O opositor Edmundo González Urrutia, que garante ter vencido as eleições presidenciais da Venezuela, se manifestou nesta terça-feira (30) pedindo aos militares que não reprimam "o povo", depois que pelo menos seis pessoas morreram e outras 132 foram detidas em protestos pela questionada reeleição de Nicolás Maduro.

"Senhores da Força Armada: não há razão alguma para reprimir o povo de Venezuela, não há razão alguma para tanta perseguição", disse González Urrutia em uma concentração de seus apoiadores nesta terça em Caracas, capital da Venezuela.

As mortes foram registradas em seis estados e envolvem dois menores de idade - um de 15 anos e outro de 16. Os números são da ONG Foro Penal, organização que é especializada na defesa de presos políticos.

Além do opositor de Maduro, a Casa Branca também se manifestou hoje afirmando que a repressão aos manifestantes na Venezuela é "inaceitável".

"Qualquer repressão política ou violência contra manifestantes ou opositores é obviamente inaceitável", disse a secretária de imprensa da presidência dos Estados Unidos, Karine Jean-Pierre, aos jornalistas quando questionada sobre as manifestações.

Do lado do regime, o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, disse na noite de segunda que 23 soldados das Forças Armadas foram feridos em confronto com manifestantes.

Oposição acusa fraudes

Esse pode ser o início de mais uma longa jornada de manifestações no país, que vive múltiplas crises há mais de uma década. Liderados pela opositora María Corina Machado, os críticos ao regime denunciam uma fraude no pleito de domingo (28) e afirmam que a votação deu vitória para Edmundo González, candidato que entrou no lugar da líder opositora, inabilitada politicamente.

"Queremos anunciar a todos os venezuelanos e todos os democratas do mundo: já temos como provar a verdade. Conseguimos", disse María Corina a jornalistas nesta segunda. "A diferença foi enorme, em todos os estados da Venezuela."

Horas depois, eles divulgaram o que dizem ser 73% das atas das urnas eletrônicas. No entanto, o sistema estava instável e não era possível visualizá-las. "São milhões de cidadãos na Venezuela e no mundo que querem ver que o seu voto conta. As equipes técnicas em breve restabelecerão o acesso!", publicou Machado na rede social X.

As manifestações foram registradas em várias regiões da capital, e a Guarda Nacional militarizada dispersou várias delas com gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. Também foram ouvidos disparos em alguns bairros, e dois manifestantes derrubaram um enorme painel publicitário com o rosto de Maduro.

No interior do país também houve protestos. No estado de Falcón, manifestantes contrários à declaração do CNE derrubaram uma estátua de Hugo Chávez, antecessor de Maduro morto em 2013.

A situação tem o potencial de escalar. Maduro afirma que os protestos fazem parte de uma tentativa de golpe de Estado "de caráter fascista e contrarrevolucionário", e o regime convocou para terça "uma grande marcha em direção a Miraflores", o palácio presidencial, "para defender a paz".

Enquanto isso, Machado e González convocaram "assembleias cidadãs" em diferentes cidades, sem dar mais detalhes. Mas o embaixador, que conseguiu angariar popularidade prometendo diálogo e uma transição pacífica, tentou marcar distância dos protestos. "Há muita indignação e entendemos isso, mas temos que manter a calma, a serenidade, até alcançarmos a vitória", afirmou à imprensa.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, que nas últimas horas passou a publicar nas redes sociais vídeos de confrontos nas ruas e imagens de jovens detidos, afirmou nesta segunda que convocar atos para contestar os resultados oficiais pode render prisão.

"Vimos com preocupação a falta de reconhecimento do resultado por um setor radical com um longo histórico de chamados à violência", afirmou ele. "Em defesa da paz, informamos que nossa instituição estará monitorando qualquer ato que pretenda iniciar uma escalada de violência para manchar a festa democrática que vivemos."

(AFP e Folhapress)