Sobreviventes solicitaram ao Vaticano uma investigação sobre o cardeal Robert Prevost, agora papa Leão XIV, por seu manejo de casos de abuso sexual clerical. A solicitação, feita em 25 de março, antes do Conclave que o escolheu para substituir papa Francisco no cargo, foi direcionada ao Secretariado de Estado da Santa Sé e a outros três dicastérios.

O pedido baseia-se nas normas de responsabilização estabelecidas por Francisco na Carta Apostólica "Vos Estis Lux Mundi". Shaun Dougherty, presidente da Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres (SNAP), submeteu a documentação. Ele alega que as ações ou omissões de Prevost, tanto como provincial dos Agostinianos em Chicago quanto como bispo em Chiclayo, Peru, poderiam ter interferido nas investigações sobre abuso.

Um caso citado envolve James Ray, laicizado em 2012 após acusações de abuso contra menores. Sob a autoridade de Prevost, Ray foi permitido residir próximo a uma escola primária em Chicago, sem que a administração fosse informada de seu histórico.

No Peru, as acusações focam em Eleuterio Vásquez Gonzáles e Ricardo Yesquen, acusados de abusar de menores. Ana María Quispe Díaz, uma das supostas vítimas, acusou publicamente os dois padres de terem a abusado desde os 9 anos.

Três vítimas contataram Prevost em abril de 2022, mas, segundo elas, não foram convidadas a testemunhar ou receber suporte psicológico. A Diocese de Chiclayo reportou as alegações ao Dicastério para a Doutrina da Fé, mas a investigação canônica foi encerrada em agosto de 2023, após a investigação civil ser arquivada por prescrição.

A SNAP argumenta que a investigação foi comprometida pela falta de evidências, que poderiam ter sido obtidas se Prevost tivesse iniciado uma investigação prontamente. Ainda, a organização aponta supostas deturpações em comunicações diocesanas, com os padres acusados continuando a celebrar missas públicas. Fotografias e capturas de tela de mídias sociais foram apresentadas como evidência.

Dada a posição de Prevost no Vaticano, a SNAP enfatiza a necessidade de um processo imparcial e transparente. A organização declarou: *"Como estamos solicitando que ele mesmo seja submetido a uma investigação, não apenas essa investigação deve ser supervisionada por outras autoridades, mas é ainda mais urgente que uma investigação seja conduzida com os resultados tornados públicos."

Quem é o novo papa

Nascido em Chicago, em uma família com raízes francesas, Robert Francis Prevost possui formação em Direito Canônico. O religioso domina espanhol, português, italiano e francês, e demonstrou especial atenção aos marginalizados e migrantes durante sua atuação no Peru, postura alinhada com os valores promovidos por seu antecessor.

Em 2023, Francisco o chamou para servir em Roma. Como prefeito do Dicastério para os Bispos, Prevost nomeou centenas de prelados, formando uma geração de religiosos descritos "como Francisco", com perfil aberto e progressista. Apesar disso, construiu reputação de cardeal reservado e equilibrado.