republicano desista da ideia, para evitar se expor ao implacável interrogatório da acusação.
Os 12 membros do júri devem avaliar se, para além de qualquer dúvida razoável, Trump é culpado por falsificar 34 documentos contábeis, para disfarçar como despesas legais o pagamento de 130 mil dólares (R$ 665 mil na cotação atual) à ex-atriz pornô Stormy Daniels na reta final das eleições de 2016, quando o republicano derrotou a democrata Hillary Clinton.
Um veredito de culpa exige unanimidade do júri. Se for esse o caso, o juiz deverá posteriormente fixar a pena, que poderá ser de prisão.
Uma condenação criminal seria um acontecimento histórico nos Estados Unidos e um terremoto político em plena campanha presidencial.
Além do caso de Nova York, Trump foi acusado em Washington e na Geórgia de tentar anular os resultados das eleições de 2020 e de levar documentos confidenciais ao deixar a Casa Branca em 2021, embora este julgamento tenha sido adiado indefinidamente.
Interrogatório em ritmo de maratona
Nesta segunda-feira, o advogado de Trump, Todd Blanche, terminou o interrogatório de três dias de Michael Cohen, ex-homem de confiança do magnata.
Cohen incriminou diretamente o seu antigo chefe, alegando que Trump tinha aprovado o pagamento de 130 mil dólares (R$ 664 mil na cotação atual) a Daniels, para comprar o silêncio da ex-atriz pornô sobre uma suposta relação sexual entre os dois em 2006, quando o republicano já era casado com Melania, sua atual esposa.
O advogado assumiu o pagamento em 2016 e afirmou que Trump aprovou o seu reembolso em 2017.
Para a acusação, a questão central é que esta transferência foi camuflada como "despesas legais" nas contas da Trump Organization. O republicano de 77 anos nega o relacionamento com a ex-atriz, afirma inocência e denuncia que o julgamento tem natureza política.
A defesa de Trump fez todo o possível para desqualificar Cohen, descrito por outros envolvidos no julgamento como uma pessoa sem escrúpulos.
Ele foi condenado a três anos de prisão em 2018 por mentir ao Congresso e por fraude eleitoral e fiscal relacionada a este mesmo caso.
Blanche tentou provocar Cohen, conhecido por seu mau humor, mas o ex-funcionário de Trump conseguiu manter a compostura.
19 testemunhas
Cohen encerrou uma série de 19 testemunhas convocadas pela acusação ao longo de quatro semanas, o que levou o júri aos bastidores da campanha presidencial vencida por Trump contra Hillary Clinton em 2016.
As sessões contaram com a participação de vários outros intermediários, como a de um ex-chefe de tabloide que tinha trabalhado diretamente com Cohen e Trump.
Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, também contou com emoção sua experiência ao conhecer Trump e detalhou seu relacionamento sexual com ele, o qual a ex-atriz pornô disse ter sido consensual.
"Não fui ameaçada verbal ou fisicamente", embora houvesse um "desequilíbrio de poder", disse ela.
Trump reclamou novamente nesta segunda-feira que o julgamento, que exige sua presença física, o impede de fazer campanha para as eleições presidenciais de novembro.
"Eles não me permitem fazer nada político, porque estive sentado numa sala fria e escura [do tribunal] durante as últimas quatro semanas. É muito injusto", disse ele aos repórteres. (AFP)