A Argentina solicitou ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo de 20 bilhões de dólares (cerca de R$ 115 bilhões), um montante não confirmado pelo organismo, anunciou o ministro da Economia, Luis Caputo, nesta quinta-feira (27), em um momento em que o país sofre forte pressão cambiária sobre sua moeda, o peso.

Caputo informou que, além disso, a Argentina negocia "um pacote adicional de livre disponibilidade" com outros organismos, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para fortalecer suas reservas.

O programa, cujos detalhes são reservados, "de nenhuma maneira" inclui uma desvalorização do peso, respondeu posteriormente o presidente argentino, Javier Milei, em declarações à Rádio El Observador. "Aqui faltam pesos, não faltam dólares", disse, apesar dos múltiplos pedidos de ajuda externa.

O governo tenta atenuar as incertezas sobre as eventuais exigências do FMI para eliminar os controles cambiários ou a possível adoção de uma flutuação administrada do peso.

Na última semana, os investimentos no mercado de câmbio representaram uma sangria das reservas de mais de 1,2 bilhão de dólares (cerca de R$ 7 bilhões). O Banco Central informou que tem reservas no valor de 26,42 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 151 bilhões).

Por enquanto, o FMI se recusou a confirmar o montante do acordo com a Argentina, e esclareceu que os desembolsos serão feitos "em partes".

"Simplesmente posso confirmar que o montante do pacote final para a Argentina será determinado pela direção-executiva e que as negociações apontam que será um pacote de financiamento considerável", disse a porta-voz do FMI, Julie Kozack.

Caputo relatou que, durante uma conversa na quarta-feira com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, ele lhe disse que divulgaria o montante.

"Disse-lhe que, como podem faltar algumas semanas para convocar o 'board' [diretoria], e levando em conta que os boatos o que mais tentam" é desestabilizar, "pelo menos seria bom poder dizer o montante que foi acordado", e que será submetido à votação da diretoria, detalhou o ministro.

"Tentativa de desestabilização"

O Fundo elogiou que, "apesar do drástico ajuste macroeconômico" adotado pelo governo argentino, "a atividade está se recuperando com força, os salários reais estão aumentando e a pobreza está diminuindo".

No entanto, o FMI considerou que "chegou o momento de avançar para as etapas seguintes".

"Existe um reconhecimento compartilhado sobre a necessidade de continuar adotando um conjunto coerente de políticas fiscais, monetárias e cambiárias, ao mesmo tempo em que se fomenta e aprofunda o crescimento e se potencializam as reformas", acrescentou a porta-voz.

O novo empréstimo se somará ao acordo assinado em 2018, ainda vigente, de 44 bilhões de dólares (cerca de R$ 170 bilhões, em valores da época), que representou o maior endividamento do país com o FMI.

O ministro considerou que a corrida contra o peso não se explica pela fragilidade das reservas do Banco Central, mas por uma "tentativa de desestabilização contra o governo do presidente Javier Milei", por trás da qual estaria - segundo ele - "a oposição".

Os protestos semanais que os aposentados fazem em frente ao Congresso, pedindo o aumento de seus benefícios, contaram recentemente com o apoio de sindicatos, torcidas de futebol e organizações sociais, em manifestações multitudinárias duramente reprimidas pela Polícia.

Além disso, a principal central operária, CGT, convocou uma greve geral para 10 de abril para repudiar a repressão e a política de ajustes do governo.

"Recapitalizar" o Banco Central

Quanto ao destino dos novos recursos, Caputo assegurou que "não vão ser para financiar gastos, mas para recapitalizar o ativo do Banco Central".

"Quando a gente vê as reservas brutas e soma o que vem [do FMI], estas reservas vão subir para cerca de 50 bilhões de dólares [R$ 287 bilhões]", disse Caputo em uma conferência sobre seguros.

A pressão sobre o peso e sua eventual transferência para os preços representa um risco para o governo Milei, que fez do controle da inflação seu principal feito, ao reduzi-la de 211% em 2023 para 118% no ano passado, ainda que às custas de uma severa política de austeridade fiscal, que tem como efeito colateral uma recessão econômica com 14 meses seguidos de queda no consumo.

Manter a inflação sob controle é seu principal capital político, enquanto se aproxima o início da campanha eleitoral para as legislativas de meio de mandato, em outubro, nas quais a situação, sem maioria no Congresso, tentará aumentar sua bancada.

Na Argentina convivem cinco taxas de cotação do dólar, com um florescente mercado paralelo, no qual a divisa chamada 'blue' foi cotada na quarta-feira acima dos 1.300 pesos, enquanto no câmbio oficial, estava a 1.091 pesos - a maior diferença em mais de seis meses.