O conflito entre Israel e o Irã entrou no seu sexto dia nesta quarta-feira (18). Com a escalada de bombardeios e ameaças, o embate já dá sinais de caminhar para uma "guerra total".
GUERRA TOTAL X GUERRA MUNDIAL
A guerra total ocorre quando há o emprego de todos os meios possíveis de destruição, bem como ataques a infraestruturas civis. "Estradas, fábricas, hospitais, tudo passaria a ser considerado alvo legítimo, à revelia do Direito Internacional Humanitário", afirmou o professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais da UnB, ao UOL.
Há relatos de danos a alvos civis por ambos os lados. Desde sexta-feira, 585 mortes foram registradas no lado iraniano. O número inclui comandantes da Guarda Revolucionária e do Estado-Maior do Exército, além de nove cientistas do programa nuclear. Porém, 40% dos mortos seriam civis, segundo a ONG norte-americana Human Rights Activists.
Do lado israelense, 24 mortes foram contabilizadas. De acordo com o Ministério da Saúde de Israel, pelo menos 94 feridos deram entrada em hospitais na noite desta terça-feira (17) após ataques iranianos.
Para o conflito ser considerado uma guerra mundial, a maioria dos países reconhecidos como soberanos, em diferentes continentes, precisariam se envolver. Na 1ª e 2ª Guerra Mundial, o conceito foi usado "de forma 'frouxa'", explicou Rocha, "já que os países envolvidos tinham colônias na África, na Ásia e nas Américas". Na América do Sul, por exemplo, só o Brasil participou ativamente da 2ª Guerra, lembrou o professor.
"O conceito não é preciso, portanto. Apenas uma hipérbole que indica um conflito de grandes proporções envolvendo atores dispersos geograficamente no mundo", disse o professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais da UnB.
FALAS DE TRUMP E AIATOLÁ INDICAM QUE OS DOIS LADOS NÃO POUPARÃO ESFORÇOS
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse nesta quarta-feira (18) que seu país não vai se render. O discurso televisionado foi em resposta direta a um ultimato feito nesta terça-feira (17) pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Trump afirmou, em sua rede social, que sabe exatamente onde está Khamenei e o ameaçou, dizendo que ele é um alvo fácil. Na sequência, o presidente norte-americano acrescentou que o líder supremo iraniano está seguro, "pelo menos por enquanto", e ordenou sua "rendição incondicional".
Antes, Trump informou que o espaço aéreo do Irã já está sob total controle. Na segunda-feira, os EUA enviaram dois porta-aviões ao Oriente Médio, em um recado direto de que está com Israel no conflito.
"Iranianos não respondem bem à linguagem da ameaça", respondeu o aiatolá. O líder supremo também afirmou que Israel vai ser "punido pelos seus erros" e que não aceitaria qualquer imposição de guerra ou de paz.
Para Rocha, a troca de ameaças é um indicativo de que a região caminha para uma guerra total. "No limite, o recurso a armas nucleares também estaria sobre a mesa, em princípio, como ameaça", já que os países afirmam aderir ao princípio de não empregá-las primeiro ("no first use"), disse o professor.
Na sexta-feira, Israel bombardeou o Irã sob a justificativa de "prevenir um holocausto nuclear". Dezenas de instalações nucleares e militares iranianas têm sido os principais alvos israelenses. Tel Aviv, porém, é o único que possui bombas nucleares no Oriente Médio.
POSSIBILIDADE DE GUERRA MUNDIAL ESTÁ NA MESA
No momento, o conflito está concentrado no Oriente Médio, mas pode se estender, segundo o especialista consultado pelo UOL. "A chave estará nas implicações econômicas das ações militares", avaliou Rocha, em referência ao possível fechamento do Golfo Pérsico pelo Irã. Local é passagem de navios de carga, incluindo petroleiros.Só pelo Estreito de Ormuz, passam até 25% do petróleo comercializado no mundo. A carga pertence a países como o próprio Irã, a Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes, Kuwait e Iraque.
Cerca de 80% do petróleo que passa por Ormuz vão para a Ásia. Rocha ressaltou que a economia desses países sofreria uma "crise imediata se houver uma suspensão do tráfego, com implicações instantâneas para as cadeias globais de produção".
A participação direta dos EUA nos campo de batalha também pode levar a uma guerra mundial. Khamenei avisou para as consequências de uma possível intervenção em seu discurso.
"Os americanos têm que saber que qualquer intervenção militar dos Estados Unidos vai ter consequências sérias e irreparáveis", disse o aiatolá Ali Khamenei. (FERNANDA BASSI)