O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou, na sexta-feira (18/7), um processo por difamação contra o Wall Street Journal e seu proprietário Rupert Murdoch, no qual reivindica ao menos US$ 10 bilhões (R$ 55 bilhões) por um artigo que atribui ao magnata republicano uma carta obscena dirigida ao criminoso sexual Jeffrey Epstein.

O processo por difamação, apresentado no Tribunal Federal do Distrito Sul da Flórida, em Miami, é uma tentativa do republicano de 79 anos de se contrapor a um escândalo que ameaça lhe causar sérios danos políticos.

"Acabamos de entrar com um processo PODEROSO contra todos os envolvidos na publicação do falso, malicioso, difamatório, artigo de FAKE NEWS no inútil 'jornalzinho' que é, The Wall Street Journal", escreveu Trump em sua rede, Truth Social, na noite de sexta-feira.

Na quinta-feira, o WSJ publicou um artigo explosivo que atribui a Trump uma carta com conteúdo obsceno supostamente enviada a Epstein por seu 50º aniversário em 2003, quando o presidente era um magnata do setor imobiliário.

O processo, que também cita dois repórteres e a empresa de Murdoch, News Corp., como réus, afirma que nenhuma carta desse tipo existe e que o WSJ pretendia difamar Trump com um artigo que já foi visualizado por centenas de milhões de pessoas.

"O dano financeiro e reputacional esmagador sofrido pelo Presidente Trump continuará a se multiplicar", diz a ação.

O presidente também solicitou à procuradora-geral Pam Bondi que tornasse públicos todos os depoimentos "relevantes" do processo judicial relacionado a Epstein, encontrado morto em sua cela em 2019 antes do julgamento.

Nesta sexta, o Departamento de Justiça pediu a um tribunal federal que autorizasse a publicação de documentos judiciais que levaram à acusação de Epstein em 2019 por tráfico sexual de menores.

Mas esses documentos "se referirão apenas a Epstein e [Ghislaine] Maxwell", sua ex-amante já condenada, e não a outras pessoas, comentou Daniel Goldman, congressista democrata e ex-procurador federal, na rede social X.

Quando perguntado nesta sexta na Casa Branca se planeja solicitar a publicação de outros documentos do caso, Trump não respondeu.

O presidente norte-americano está em apuros há mais de uma semana. Alguns de seus apoiadores acusam o seu governo de tentar silenciar esse caso muito rapidamente.

A resposta do Wall Street Journal

O Wall Street Journal anunciou que se defenderá "vigorosamente" após o processo por difamação apresentado pelo presidente americano Donald Trump pela publicação do artigo.

"Temos plena confiança no rigor e na precisão de nosso trabalho jornalístico e nos defenderemos vigorosamente contra qualquer ação", disse um porta-voz do Dow Jones, o grupo proprietário do jornal americano, que faz parte do conglomerado de mídia do magnata Rupert Murdoch.

Trump chama próprios seguidores de estúpidos

A morte de Epstein, encontrado enforcado em sua cela, alimentou numerosas teorias não verificadas de que ele teria sido assassinado para evitar revelações sobre pessoas poderosas e ricas.

Em 2008, ele foi condenado a uma curta pena de prisão após se declarar culpado de ter contratado os serviços de prostitutas, incluindo uma menor de idade.

Figuras ligadas ao movimento "Torne os Estados Unidos Grandes Outra Vez", mais conhecido pela sigla em inglês MAGA, fazem campanha há anos pela divulgação de uma suposta lista secreta de clientes de Jeffrey Epstein.

Mas, há cerca de dez dias, o Departamento de Justiça e o FBI, a polícia federal americana, publicaram um relatório conjunto afirmando que não há provas da existência dessa suposta lista nem de chantagens.

Esses comunicados provocaram uma enxurrada de mensagens indignadas de contas MAGA nas redes sociais, que irritaram Trump.

O presidente republicano chamou parte de seus apoiadores de "estúpidos" e lhes pediu que superassem o assunto.

O desenho da mulher nua ligado a Trump

Nesse contexto, o artigo publicado na noite de quinta-feira pelo Wall Street Journal reacende a polêmica.

O jornal afirma que, em 2003, por ocasião do aniversário do financista, a ex-amante de Epstein, Ghislaine Maxwell, solicitou a colaboração de dezenas de amigos próximos, incluindo Donald Trump.

A carta, redigida em nome de Trump, inclui várias linhas de texto datilografado dentro do contorno de uma mulher nua desenhada com marcador, e com a assinatura "Donald" no lugar dos pelos pubianos, segundo o jornal.

A carta termina com "feliz aniversário, e que cada dia seja outro maravilhoso segredo", segundo o Wall Street Journal, que diz ter revisado o texto, mas não reproduziu o documento. Trump não demorou a qualificar o artigo como "falso, malicioso e difamatório".