A fragilidade do cessar-fogo entre Israel e Irã e as tensões no Oriente Médio em geral devem desfalcar a cúpula do Brics em ao menos mais um chefe de Estado, além das ausências já confirmadas do chinês Xi Jinping e do russo Vladimir Putin.

O general que comanda o Egito, Abdel Fattah al-Sisi, desistiu de viajar ao Rio de Janeiro por causa da escalada das tensões na região.

Al-Sisi era um dos visitantes mais importantes da reunião do Brics deste ano. O plano original do governo Lula (PT) era que ele viajasse a Brasília após o encontro no Rio para uma visita oficial ao petista no Palácio do Planalto.

Além dos desfalques já conhecidos, outros dois convidados especiais do presidente Lula não devem comparecer. Os presidentes da Turquia, Recep Erdogan, e do México, Claudia Sheinbaum, decidiram enviar representantes.

A crise no Oriente Médio pode ainda ter impacto sobre as delegações de outras nações. Segundo uma autoridade do governo brasileiro, ainda não se sabe qual será o nível de representação de países como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, além do próprio Irã. Os países ainda não deixaram claro se enviarão chefes de Estado ou governo, ou funcionários de escalão inferior.

No caso dos sauditas, uma representação de nível inferior já era esperada. O país governado na prática pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman foi convidado a se incorporar ao Brics em 2023, mas nunca respondeu oficialmente. Desde então, a monarquia tem participado das reuniões, mas quase nunca se manifesta. Na cúpula de 2024, em Kazan (Rússia), o chefe da delegação foi o chanceler, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud.

Já os Emirados Árabes Unidos podem repetir a fórmula usada na reunião do G20 do ano passado, também no Rio. Na ocasião, o representante escalado foi o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, xeque Khaled bin Mohamed bin Zayed Al Nahyan. Ele é filho do presidente do país, xeque Mohammed Bin Zayed Al Nahyan.

Segundo a autoridade do governo brasileiro ouvida pela Folha, será perfeitamente compreensível se alguns líderes do Oriente Médio não forem ao Rio, devido à instabilidade. Não se espera que o Irã informe os integrantes de sua delegação até o último minuto, por motivos de segurança.

Em declaração a jornalistas na quinta (26), o embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam, não confirmou a presença do presidente deu seu país, Masoud Pezeshkian.

De acordo com o governo Lula, dos 28 países membros, parceiros e convidados que foram chamados para a cúpula que se realiza no Rio de Janeiro de 6 e 7 de julho, cerca de 20 confirmaram que irão mandar o mais alto nível de representação.

Parceiros importantes do Brasil, porém, não estão na lista. A China, por exemplo, vai enviar seu primeiro-ministro, Li Qiang, para participar.

Putin, da Rússia, tampouco irá ao Rio na semana que vem —um mandado de prisão do TPI (Tribunal Penal Internacional) contra o líder pela guerra da Ucrânia e a deportação de crianças do país vizinho colocaria o Brasil, que tem o dever cumprir a ordem de detenção da corte, em uma saia justa.

Mas um assessor de Putin, Yuri Ushakov, afirmou à mídia russa que o chefe de Estado fará uma intervenção por vídeo. O governo brasileiro não confirmou a participação remota, mas disse que não teria objeções, inclusive por reciprocidade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou por vídeo da cúpula dos Brics em Kazan, na Rússia, no ano passado, porque havia sofrido acidente doméstico em que fez um corte na cabeça.

Além dos membros do Brics, o governo Lula enviou alguns convites especiais da presidência. Além de Erdogan e de Sheinbaum, foram chamados os líderes do Uruguai, Yamandú Orsi, do Chile, Gabriel Boric e da Colômbia, Gustavo Petro. A previsão é que esses governantes sul-americanos compareçam.

O caso da relação da Turquia com o Brics é especialmente sensível. O país, que é membro da Otan, a aliança militar do Ocidente, havia solicitado entrada como integrante pleno do Brics, mas acabou frustrado por ter recebido um convite para um status inferior, de parceiro.

Hoje, além do Brasil, são membros plenos do Brics Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Irã e Arábia Saudita.

O Brics tem ainda uma lista de nações parceiras. São elas: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.