O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, de 63 anos, morreu em um acidente de helicóptero no nordeste do país nesse domingo (19). A morte foi confirmada já na segunda-feira (20) pelo aiatolá Ali Khamenei, em sua conta no X (antigo Twitter). Dentro da aeronave também estava o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian. 

No Irã, o aiatolá é o líder supremo e controla todas as ações políticas, econômicas e militares. Mas a figura do presidente não é apenas ilustrativa. Com a morte de Ebrahim, o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, vai chefiar o país pelos próximos 50 dias, até que novas eleições sejam agendadas.

Nascido em novembro de 1960, Raisi passou a maior parte de sua carreira no sistema judicial. Antes de assumir o posto de presidente, ele foi procurador-geral de Teerã e procurador-geral do país. O falecido presidente estava na lista do governo dos Estados Unidos de autoridades iranianas objetos de sanções por "cumplicidade em graves violações dos direitos humanos", acusações rejeitadas por Teerã.

A morte de Raisi abre um período de incerteza política no Irã, um país muito influente no Oriente Médio, no momento em que a região é abalada pela guerra na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas, grupo islamista aliado da República Islâmica. 

Para o consultor de política internacional, Vito Villar, Ebrahim não era um presidente popular no país e tinha problemas internos com partes da sociedade. “Não é um regime abertamente democrático, embora tenha voto. As pessoas que podem se candidatar ao cargo de presidente passam por uma avaliação da guarda revolucionária e ele foi um dos sete candidatos aprovados, que tinha capacidade de ser eleito. Temos essa área mais ligada às questões internacionais que criticava o presidente, por não ter o controle da economia, por ser militarista, religioso. E a área conservadora que também não estava satisfeita com ele por conta das ações de Israel. Ele não fazia um bom governo, a moeda iraniana se desvalorizou durante o mandato”, explicou.

Sempre vestido com turbante e um longo casaco religioso preto, Raisi sucedeu o moderado Hassan Rohani. Ele tinha o apoio da principal autoridade do país, que ainda no domingo enviou uma mensagem de calma à população e garantiu que a morte não provocará "nenhuma perturbação" na administração da nação.

Em 2021, na sua segunda tentativa nas urnas, Raisi foi eleito presidente do Irã. Assumiu o país em uma situação precária. O governo americano, sob Donald Trump, tinha decidido rever o acordo nuclear estabelecido em 2015 entre o Irã e os Estados Unidos. Era tarefa de Raisi estancar a sangria naquele momento.

Do ponto de vista de potências como EUA e Israel, o acordo nuclear era uma maneira de impedir que o Irã tivesse a bomba. Para o Irã o acordo servia de incentivo político e econômico, aliviando sanções.

Raisi, porém, manteve seu perfil de linha dura e estancou as negociações. Com isso, agravou a crise econômica que assola seu país. Isso é em parte resultado de uma visão de mundo em que enxerga o Irã como uma força de resistência ao poderio americano —e prefere buscar maneiras de sobreviver sem depender de Washington.

O presidente iraniano também entrou em atrito com os EUA devido à morte do general Qassem Suleimani em um ataque americano em 2020. Raisi era próximo de Suleimani e, em mais de uma ocasião, prometeu vingar sua morte.

Ebrahim era o principal cotado para substituir o aiatolá, que está com problemas de saúde. Agora, o país aguarda a data de uma nova eleição, que deve ser realizada nos próximos 50 dias. 

(COM AFP)