Quase um ano depois do início da guerra de Israel contra o Hamas, mais uma fase do conflito aumenta o risco de criar uma “nova Faixa de Gaza” no Líbano, com centenas de mortes e dezenas de milhares de deslocamentos no país. Do Brasil, a Fundação Libanesa de Minas Gerais (Fuliban) acompanha o desenrolar do conflito com apreensão e apelos de paz.

“O Hezbollah não é o Líbano e não fala por ele”, introduz o presidente da entidade, Frederico Aburachid. “Vemos com muita preocupação essa escalada dos ataques de Israel e as respostas que o Hezbollah dá a eles. Infelizmente, a forma de essas lideranças buscarem uma solução para esses conflitos é por meio da luta armada. Já vimos que isso não funciona. Gera mais tensão, mais ódio, atinge mais pessoas inocentes. O Líbano é um Estado soberano e deve ser respeitado como tal. É um temor [que o Líbano se torne uma nova Faixa de Gaza]”.

O Hezbollah é uma organização muçulmana xiita com influência política e militar no Líbano. Como o grupo palestino Hamas, com o qual Israel está em guerra, ele tem apoio direto do Irã, maior inimigo de Israel e dos EUA no Oriente Médio.

Os ataques de Israel contra o Hezbollah se intensificaram nesta semana e miram áreas residenciais do Líbano — onde, segundo as forças israelenses, o grupo esconde armamentos. Após a onda de explosões de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah, agora os israelenses bombardeiam diretamente o território do país vizinho. Em dois dias, até essa terça-feira (24/09), a ofensiva matou 569 pessoas; dentre elas, 50 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Líbano. Os ataques no sul do país, mais próximo de Israel, obrigam milhares de civis a deixar suas casas em fuga para o norte. Em contrapartida, o Hezbollah lançou um míssil contra Tel Aviv, em Israel, pela primeira vez.

“Israel tem sua justificativa, mas eu não acredito que esse seja o caminho para resolver a questão, ainda mais de forma duradoura. É preciso encontrar uma solução pacífica para essa discussão”, continua Aburachid. Na Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente dos EUA, Joe Biden, citou o risco de uma guerra total na região — um conflito com uso de todas as forças militares dos envolvidos para derrubar o adversário.

Para o presidente da Fuliban, o cenário mais preocupante seria o de uma incursão terrestre das forças israelenses no Líbano. “O Líbano é um país democrático. Imagine Israel se opondo ao poder estatal e à soberania do Líbano sob a justificativa de combater o Hezbollah, ocupando o território libanês e ditando as regras. Isso é inadmissível. Seria a mesma coisa de um país vizinho ocupar as terras do Brasil por se opor a um grupo presente em determinada região. O Líbano não tem força militar que possa se opor ao exército israelense”, conclui ele.